Poesia Quase Todo Dia

o rio de janeiro não é tão bonito assim


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este é “asinino”, um poema que escrevi este ano, em 2025. espero que goste.

— o rio de janeiro não é tão bonito assim

você é maluco
você tem um pau do tamanho do mundo
mas não é tão inteligente quanto pensa
ninguém me come com as mãos
como você me come com os olhos
eu triste irresoluto
e no teu colo sou um cavalo de fogo
um jóquei um caubói desmemoriado
transmutado em burro
queria ter mais dentes na boca
queria que da saliva se fizesse o látex
e então transpor limites como quem
desvia um rio tão grande que abarcaria
uma depressão a que chamam chapada
mas que aqui tem outro nome
o sol roda ao redor de si aprendi
e isso é o melhor que me vem em mente
ao ter que descrever como orbito
essas ideias
suas mãos sujas
e a sarjeta da nossa senhora que tanto
me abriu as pernas como
uma puta que me convida ao útero
e nós a gente é o quê?
somos a cidade e a falta
as cornucópias a pedra sabão as ladeiras
e em outras vidas seremos o mar árido
de dois mil e cinquenta
estou deitado como estive deitado
a vida inteira
à espera
com medo e desejo
carregando a vontade de viver o novo
e eu e você somos o quê?
cordeiros imolados
a prole de cassiopeia
uma peça vintage no fin de siècle
as marcas de corte nos meus dedos
foram todas feitas por besteiras
por buchas ensaboadas
raladores
maçanetas
janelas volantes
finas folhas de papel
mas a todos direi que nada aqui é
fruto do acaso
não
direi que meu corpo é
inteiro premeditado
e que essas mãos rasguei
tentando



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Poesia Quase Todo DiaBy Eduardo Furbino