Hoje o tema é a prosperidade comum e a busca da China por frear a desigualdade, seja esta de renda, seja esta entre as regiões do país. E tem alerta para o agro brasileiro também.
Em Beijing, a prosperidade comum é o assunto do momento. O termo apareceu até em comunicado do Banco Popular da China, o banco central do país, que disse que a prosperidade comum será o ponto inicial e foco de todo o trabalho no setor financeiro. Embora sem uma estratégia clara neste sentido, sabe-se que o pilar de se afastar riscos financeiros segue firme e há movimentos para apoio a pequenas e médias empresas.
A expressão prosperidade comum foi proferida ao final do encontro do Comitê Central do Partido Comunista para Assuntos Financeiros e Econômicos, o principal organismo da estrutura chinesa nestes setores na semana passada. A nova diretriz conduzirá a política econômica chinesa nos próximos meses, importantíssimos, posto que em 2022 há o encontro que define os mandatários da China pelos próximos cinco anos. Tudo bem que esteja consolidado que Xi Jinping irá se manter no poder, mas para que isso ocorra com o maior apoio possível, ele precisa agregar simpatia dentro e fora das estruturas do partido, incluindo a população. Ou seja, precisa entregar resultados.
As diretrizes da nova política ainda não estão claramente definidas. Mas deve-se esperar que a sociedade chinesa infle sua classe média, com pouca gente nos extremos de pouca ou muita renda, como se graficamente esta estrutura econômica lembrasse uma azeitona.
Nessa conta tem diminuição da desigualdade regional, e nesta semana o primeiro-ministro Li Keqiang fez uma visita ao nordeste do país, notadamente onde estão as províncias de Jilin, Liaoning e Heilongjiang e que abrigaram o principal hub industrial dos anos maoístas. Entre as ideias para a região, conhecida por muito tempo como o cinturão da ferrugem, está a construção de uma base produtiva de grãos, além de revitalizar a costa para atrair mais negócios com comércio exterior.
Fala-se grãos e o Brasil já entra na conversa. Sim, o país e seus exportadores de grãos para a China precisam se ajustar a novas tendências. A coluna VaiVém das Commodities desta semana, publicada na Folha por Mauro Zafalon, traz uma análise importante sobre o documento China Agricultural Outllook 2021-2030, que traça cenários para a agricultura chinesa nesta década que estamos vivendo. Zafalon ouviu a diretora de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, a CNA, Lígia Dutra. Segundo ela, o cenário projetado para a soja até que é estável, mas o ritmo de compras deixa de crescer nos patamares atuais. Se a China aumentou a importação de soja em 91% na década passada, na atual o incremento não deve chegar a 10%.
Mas para produtores de milho que têm a China como comprador, as notícias são ruins, já que a China quer aumentar a produção interna, e a importação de milho deverá cair para menos da metade do patamar atual. O mesmo se dá para frango e suíno. Segundo Lígia Dutra, as perspectivas são boas para lácteos, frutas, legumes, ovos e pescado, além da carne bovina e açúcar. Como resssalta Zafalon, são apenas tendências, mas vale o agro brasileiro ficar de olho.
Para terminar, um convite: amanhã, 26 de agosto, eu converso com Rafael Cunha de Almeida no canal do Radar China sobre as relações da China e do Afeganistão. Rafael tem mestrado em Defesa e Estratégia na National Defense University de Beijing.