juventudes, igreja e vocação
pelo menos desde da década de 60 até bem pouco tempo atrás, as juventudes eram acreditadas como uma das principais forças de transformação social existentes. as juventudes provocavam revoluções políticas, estéticas e comportamentais, mudavam radicalmente os horizontes de relacionamentos e os limites morais de suas épocas. considerando esse poder de gerar resistência, contradição, provocação, rebeldia, esse poder de contra-discursividade e de contra-normatividade, esse jeito-jovem de intervir no mundo e, na verdade, de colocá-lo em movimento, os partidos criavam organizações de juventudes, as igrejas criavam organizações de juventudes, as instituições da sociedade civil criavam suas próprias representações jovens: juventude católica, juventude do partido x, juventudes evangélicas, juventudes batistas, metodistas, ecumênicas, enfim…
o que se esperava com isso?
a realização daquele sonho utópico de que os jovens fariam e trariam a transformação da realidade. sonhava-se que as juventudes realizassem todos os seus potenciais de revolução cultural, social e política; que elas não fossem apenas meras repetidoras das crenças cínicas do mundo dos adultos, adultecidos e adulterados na visão. mas, que, pelo menos ali entre eles, se fomentasse um outro mundo (im)possível para o futuro.
o problema é que as juventudes ficaram reacionárias de um tempo para cá!
no brasil, desde 2014, pelo menos, perderam forças ou desapareceram as contra-culturas e todas as formas de contestação e crítica produzidas pelas juventudes?
os jovens viraram anarco-capitalistas, se filiaram ao MBL, foram formados politicamente por um sujeito cujo branding é "Mamãe Falei" ou passaram a adotar um jeito sapatênis de ser gente: neutro e sem graça.
onde estão as bandas de rock, a molecada nova do rap pautando racismo, violência de Estado e desigualdade? onde estão as vocações proféticas das juventudes evangélicas?
tudo parece pairar como que num “grande acordo, com supremo, com juventudes, com tudo” para conservar o Brasil.
pastores jovens com estéticas progressistas se unem aos velhos coronéis da fé para jantarem à mesa do presidente. os grandes ajuntamentos de juventude religiosa no brasil levam governantes fascistas, genocidas, racistas, homofóbicos e sexistas para se pronunciarem do palco e logo em seguida anunciam “avivamento espiritual”. a igreja da “nova geração” se uniu ao pior do “clero religioso das últimas gerações”. o projeto reacionário é o mesmo. eles se amam. tudo muda no branding ministerial, nada muda no ethos político e social.
são os jovens [hoje] os mais reacionários, homofóbicos, racistas e fascistas?
são os jovens [hoje] uma das maiores forças conservadoras do status quo?
são os jovens [hoje] os mais comprometidos com o cinismo e com a falência do sistema?
graças a Deus tem muita gente que tem feito um caminho oposto ao chamado recrusdecimento do fundamentalismo e do fascismo religioso brasileiro. muitos e muitas inclusive estão, tal como o profeta Daniel ou como a juíza Débora, personagens bíblicas, deixando de comer dos “manjares do rei’ para estar entre os que sentem, sofrem, choram, lutam por dignidade humana, pastoreando, cuidando, ensinando, servindo. há gente que ainda vive por amor e pelas transformações que ele pode causar. é o caso do nossos convidad@s nesta próxima série que começa hoje: Juventudes, Igreja e Missão.
nosso primeiro convidado é o jovem pastor Victor Azevedo. corre aí, dá play neste episódio e vem sonhar o futuro junto com a gente!