salva, cura, educa e resiste.
“Ser artista” é um podcast que vai apresentar
a arte que alimenta a alma.
Montenegro recebe neste episódio a atriz, escritora e empresária, Leka Begliomini.
Eu nasci em 1974, em São Paulo
capital. Como toda a minha geração, cresci cercada pelos mais diversos mitos de beleza e sucesso que supervalorizavam a imagem como forma única de poder e
felicidade. E desde muito cedo senti na pele os sofrimentos provocados por transtornos de imagem que, na época, nem nome possuíam. A não conformidade em
me aprisionar diante das dores provocadas por distúrbios como dismorfia, bulimia, compulsão , ansiedade, fez com que , ao longo da vida, eu buscasse todas as formas de amenizar tais síndromes conquistando destaque em lugares de poder que acreditava não serem possíveis sem certos atributos, alternando picos de superprodutividade que justificassem a ausência do depois, investigando as
melhores formas de lidar com esses males fosse lutando contra eles, fosse me entregando e vivendo suas ultimas consequências. E foi depois de fazer parte da
primeira edição do BBB, o maior reality do Brasil, que tive exposta minha bulimia e dismorfia, tendo assim me tornado a primeira pessoa a falar nisso publicamente no pais, em um momento em que pouco tinha a dizer sobre o assunto uma vez que, estar lá, era para mim, acima de tudo, mais uma meta alcançada numa prova pessoal de foco e vontade, mas que buscava respostas em lugares de
poder externo e aceitação.
Anos depois, vendo que a imagem se fez ainda mais
forte com a chegada do universo digital e seus filtros, comecei a sentir a necessidade de expor minha trajetória de muito sucesso profissional, mas de uma
busca pessoal inquieta que não conseguia encontrar paz nas metas atingidas, e que buscava sempre novos lugares de poder cada vez mais inalcançáveis como
forma de provar a mim mesma um valor que nenhum cargo, dinheiro ou posição me trouxe. A tal da auto aceitação.
Atriz e jornalista por formação, empreendedora
por vocação e escritora por paixão, sempre encontrei na escrita minha melhor forma de compreensão das coisas e de mim mesma, e assim escrevi meu primeiro livro, o “Loka, Eu?!?” , com o propósito de trazer reflexões através de uma narrativa bem humorada, a fim de tentar chamar
a atenção das pessoas para o revés que passar a vida a margem da imagem e da aprovação externa pode trazer. Mergulhei por quase 3 anos em estudos e
pesquisas que me fizeram compreender de onde vem esse desejo de perfeição, bem como na cultura e literatura, busquei fatos e narrativas para compreender
melhor minha historia e de tantas outras pessoas que tem parte de suas vidas, potenciais e personalidades roubados pela necessidade (e doença) da perfeição
que, ainda hoje, faz com que milhares de
pessoas se matem, aos poucos, dia após dia, na busca de um suposto enquadramento de padrão, comprometendo irreversivelmente sua saúde física e mental.
Esse livro acabou por abrir as portas de um novo universo, o das palestras, que começaram a acontecer naturalmente e que me fizeram enxergar o quão necessária era a abordagem de certos temas de uma forma didática e engraçada, mas profunda e
transformadora. E hoje, palestrando sobre os mais diversos temas, mas sempre com um foco no nosso poder pessoal, seja no sentido de transformação ou de
superação, percebo que o descontentamento com aquilo que se é diante de um mundo de informações criadas para minar nossos potenciais, fez absolutamente e cada vez mais necessário, dividir essa minha historia loka,
engraçada e cheia de reflexões inadiáveis.