Memória Capixaba de Fábio Pirajá

Os Surtos de Varíola no Espírito Santo (Sécs. XIX e XX)


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A Luta Contra a Varíola no Espírito Santo:

Origens e Primeiros Surtos:

O documento "Texto colado" revela que o Brasil enfrentou diversos surtos de varíola ao longo de sua história. O primeiro registro data de 1555, no Maranhão, introduzido por colonos franceses. Posteriormente, surtos relacionados ao tráfico de escravos africanos (1560) e à chegada de portugueses (1562-63) evidenciam como a doença se disseminava por diferentes vias.

Século XIX: Conscientização e Primeiras Medidas:

A partir do século XIX, observa-se uma crescente preocupação com a saúde pública e o combate à varíola. Em 1866, o Inspetor da Saúde Pública solicita um relatório detalhado sobre a situação sanitária da província, incluindo informações sobre hospitais, cemitérios, médicos, farmacêuticos e, principalmente, o progresso da vacinação.

Em 1867, o Comissário de Vacinação anuncia publicamente a disponibilidade da vacina para a população, demonstrando a importância que essa prática já adquiria.

1882: Epidemia e Conselhos à População:

A publicação "A Provincia do Espirito-Santo" de 1882 revela a apreensão gerada por um caso de varíola na capital, Vitória. O Dr. Goulart de Souza, Provedor da Saúde Pública, dirige-se à população com uma série de conselhos preventivos, incluindo medidas de higiene pessoal e domiciliar, como:

  • Arejar e limpar as habitações;
  • Evitar aglomerações;
  • Cuidar da higiene das latrinas;
  • Manter uma alimentação saudável;
  • Evitar o consumo excessivo de álcool;
  • Não dormir ao relento.
  • Em caso de epidemia, o Dr. Goulart de Souza reforça a importância do isolamento dos doentes, da desinfecção de ambientes e roupas e da rápida comunicação às autoridades médicas. A vacinação e a revacinação são recomendadas como as principais armas contra a doença.

    Final do Século XIX e Início do Século XX: Intensificação dos Esforços:

    Em 1887, um caso de varíola em Rio Novo gera pânico, levando as autoridades a enviar linfa vacínica e estabelecer um cordão sanitário para conter a propagação.

    A criação da Inspectoría de Higiene Pública em 1886, sob a liderança do Dr. Ernesto Mendo de Andrade e Oliveira, demonstra a crescente organização dos serviços de saúde pública.

    No entanto, o início do século XX ainda é marcado por epidemias. Em 1891, a varíola atinge a capital e outras áreas costeiras. Em 1914, uma epidemia na forma hemorrágica se espalha por todo o estado, agravada pela falta de infraestrutura e medidas sanitárias adequadas.

    Décadas de 1920 e 1930: Enfrentamento e Campanhas de Vacinação:

    A década de 1920 é marcada por novas epidemias, como a de 1921 que atinge diversos estados, incluindo o Espírito Santo. Apesar da gravidade da situação, os esforços da Diretoria de Higiene e do Serviço de Saneamento Rural contribuem para uma taxa de mortalidade relativamente baixa.

    Em 1925, o governo estadual destina recursos para combater a epidemia na capital e no interior, demonstrando o compromisso com a saúde pública.

    Na década de 1930, o Departamento de Higiene implementa campanhas de vacinação domiciliar, intensificando a imunização em escolas, fábricas e outros centros de atividades. A conscientização da população sobre a importância da vacina, especialmente a infantil, torna-se uma prioridade.

    A Era da Erradicação:

    Os documentos revelam que o Espírito Santo continuou enfrentando desafios relacionados à varíola nas décadas seguintes. Em 1935, a Delegacia de Higiene atua no controle de um novo surto, enquanto em 1973 o estado é escolhido como polo de uma campanha nacional de vacinação devido à alta incidência de doenças como a varíola, sarampo e tuberculose.

    Finalmente, em 1971, é registrado o último caso de varíola no Brasil, no Rio de Janeiro. Em 1973, o país recebe o certificado da erradicação da doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), um marco histórico na saúde pública mundial.

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