Caríssimas, caríssimos e caríssimes. Bom dia, René de Paula Jr, falando em mais um episódio do roda e avisa, e dessa vez sem vídeo, dessa vez só em áudio. Eu estou gravando um domingo de manhã, muito cedo, muito cedo mesmo. E se eu não gravar isso, eu não vou conseguir ter paz ao longo do dia, porque ideias estão caindo na minha cabeça, mais ou menos como bombas estão caindo por aí cada. E cada bomba que cai para mim é a evidência de que a razão tem limites. Nessa racionalidade tivesse, sei lá, alguma capacidade? Área a gente não precisaria de bombas, sobretudo porque cada lado jura de pé junto, que tem mais razão que tua, sua própria razão é sagrada e. O episódio de hoje assombrou o pecado original, já que eu estou falando aqui de razões e de razões e eventualmente crenças e eventualmente fés, né? É, eu quero falar aqui sobre um pecado original da inteligência artificial. Se você tem acompanhado, aí é os os. Não conseguiu escapar, obviamente, de todo o hype, porque ele persegue você mesmo da inteligência artificial. É, está todo mundo aí, sumindo, prometendo, esperando o dia em que a gente terá o que é chamado de AGI, que a inteligência geral artificial, generalizada, ou seja lá o que for, é um tipo de um estágio máximo, como se fosse um Nirvana da inteligência artificial que já está chegando logo ali, não é? E aí eu quero colocar. Um, quero registrar aqui, eu quero fazer isso depois. Por escrito, quero fazer um manifesto, eu quero deixar isso registado, porque eu acho que é importante. É, existe aí uma quinera, existe aí uma falácia, existe aí uma grande confusão com relação ao que é possível atingir em termos de inteligência, né? É curioso porque talvez com muitas dessas pessoas tenham feito exatas. Quem fez exatas, né? Quando chega no final do semestre, tem uma prova cabeludo, o cara coloca aquelas questões medonhas, não é? Seja do que for, tema dinâmica, eu tô lembrando das minhas questões da mecânica, dos fluídos. Um dos meus pesadelos aqui, do meu tempo de engenharia que já passou. É, aliás, só para constar, eu eu sou formado em comunicações, eu desci engenharia para trás, é, e nesse tempo de engenharia era isso. Você tinha aquelas provas simplesmente pavorosas, que deixava todo mundo com dor de barriga e para cada questão tinha uma resposta, só uma. Qualquer desvio disso era um erro. Não é porque em exatas, em matemática, você tem essa essa ideia, não é que. Exista uma solução final, ótima, magnífica, incontestável. Cristalino, como se fosse uma coisa de matemática euclidesiana. Embora. E aí fica aqui 11. Pequena lembrança, embora um certo matemático chamado goodle já tenha provado que é, lamento informar, mas isso é uma ilusão, porque mesmo com a maravilhosa, sensacional, infalível divina matemática, você pode criar enunciados que ninguém sabe se são verdadeiros ou falsos, que você não tem como provar se está certo ou errado. Ou seja, mesmo a matemática, que é o sonho de de perfeição, de universalidade, de. Idade. Ela também tem um calcanhar de Aquiles, né? Mas aí eu saí dessa área de exatas e fui para a área de humanas e fui fazer comunicação, e comunicação é completamente diferente para mim foi uma mudança nossa, uma mudança da água para o vinho ou do vinho para. Eu nem sei. É porque você não tem mais uma resposta única. Quando algum, algum professor se coloca um desafio, não é para você comunicar, para você criar, para você inventar, para você interpretar. Não existe. É o mais certo ou menos errado? Ou é? É. Depende da sua criatividade. As respostas são infinitas e quanto mais inesperada. Para flor não é melhor não é? Quem tiver um repertório diferente pode trazer nossa ângulos que você jamais imaginaria, não é? Então eu saí de um de um universo, de um paradigma, onde você a você, sonhava com respostas universais. E aí para o outro, em que você se regozija com a diversidade das respostas. Eu estou contando essa coisa, essa anedota autobiográfica. Porque eu acho que a gente está caindo em uma armadilha parecida, não é eu. Eu me lembro. E mais uma negota pessoal. Acho que a primeira vez que eu fui para o mtech, mtech é um evento do MIT. Em Boston e eu eu teve uma palestra final com figurão, um figurão. Eu já esqueci o nome do cara, um sobrenome italiano. Era um dos pais do Watson Watson, que para mim é mais uma sensacional citagem. Da da i. BM mas o Watson, que durante algum tempo a gente achava que fosse alguma criatura Sobrenatural divina, não é capaz de responder todas as questões, né? E eu levantei a mão e perguntei, ferrute, acho que é David ferrute, se eu não me engano, vocês me corrijam, por favor, e. Eu perguntei, olha, a gente não está incorrendo no