Por Irmão Samir Cury
O objetivo deste texto é traçar um paralelo sobre alguns pensamentos de Platão com relação à polis grega, a Maçonaria e seus membros, a fim de contribuir de alguma forma para uma reflexão em busca de um autoconhecimento e percepção da relevância do papel do maçom na realidade que o cerca e sobre sua importância no tocante aos ideais pregados pela Ordem.
Para Platão, os seres humanos e a polis possuíam a mesma estrutura. Ao entender que o homem era corpo e alma – está, prisioneira do corpo, era associada ao mundo inteligível e, portanto, racional, ideal e livre. Ao aprisionar-se no corpo, a alma esqueceria tudo de belo e bom que havia contemplado (teoria da reminiscência).
Outro aspecto relativamente pouco comentado é que Platão considerava três almas ou princípios de atividades, a saber:
1) A alma dos desejos ou do apetite, situada nas entranhas ou baixo ventre. Essa alma representaria os desejos carnais e de sobrevivência, relacionados à satisfação do corpo, seja por instinto de sobrevivência ou simplesmente pelos prazeres carnais.
2) A alma irascível, relacionada às emoções ou à cólera, situada no peito, mais precisamente no coração. Está associada às emoções em geral e que por vezes atua no âmbito das agressões com relação aos outros humanos, bem como com o meio ambiente.
3) A alma racional ou do intelecto, situada na cabeça, dedicada ao conhecimento verdadeiro através de método lógico, desenvolvendo assim a inteligência.
Mediante esse enfoque das três almas, podemos fazer um paralelo entre a Maçonaria enquanto instituição e o próprio maçom. A Maçonaria também pode ser composta entre corpo e alma, sendo seu corpo a estrutura organizacional puramente verificada em seus aspectos funcionais, sua estrutura administrativa, que compreende os diversos órgãos, sendo as lojas parte fundamental desse corpo como entidades celulares primordiais.
No entanto, assim como Platão considerava a alma o mundo ideal, onde os conceitos são puros e verdadeiros, a alma da Maçonaria pode ser vista da mesma forma, seus preceitos e seus princípios afirmam todo ideal de uma sociedade justa e perfeita, beirando a utopia.
Relativo ao maçom, sobre as três almas, gostaria de estabelecer aqui outra reflexão sobre os três graus simbólicos:
1) A alma dos desejos ou do apetite, situada nas entranhas ou baixo ventre. O Aprendiz Maçom vai exatamente em busca deste desprendimento do mundo físico, vencendo suas paixões ao desbastar sua pedra bruta. Aquele que souber levar uma vida pautada pela harmonia e equilíbrio, gozando dos prazeres da vida com moderação, se tornará livre de fato e, portanto, não prisioneiro nem refém dos desejos carnais e mundanos
2) A alma irascível, relacionada às emoções ou à cólera, situada no peito, mais precisamente no coração. Aqui se encontra o Companheiro Maçom, que procura desenvolver o controle de suas emoções, principalmente daquelas tomadas por impulso que podem levar a agressões e à perda da confiança e ao distanciamento de uma verdadeira fraternidade, um dos objetivos da Ordem
3) A alma racional ou do intelecto, situada na cabeça. O Mestre Maçom tem por objetivo justamente alcançar a sabedoria pela sabedoria, atingindo nessa fase a plena felicidade por ter vencido as etapas anteriores e por pautar sua vida com racionalidade e pleno domínio sobre as emoções e desejos destrutivos, livrando-se deles.
Outro aspecto relacionado à polis grega, no tocante à estrutura, Platão também a dividia em três grupos de componentes:
1) produtores, artesãos e comerciantes (destaco aqui artesãos);
2) guardiões; e
3) governantes
Os primeiros seriam os que se encarregavam da subsistência, assim como os Aprendizes, são responsáveis por talhar as pedras. Os guardiões, responsáveis pela defesa da polis, seriam os Companheiros, os quais, unidos como devem ser, garantem o processo de evolução e aplainamento da pedra cúbica para que tudo e todos se encaixem perfeitamente na grande obra. Por fim, os governantes são os Mestres na qual