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Vol.46. 你是不是也习惯了,不该习惯的生活?——介绍巴西女诗人科拉桑蒂


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本期节目介绍今年年初刚去世的意大利裔巴西作家玛丽娜·科拉桑蒂(Marina Colasanti)及其代表作《我知道,但我本不该知道》。这首散文诗以质朴、直接的语言,描绘了人们在现代生活中如何逐渐习惯于不自由、不快乐与麻木,习惯于战争、污染、孤独与内心的空洞。诗中一再重复的“我们习惯了”,如同一声声警钟,唤起我们对日常生活中麻木与妥协的警觉。本期不仅有这首作品的(中/葡双语)全文朗读,还讲述了科拉桑蒂跨越多重文化的生命历程与创作背景,让我们看见一个用柔软文字反抗世界粗粝的女性写作者。

【诗歌原文】

Marina Colasanti:Eu sei, masnão devia

Eu sei que agente se acostuma.

Mas não devia.

A gente seacostuma a morar em apartamento de fundos

e a não ter outravista que não as janelas ao redor.

E porque não temvista,

logo se acostumaa não olhar para fora.

E porque não olhapara fora,

logo se acostumaa não abrir de todo as cortinas.

E porque não abreas cortinas,

logo se acostumaa acender mais cedo a luz.

E à medida que seacostuma,

esquece o sol,esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente seacostuma a acordar de manhã,

sobressaltadoporque está na hora.

A tomar cafécorrendo porque está atrasado.

A ler jornal noônibus porque não pode perder o tempo da viagem.

A comersanduíches porque já é noite.

A cochilar no ônibus porque está cansado.

A deitar cedo e dormir pesado

sem ter vivido o dia.

A gente seacostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.

E aceitando aguerra, aceita os mortos

e que hajanúmeros para os mortos.

E aceitando osnúmeros,

aceita nãoacreditar nas negociações de paz.

E aceitando asnegociações de paz,

aceita ler tododia de guerra,

dos números dalonga duração.

A gente seacostuma a esperar o dia inteiro

e ouvir notelefone: hoje não posso ir.

A sorrir para aspessoas sem receber um sorriso de volta.

A ser ignoradoquando precisava tanto ser visto.

A gente seacostuma a pagar por tudo

o que deseja e oque necessita.

E a lutar paraganhar o dinheiro com que se paga.

E a ganhar menosdo que precisa.

E a fazer filapara pagar.

E a pagar mais doque as coisas valem.

E a saber quecada vez pagará mais.

E a procurar maistrabalho,

para ganhar maisdinheiro,

para ter com quepagar

nas filas em quese cobra.

A gente seacostuma a andar na rua e ver cartazes,

a abrir asrevistas e ver anúncios,

a ligar atelevisão e assistir a comerciais,

a ir ao cinema eengolir publicidade.

A ser instigado, conduzido, desnorteado,

lançado nainfindável catarata dos produtos.

A gente seacostuma à poluição.

À luz artificialde ligeiro tremor.

Ao choque que osolhos levam na luz natural.

Às besteiras dasmúsicas.

Às bactérias daágua potável.

À contaminação daágua do mar.

À luta.

À lenta morte dosrios.

E se acostuma anão ouvir passarinhos,

a não colher fruta do pé,

a não ter sequeruma planta.

A gente seacostuma a coisas demais,

para não sofrer.

Em dosespequenas,

tentando nãoperceber,

vai afastando umador aqui,

um ressentimentoali,

uma revoltaacolá.

Se o cinema estácheio,

a gente senta naprimeira fila e torce um pouco o pescoço.

Se a praia estápoluída,

a gente só molha os pés e sua no resto docorpo.

Se o trabalhoestá duro,

a gente seconsola pensando no fim de semana.

E se no fim desemana não há muito o que fazer,

a gente vaidormir cedo e ainda satisfeito

porque tem sonoatrasado.

A gente seacostuma para não se ralar na aspereza,

para preservar apele.

Se acostuma paraevitar feridas, sangramentos,

para esquivar-seda faca e da baioneta,

para poupar opeito.

A gente seacostuma para poupar a vida

que, aos poucos,se gasta,

e que, de tantoacostumar,

se perde de simesma.