erro aqui, porque se a gente coloca, a gente cria uma entidade que tem nome. Watson tinha nome, ou seja, ele é praticamente um indivíduo, um sujeito. Né? E coloca ele para responder uma resposta que seria. Perfeita e universal a gente não está incorrendo no erro porque, em princípio, questões humanas não tem uma resposta universal, não tem uma resposta única. Eu sei que existem livros sagrados por aí, mas todos eles discordam e todos eles se matam por causa desse sonho de uma resposta que seja definitiva e perfeita. Não é não é? Não é não está errado a gente responder não é um robô responder com uma resposta e achar que essa resposta seja universal. São, eu acho que ele não gostou muito da minha pergunta, é eu, eu, eu, eu também insinuei, porque veja as grandes instituições humanas, elas são democráticas, elas são plurais, né? A ciência não é feita de um cabeção só, de um gênio só, ela é feita de uma metodologia de inúmeros cientistas, não é? É uma coisa muito horizontal, né? A democracia também deveria ser muito horizontal, né? Pelo visto não empolga muita gente, mas deveria ser assim, então porquê? Que a gente está imaginando um oráculo. Que fala em nome isso fala sozinho, como se fosse a única voz possível. Mas isso não. Deveria ter, sei lá, uma resposta que fosse. Olha, a gente tem aqui várias respostas possíveis. A mais provável, talvez a mais satisfatória, segundo esse esse critério seja essa. Agora, se você mudar um pouco a sua expectativa moral, aquela talvez seja melhor. Não? A gente está dando uma resposta única, como se fosse uma prova de. Transferência de calor ou termodinâmica. Né? Ele não gostou, é, desconversou. É, e o evento acabou e. Mas eu continuei com essa pergunta na cabeça. Quem disse que é possível haver alguma resposta universalmente aceitável, né? Ou pelo menos não só universalmente nesse exato momento, mas também que tem alguma validade um pouco mais duradoura quando o assunto são questões humanas. Será que a gente não está justamente é errando? O rumo, né? Ao invés de estar pensando em como aumentar o número de vozes, como ouvir cada vez mais perspectivas, como cada vez trazer mais gente pra mesa, a gente tá querendo é trazer um Buena, né? Como se fosse um super homem branco, como se fosse um novo sacerdote, como se fosse uma nova pitonisa, como se fosse uma grande divindade. A gente tá fazendo um outro Deus e bom, e como que tem vários deuses por aí? Eu não duvido que as próximas guerras mundiais, que como Einstein. Já previu, vão ser feitas com pedaços de pau e Pedra, não é elas não sejam batalhas em torno de qual inteligência artificial você acredita, né? Vai ter os devotos do ChatGPT, vai ter os devotos da da inteligência artificial chinesa. Eu já esqueci o nome, né? Então a gente deve estar rumando nessa direção, numa direção que é justamente o contrário daquilo que a gente precisa, não é? Numa direção que é, é de novo um pensamento mágico. E para mim, o que é, já que para mim, com uma questão de princípio. A inteligência 11, inteligência única, universal e superior EE praticamente divina, é impossível. O que o que vai acontecer e já está acontecendo, é que a gente crie é essas máquinas, esses robôs, que nos enganem tão bem que a gente não seja mais capaz de distinguir ou que a gente não consiga mais validar as respostas. Eu acho que é isso que já está acontecendo cada vez que eu pergunto alguma coisa para o Google Maps ou para o ChatGPT. Como saber se existe uma outra alternativa melhor? Eu tenho que acreditar, vir uma questão de. É, não é? Vira uma questão de fé. E o que vai acabar acontecendo é que simplesmente a gente vai criar, não é 11 entidade que sabe tudo, mas uma entidade que vai nos enganar de uma tal maneira que a gente não vai ter como escapar, né? Desse completo véu de Maia, já que a gente estava falando aqui em emoções um pouco mais budistas, de Nirvana. Então, de repente, o Nirvana da inteligência artificial, nós. Somos nós, imersos no como um mar de ilusões, que a gente não vai ter mais a menor condição de fazer um contra. A ponto, então preparem. Se quem sabe, as essas bombas que estão caindo agora, certamente já devem ter um dedinho aí de inteligência artificial. As próximas bombas ou porretes, ou martelos, ou guilhotinas ou fogueiras, eu acho que vão ser erigidas em nome de enviais diferentes, né? Que lutam entre si para ver quem elas enganam mais por mais tempo. Ufa. Caríssimos, caríssimos e caríssimos, agora eu posso fazer o que eu tenho que fazer aqui. Esse domingo que vai ser um domingo agitado. Cuidem se por favor, um grande abraço e até o próximo episódio imprevisível e intempestivo do roda e avisa, no ar desde 2003.