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O TAPETE DE MESTRE


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Por Adriano Medeiros
1 INTRODUÇÃO
Nos dias atuais a maçonaria apresenta algumas questões relevantes, em alguns ritos (não é o caso do York) as lojas apresentam painéis que ficam dispostos quando a loja é aberta para os trabalhos, usando um para cada grau, indicando em qual situação será a reunião, mas nem sempre foi assim, em algum momento do passado maçônico os oficiais de loja tinham que desenhar as informações no chão da loja.
Devemos entender que o painel ou ainda, tapete ou o quadro de um referido grau fica no centro da loja e deve apresentar expressões gráficas que são simbolismos para o estudo dos maçons, ali estão contidas as informações que devem ser analisadas e interpretadas como alegorias simbólicas e filosóficas para o aperfeiçoamento.
É da formação das lojas na Inglaterra que advém o uso de tapetes, o rito York em sua origem trabalhava com um tapete, disposto para o grau de Mestre deveria ser colocado em um cavalete, moldura ou ainda aberto no chão da sala de loja para que ali os maçons pudessem fazer o estudo e apresentar as instruções para os iniciados.
Não existe uma comprovação que durante o período operativo da maçonaria existia um sistema de instrução para que os aprendizes recebessem o estudo desta forma, afinal as oficinas primavam pela metodologia empírica, por este motivo podemos evidenciar que tal proposta é uma prerrogativa da maçonaria especulativa.
Se para o aprendiz não tinha uma formação parecida para o estudo, algumas teorias evidenciam que durante os trabalhos no canteiro de obras os maçons mais antigos (Mestres) aplicavam uma conversa entre eles para estabelecer a conduta de construção nos trabalhos, usando a prancha de delinear nas reuniões e ainda riscando no chão as informações que depois deveriam ser apagadas.
A ideia aqui é entender um pouco desta origem e também destacar como uma característica marcante do rito York (o tapete de mestre) não é mais aplicada, também veremos os motivos de não se instituir neste rito o uso de painéis em sala de loja para a instrução do aprendiz, apresentando uma explicação racional sobre a questão.
2. O TAPETE
Segundo um PUSCH (2017) o painel da loja é um quadro ao centro do tempo, contendo uma alegoria com os diversos símbolos do aprendiz e que diz o grau em que se desenrola a sessão, mas podemos entender também que nem sempre foi assim, afinal originalmente os maçons se reuniam em locais como sótãos, casas de irmãos ou ainda em salas arranjadas no fundo de tavernas, tudo para manter o sigilo exigido pelos trabalhos.
Como não tinham como organizar e deixar dispostos os elementos maçônicos, ferramentas, mobiliário, era comum o uso de desenhos que deveriam aplicar no chão da loja, feito com carvão ou giz para depois ser apagados e então ao encerrar os trabalhos não ficariam vestígios dos estudos ali praticados.
Depois de um pouco mais de tempo, desenhar com giz ou carvão e apagar já começou a dar trabalho demais eu sou natural das coisas, por que não desenharmos os símbolos em um tapete? Desenrolamos para a sessão e, findada esta, enrolamos e vamos embora. Perfeito! E assim foi feito. Logo depois alguns ritos migraram para uma versão menor dos tapetes, com as alegorias pintadas em madeira: os famosos painéis. (CÂNDIDO, 2016. Pág. 60)]
A maçonaria desenvolvida pelos maçons aceitos aplicou uma certa praticidade para o estudo, na medida que iam organizando locais próprios para as suas reuniões, isto permitia que alguns elementos fossem desenvolvidos e colocados de forma fixa em salas onde os irmãos iriam se reunir com uma certa regularidade.
Mas podemos também evidenciar que em alguns países como na Escócia não se tem indicação que a maçonaria especulativa mais antiga (1696-1715) usasse desde sua formação painéis, sendo assim este é mais um ponto de debate que persiste sobre o uso de tal elemento.
Mas sim podemos encontrar narrativas sobre uso de painéis apenas no final da década de 1730 e no início da década de 1740, na França assim como na Inglaterra, onde a maçonaria especulativa já ganhava força e tinha como princípio norteador o estudo de símbolos e elementos filosóficos para o andamento dos trabalhos com os irmãos que eram aceitos.
Na Inglaterra a questão de rivalidade entre os chamados “antigos e modernos” também aparece no uso de painéis em lojas, para os antigos o estudo não deveria ser aplicado com uso de imagens, palavras ou qualquer subterfugio que pudesse romper com o juramento de silêncio ou que ainda tivesse a característica de revelação sobre a ritualística.
