Na madrugada de 23 de março de 2020, as autoridades nacionais ficaram a saber que o Cruzeiro excepcionalmente autorizado a entrar para deixar ficar portugueses e residentes, afinal tinha, pelo menos um caso de Covid-19 a bordo. Uma informação que mudou radicalmente o plano. Agora Portugal já autorizava o desembarque de todos os ocupantes do navio, desde que enquadrados por regras sanitárias especiais. O que se seguiu, demorou praticamente dois meses. O MSC Fantasia só voltou a deixar Lisboa dia 18 de maio.

Finalmente terra firme. Depois de 13 dias de viagem, o MSC Fantasia estava atracado no Terminal de Cruzeiros do Porto de Lisboa. Chegou ao nascer do dia 22 de março de 2020, e todos os sinais indicavam que por ali ficaria algum tempo. Nessa altura, Portugal já estava em Estado de Emergência, num contexto geral de confinamento, a experimentar as dinâmicas do teletrabalho, da escola à distância, e muitas outras regras e orientações. No dia em que o navio atracou, num porto que tecnicamente estava encerrado, Portugal registava um total de 1.600 casos positivos, 14 vítimas mortais, e 169 pessoas internadas. O que ninguém esperava, era que o vírus tambem viesse a bordo. E veio.

A viagem está quase a completar uma semana. Para trás, em Maceió, ficou a clarificação sobre quem quis ou não seguir viagem; quem optou por arriscar a travessia do Atlântico sem escalas e sem destino confirmado. A bordo até talvez não fosse totalmente perceptível, mas um pouco por todo o mundo a Pandemia já obrigava parte significativa da população mundial a mudar rotinas. Em Portugal, por exemplo, já se estudavam medidas inéditas. Faltava pouco para que o país entrasse em Estado de Emergência, e mesmo com os portos fechados era para Lisboa que o navio se dirigia.

A viagem em causa começou a 9 de março de 2020, no Terminal Internacional de Cruzeiros do Rio de Janeiro. Era suposto ser uma viagem de 19 dias, com 10 escalas, mas as notícias sobre um desconhecido e potencialmente perigoso novo coronavírus forçaram a alteração de planos. Ainda assim, mesmo sem destino certo, cerca de 2.500 iniciaram a travessia do Atlântico.

Cinco anos depois, “Covid a bordo: dias de fantasia” é uma investigação jornalística que assinala e recorda a chegada da pandemia. Mas de uma forma original; em grande parte inédita. Esta é a história verídica de uma viagem entre o Rio de Janeiro e Lisboa, feita em março de 2020 a bordo do navio de cruzeiro. Foram 13 dias no mar, durante os quais o mundo mudou. Sem nenhum outro porto disponível a viagem acabou na capital portuguesa, dando origem a uma importante operação logística, política, diplomática, de segurança, e claro, de saúde pública. Afinal, soube-se à chegada, o vírus também vinha a bordo. A história, contada por quem a viveu, dentro e fora do navio, está dividida em 4 episódios, e tem a assinatura do jornalista Celso Paiva Sol.