Eleno de Céspedes, o grande cirurgião, prepara-se para casar. A sua vida não foi fácil. Filho de um homem rico e de uma escrava mourisca, conquistou a liberdade, sobreviveu a um casamento de terror, fez-se soldado e finalmente estudou medicina. Para ele, o corpo humano não tinha mistérios: purgava, sangrava e amputava como ninguém, e depressa conquistou a sua reputação e, mais importante ainda, o coração da sua jovem mulher. No entanto, Eleno escondia um segredo: era "hermafrodita", isto é, intersexo. Os seus genitais eram ambíguos, para sempre um meio-termo entre o masculino e o feminino. E quando este facto veio a público, tanto o casamento como a própria vida de Eleno foram postos em causa. Julgado pela Santa Inquisição, Eleno foi forçado a despir-se e a ver o seu corpo exposto, discutido e escrutinado. Padres e juízes analisaram os seus genitais e discutiram a que sexo correspondiam. Será que Eleno foi, na verdade, Elena? E poderá a identidade de alguém ser reduzida apenas ao seu corpo?