Os ditos modernos entendiam que deveriam ser aplicados tais estudos e que o painel em loja era essencial para que o iniciado pudesse compreender o que estava sendo desenvolvido como instrução, da União das lojas em 1813 acabam mantendo o painel dos Modernos, mas não no centro da loja, deveria ser colocado de pé contra o triângulo do Segundo Vigilante.
Quando a Maçonaria passou a ser formada por homens aceitos, não mais pedreiros de ofício, a alegoria em torno das ferramentas de trabalho foi criada e aperfeiçoada, e estes instrumentos passaram a ser sinônimo de conduta e moralidade. Logo, para que os maçons aceitos pudessem projetar e planejar o curso dos seus trabalhos interiores, era essencial que essas ferramentas estivesse ali para ilustrar os princípios gerais da ordem. (CÂNDIDO, 2016. Pág. 59)
Iniciando assim com uma razoável orientação de trabalhos filosóficos os maçons passam a usar elementos que poderiam ser colocados nas salas de lojas, não somente na Inglaterra mas na França também, desde o século XVIII, existem indicações que as sessões ocorriam em torno de uma alegoria colocada sobre um cavalete e ali então ocorria o período de instruções para todos os irmãos que se encontravam na loja.
A chamada “arte do traço” foi sendo deixada de lado, desenhar símbolos ou elementos era importante, mas com a construção de tapetes ou desenhos que poderiam ser resguardados dos olhares profanos permitia uma certa praticidade que era importante para os irmãos, por este motivo se desenvolve a questão de painéis.
Em 1744 o “Catéchisme des franc-maçons “de Leonard Gabanon (pseudónimo de Louis Travenol) para além de incluir reproduções de um “Plano da Loja para a recepção de um Aprendiz-Companheiro” e, de um “Plano de Loja para a recepção de um Mestre” apresenta uma série de gravuras, que ilustram a realização das cerimônias de iniciação e, de exaltação, confirmando a descrição de Herault. (SANTOS, 2020)
Fácil entender que tais quadros primavam pelo estudo operativo, mesmo sendo já uma maçonaria especulativa, o objetivo era justamente lançar um saber que seria indexado ao sistema mais antigo onde ferramentas, construções, atividades ou alegorias diversas deveriam ser instituídas para um maçom saber fazer a ligação dos tempos operativos com a maçonaria especulativa que se formava.
Cada painel era um arquétipo, uma construção única, pois cada loja desenvolvia sua instrução de forma que os trabalhadores daquela oficina tivessem uma instrução positiva e com muita robustez, por este motivo ainda hoje encontramos desenhos em textos mais antigos com toda gama de informação gráfica, não sendo estes painéis uma cópia fidedigna um de outro.
Alguns elementos, de fato, se repetiam, como martelo de corte, régua, prumo, nível, paredes, degraus e outros elementos, mas devemos considerar que advindos da formação operativa, na maçonaria especulativa quando se associava tais elementos, poderiam criar todo tipo de explicação filosófica ou alegórica possível, já que além dos mais básicos elementos poderiam aplicar insígnias de outras formações como o ocultismo e cabala, sendo muito comum, principalmente na França.
3. INSTRUÇÕES NO YORK
Ao se estabelecer tais situações de instruções para os diferentes ritos, podemos notar que no York ou ainda rito americano, existe uma pequena diferença de formação, afinal na atualidade não empregamos cavaletes ou painéis na sala de loja, mas se pode encontrar algumas narrativas marcantes sobre a questão do uso de instruções para os mestres, e geralmente associadas ao trabalho neste rito em especial.
Em casos mais específicos já narrados a loja se situava adjacente à câmara do traçado (tracing house) no chão da qual se traçavam as plantas e os gabaritos, no local era permitido somente a entrada de mestres que trabalhavam nos canteiros de obras, depois de debatidos os planos, tudo era apagado e os líderes de ofício seguiam para o trabalho e assim direcionavam os pedreiros nas suas atividades.
Os painéis ou tracing boards são emblemas a história nos leva indiretamente as pranchetas dos maçons medievais. Dos tempos antigos, os maçons costumavam marcar no chão a forma da loja, desenhando os símbolos e no final de trabalhos tais marcas eram desfeitas ou apagadas. Em documentos datados de 1730 escritos por Prichard, encontramos referências a esse tipo de marcação no chão. (BUCCIERI, 2021. Pág. 207)
Esta pode ser sim uma das justificativas para a aplicação no rito York do chamado tapete de mestre, o aprendiz não recebia suas instruções de forma figurada, ele deveria se basear na construção empírica do estudo onde o mestre aplicava um gabarito, uma peça de modelo e depois o iniciado iria desenvolvendo o trabalho com o objetivo de aperfeiçoamento.
