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TEMPERANÇA


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Por Irmão Antônio Binni

A educação moderna está inteiramente voltada para a transmissão de experiências - as chamadas cultura das mãos - e do profissionalismo preparatório para uma futura atividade laboral, pensada como a mais rentável possível.

Pessoalmente, por outro lado, somos profundamente da opinião de que antes de tudo o homem deve ser formado e que, só depois, deve ser enriquecido com habilidades e competências específicas. Um homem habilidoso e competente, mas não treinado, jamais será capaz de argumentar juízos corretos e viver a sociedade em termos plenamente humanos em nome da razão, da tolerância e da evidência histórica.

Daí a nossa constante insistência no aprofundamento das virtudes: um tema central na especulação antiga, completamente ignorado pela filosofia moderna. Talvez porque o mundo moderno tenha esquecido totalmente a virtude e, sobretudo, sua prática. Assim, colocar um argumento tão negligenciado no centro de nossa reflexão acaba inevitavelmente por se resolver em uma referência implícita, mas não menos clara, a ideais e valores que infelizmente hoje se perdem. Quando, pelo contrário, os mesmos são fundamentais, e para uma correta formação do homem e para a vida comum. Nossa atitude, portanto, merece apreciação positiva, também porque se trata de reviver análises muito finas, preciosas, no presente veladas pela poeira que se depositou em bibliotecas infelizmente pouco frequentadas ao longo dos anos.

Depois de ter aprofundado a virtude da prudência, da justiça e, finalmente, da fortaleza, hoje com esta nova escrita pretendemos concentrar todo o nosso foco na temperança. Que, diferentemente da prudência e da justiça, que dizem respeito ao bem comum, como a fortaleza, ao contrário, envolve a dimensão íntima do ser humano, justamente por isso indispensável à ação virtuosa que, como condição indispensável, é a retidão da pessoa.

Por temperança - segundo o sentido comum - entendemos a capacidade de dominar os próprios pensamentos e inclinações: uma atitude indispensável para não sermos vítimas do impulso do momento. Em poucas palavras é moderação, medida, a capacidade de governar a si mesmo.

Que a essência da temperança consiste justamente no governo de si mesmo, mais uma vez a "língua brilhante" grega o destaca, para roubar o feliz título do famoso e muito bem sucedido ensaio de Andrea Marcolongo (A língua brilhante. 9 razões para amar o grego. Economica Laterza, 2018). A palavra grega enkrateia (temperança) é de fato formada a partir da raiz krat (poder, dominação, governo) combinada com en (ele mesmo).

No mundo antigo, a temperança era uma virtude altamente valorizada. Como ponto de chegada de uma árdua jornada de conhecimento e uma cansativa autoformação, era de fato o ideal por excelência da filosofia antiga, capaz de dominar também a agressão (assim Xenofonte, Memorables II, 1,1).

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Malhete PodcastBy Luiz Sérgio F. Castro