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Tenente Bezerra: O Maçom que encerrou o reinado de Lampião


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Por Luiz Sérgio Castro

Na madrugada do dia 28 de

julho de 1938, um dos capítulos mais violentos e notórios da história do
cangaço nordestino chegou ao fim. O bando liderado por Virgulino Ferreira da
Silva, mais conhecido como Lampião, foi cercado na Fazenda Angicos, localizada
no Sertão de Sergipe. A operação, liderada pelo tenente João Bezerra da Silva,
resultou na morte brutal de Lampião, sua companheira Maria Bonita e outros nove
cangaceiros. Esse evento não somente pôs fim ao reinado sangrento do
cangaceiro, mas também marcou os últimos momentos do próprio fenômeno do
cangaço, que havia atormentado os sertões nordestinos por duas décadas.

A imprensa da época estampou

manchetes comemorando a morte dos bandidos e as imagens chocantes das cabeças
decapitadas dos cangaceiros. As máquinas de costura e outros equipamentos que
pertenciam ao bando também foram exibidos como troféus da vitória sobre o
cangaço. Esse evento foi um ponto de inflexão na história da região e marcou o
fim de um período de ousadia, violência e instabilidade política promovido
pelos cangaceiros.

Um aspecto particularmente

intrigante desse episódio é o papel do tenente João Bezerra da Silva. Além de
ser o comandante da tropa que acabou com o bando de Lampião, Bezerra também era
membro da Maçonaria, ocupando o Grau 18 do Rito Escocês Antigo e Aceito. Ele
foi iniciado na Loja Maçónica Virtude e Bondade N° 0146, localizada em Alagoas,
em 25 de junho de 1949, aos 51 anos de idade. Mais tarde, foi enterrado no
Mausoléu Maçónico Segredo 33, atendendo a um último pedido seu. Posteriormente,
a pedido da família, seu corpo foi trasladado para Pernambuco.

A associação entre a atuação

de Bezerra como militar e sua afiliação maçónica ressalta uma dualidade
interessante. De um lado, ele desempenhou um papel crucial na aplicação da
ordem e da legalidade, encerrando a carreira criminosa de Lampião e trazendo um
fim à era do cangaço. Por outro lado, sua afiliação maçónica aponta para um
compromisso com valores de virtude, ética e fraternidade, que são inerentes à
Maçonaria.

A Maçonaria sempre foi

conhecida por seus princípios de construção social, moral e individual. Seus
membros são encorajados a buscar o aprimoramento pessoal, a promover o
bem-estar da sociedade e a cultivar laços fraternais entre si. A ligação entre
Bezerra e a Maçonaria sugere que ele pode ter buscado uma coexistência entre
seu papel militar e seus compromissos maçônicos, aplicando princípios de
justiça, ordem e ética tanto em sua carreira profissional quanto em sua
afiliação à sociedade secreta.

A atuação do tenente João

Bezerra da Silva como maçom e sua liderança na ação que encerrou o cangaço com
a morte de Lampião destaca a complexidade das motivações e valores que permeiam
os episódios da história. Esse evento não é apenas um marco na luta contra o
cangaço, mas também um exemplo da interseção entre deveres profissionais,
convicções pessoais e pertencimento a organizações de influência cultural e
social.

Em última análise, a história

de João Bezerra da Silva nos lembra que por trás de eventos históricos muitas
vezes há indivíduos complexos, influenciados por diversas forças e motivações.
Seja como um militar determinado a restaurar a ordem, seja como um maçom
comprometido com valores de virtude e fraternidade, Bezerra desempenhou um
papel fundamental na trama do cangaço e da história do nordeste brasileiro. Sua
vida e suas ações permanecem como um exemplo de como diferentes aspectos da
identidade de uma pessoa podem se entrelaçar e moldar o curso da história.

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