Albert Pike destacava que era de suma importância para o maçom poder fazer a interpretação de elementos, mas devemos lembrar que somente quem tinha passado por todos os processos de estudo mais iniciais poderia então se deter nas regras mais complexas de conhecimento da construção, sendo assim um maçom experiente poderia participar da reunião de instrução em um grau mais teórico e não o iniciado, por evidentes razões.
Não havia Tapetes diferenciados para as Lojas de Aprendiz e de Companheiro. Um único Tapete era utilizado para ambas, porque os dois graus eram geralmente conferidos em uma mesma noite. O Tapete de Mestre era diferente por razões óbvias. (LORENTE, 2018)
Dentro das chamadas Blue Lodge já no século XIX foram criados quadros onde se colocavam na sala de loja, originalmente era no chão, depois passam a colocar na parede para que os irmãos pudessem obter as informações necessárias, alguns elementos eram expostos, podemos citar o Sol, a Lua e as estrelas, a escada de Jacó, o templo do rei Salomão, os pilares, o olho que tudo vê, o quadrado e o compasso, a arca e o arco-íris, a colmeia, 47º Problema de Euclides, Ampulheta Alada, Espada Apontando para um Coração Nu e muitas outras Ferramentas de Trabalho que deveriam ser interpretadas e conhecidas por todos.
4. CONCLUSÃO
Quando o iniciado está em sala de loja ele deve se deter nos elementos aplicados para seu conhecimento, geralmente é o VM que apresenta tais instruções, podendo ser logo no dia da sua iniciação ou em outras reuniões onde os ensinamentos são apresentados, mas devemos ressaltar que este sistema é moderno e que funciona muito bem, sendo que o iniciado deve, hoje em dia, buscar reforçar seu conhecimento com o estudo individual.
Mas nem sempre foi desta forma, a maçonaria operativa tinha sua própria sistemática de ensino e depois foi mudando até organizar uma nova condição já na maçonaria especulativa, no rito York podemos perceber que o uso de painel era uma condição ligada ao mestre maçom, sendo que este teria, teoricamente, os conhecimentos mais aprofundados para tais estudos teóricos, diferente daquele iniciado que se baseava no saber empírico.
Alguns textos de origem inglesa chegam a indicar que o painel de mestre era uma das joias da loja, por este motivo junto da tábua de delinear, somente o VM ou seus oficiais poderiam aplicar estudos mais aprofundados, mesmo que muitos maçons hoje não concordem com tal explicação podemos perceber que se trata de uma teoria interessante do ponto de vista histórico para o entendimento maçônico.
O rito Schröder apresenta até hoje o uso de um painel que é colocado no chão da loja para a abertura dos trabalhos, a explicação para tal atuação é que desde o período mais remoto se usavam tapetes para instruções, especialmente na Inglaterra, No Livro de Atas da Loja "Old King's Arms 28", relata, proposta do VM para que os Irmãos adquirissem a Introdução aos princípios da arquitetura e um tabuleiro de desenhos e Tapete, para uso da Loja.
Podemos então seguir a mesma linha de pensamento e assim entender que o tapete de Mestre no rito York era de emprego comum nas lojas, Albert Mackey descreve em sua enciclopédia que era fácil encontrar painéis de loja com simbologia e também palavras originarias de símbolos hebraicos, possivelmente do estudo da cabala que se faziam em algumas lojas.
Hoje o rito York não aplica mais o uso de painéis em sala de loja, alguns escritores descrevem que neste rito a sala é simples de mobília e de elementos, se comparado aos ritos de origem latina, mas na verdade a praticidade de estudo e também historicamente os locais que faziam reuniões acabavam direcionando para o uso de uma sala sem grande formação de materiais, tendo sempre as ferramentas e o básico para cada reunião.
O tapete de mestre é um costume, possivelmente do trabalho operativo, mas vale uma última lembrança, originalmente e ainda hoje nos EUA, local de onde tiramos as maiores referências para tal rito, não e comum desenvolver reuniões no grau de aprendiz e companheiro, quase sempre no grau de mestre, sendo uma particularidade histórica, sendo desta questão o uso e a relação histórica do chamado tapete de mestre no rito York, afinal sendo as reuniões sempre neste grau seria normal ter um tapete para este e não outros graus nas lojas simbólicas.
5. BIBLIOGRAFIA
SITE: ACESSO EM: 25 de outubro de 2021.
SITE: ACESSO EM: 26 de outubro de 2021.
SITE: ACESSO EM: 27 de outubro de 2021.
SITE: ACESSO EM: 28 de outubro de 2021.
SITE: ACESSO EM: 29 de outubro de 2021.
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Malhete PodcastBy Luiz Sérgio F. Castro