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《我知道,但我本不该知道》

我知道,人是会习惯的。

但我们本不该习惯。

我们习惯住在面向后院的公寓里,窗外的“风景”只是四周的窗户。

因为看不到风景,我们很快也就习惯了不往外看。

因为不往外看,我们也就习惯了不把窗帘拉开。

因为不拉开窗帘,我们也就早早开灯。

而随着习惯的加深,我们开始忘记阳光,忘记空气,忘记旷野。

我们习惯了早晨惊醒,因为到了时间;

习惯了匆忙喝咖啡,因为已经迟到;

习惯了在公交车上读报,因为不能浪费通勤的时间;

习惯了吃三明治,因为天已经黑了;

习惯了在公交车上打盹,因为我们太累;

习惯了早睡,睡得挺香,却没有真正活过这一天。

我们习惯了打开窗户,读到关于战争的新闻。

习惯了接受战争,接受死亡,接受用数字来统计死者。

接受了这些数字,我们也就不再相信和平谈判。

接受了谈判,我们也就接受了每天都要读到的战争,以及这些数字的漫长延续。

我们习惯了整天等待,然后在电话里听见:“我今天来不了了。”

习惯了对人微笑,却得不到回应;

习惯了被忽视,尽管我们如此渴望被看到。

我们习惯了为自己想要和需要的一切付出代价。

习惯了为了挣这笔钱去拼命工作。

习惯了赚得比所需更少;

习惯了排队付款;

习惯了超值付款;

习惯了一切东西都会越来越贵;

习惯了再找一份工作,只为了赚更多的钱,去付那些越来越高的费用。

我们习惯了走在街上看到广告牌,翻开杂志看到广告;

打开电视看到广告;

进电影院,也得吞下广告。

我们被诱导、被牵引、被迷惑,被扔进一场无止境的商品瀑布中。

我们习惯了污染,

习惯了轻微闪烁的人工光;

习惯了眼睛被自然光刺痛;

习惯了流行音乐的空洞,

习惯了饮用水中的细菌,

习惯了海水被污染,

习惯了拼命,

习惯了江河慢慢死去。

我们习惯了听不见鸟鸣,

习惯了不能从树上摘果子,

甚至习惯了家里一棵植物也没有。

我们习惯了太多太多,只为了不受伤。

以微小的剂量,悄悄地麻痹自己,

移开一丝痛苦,

压下一阵怨恨,

熄灭一场愤怒。

电影院满了,我们坐在第一排,稍微仰仰脖子;

海滩污染了,我们只沾沾脚,剩下的地方用汗水洗干净;

工作太苦了,我们安慰自己说:“周末快来了。”

可到了周末,也没什么好做,

我们就早点上床睡觉,心满意足地想:“反正我的觉没睡够呢。”

我们习惯了,以免被生活的粗糙擦破皮肤。

我们习惯了,为了避免受伤、流血,

为了躲开小刀和刺刀,

为了保护我们的心口。

我们习惯了,是为了保全生命。

可这生命,在一天天的习惯中,悄然被消磨。

到最后,因太过习惯,我们竟然把它给弄丢了。

(翻译:佾楠+Chat-GPT 4)

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【诗作者简介】

玛丽娜·科拉桑蒂(Marina Colasanti,1937–2025),意大利裔巴西作家、诗人、记者与插画师,生于非洲厄立特里亚,成长于意大利,后定居巴西。她一生跨越多种文化,以细腻而犀利的语言,书写女性、孤独与日常中的隐痛。她曾任记者、专栏作家,出版逾七十部作品,涵盖诗歌、童话、小说与散文。她也是少数为自己作品配图的作家之一。作为公开的女性主义者,她的写作是温柔的表达,也是坚定的抵抗。

【主持人、译者简介】

佾楠,译者、戏剧学者与剧场导演,现居慕尼黑,曾任中央戏剧学院教授。她致力于“戏剧构作”在中国的引介与实践,并以《有冇》、《黑寺》、《水浒》等文献剧创作广受关注。2024年起,与袁野共同创办“Palimpsest | 行间播客”,探索诗歌、音乐与剧场的跨界可能。

【配乐】佾楠

【音乐/演唱/葡萄牙语朗读生成】Suno v.4

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