O início da Idade Média no
Ocidente remonta ao momento em que as culturas presentes no território
aceitaram oficialmente, por qualquer meio, a autoridade nominal da Igreja
Católica. A partir desse momento, os dogmas básicos delineados por Santo
Agostinho tornaram-se a norma da ortodoxia. Os ortodoxos chamavam as doutrinas
heterodoxas de "heresias" e, na maioria dos casos, as identificavam
com a obra do diabo. Em contraste, praticamente todos os "heréticos"
se viam como verdadeiros cristãos que defendiam os ensinamentos de Jesus contra
as forças ortodoxas, descritas como malignas.
Os dogmas de Agostinho sobre a
Trindade, Pecado Original, Livre Arbítrio e Graça tornaram-se o teste decisivo
para outras doutrinas. As sementes de muitos movimentos heréticos logo foram
O mais famoso foi o arianismo,
Ário havia sido sacerdote em Alexandria no Egito e havia professado que Jesus
Cristo não era o próprio Deus, mas um homem que se tornou um semideus. Este
ensinamento foi condenado como herético porque negava o dogma da Trindade, a
doutrina de que o Pai e o Espírito Santo são coeternos e iguais. Esta
controvérsia cristológica surge substancialmente de duas palavras gregas usadas
para descrever Cristo: theotetos, "tendo a substância divina" e
theomorphos "ser semelhante a deus".
ensinamentos, Arius tentava preservar a pureza e a simplicidade do monoteísmo.
A elevação ortodoxa de Jesus ao nível de Deus Pai teve duas consequências:
criou uma espécie de duoteísmo (ou triteísmo) e alienou Jesus ainda mais da
humanidade. Como resultado, tornou-se cada vez mais difícil para o crente
cristão ver Jesus como o modelo a seguir para sua própria salvação e, ao mesmo
tempo, aumentou o poder e a presença da igreja institucionalizada na vida
espiritual dos indivíduos. Na Idade Média, um tema como a cristologia tinha
efeitos diretos não apenas na vida espiritual dos indivíduos, mas também nas condições
sociais, políticas e econômicas vigentes.
Outro importante pensador
herético foi Pelágio, que professava que todo homem nasce livre do pecado
original e é responsável por suas próprias ações morais. Herdeiro da cultura
celta, Pelágio empenhou-se sobretudo em aprimorar a prática moral cristã,
muitas vezes negligenciada ainda neste período inicial, em que sempre havia
como escapar da responsabilidade ética. De acordo com Agostinho, a conduta
moral era um sinal da graça de Deus, enquanto a conduta imoral era de alguma
forma "causada pelo diabo"; em ambos os casos, o indivíduo não é
responsável. Pelágio foi condenado pela Igreja e morreu em um local
desconhecido no Oriente Médio.
Os principais expoentes desta
primeira forma de heresia cristã que se converteram ao arianismo foram as
várias tribos germânicas orientais: os ostrogodos, os visigodos, os vândalos,
etc. Seu cristianismo gótico também havia assimilado elementos da religião
nativa germânica; no entanto, foi destruído após uma série de guerras travadas
contra as tribos pelo papa e outros reis entre os séculos VI e VIII.
(Baseado em: Lords of the Left
Hand, de Stephen Flowers).