本期节目介绍今年年初刚去世的意大利裔巴西作家玛丽娜·科拉桑蒂(Marina Colasanti)及其代表作《我知道,但我本不该知道》。这首散文诗以质朴、直接的语言,描绘了人们在现代生活中如何逐渐习惯于不自由、不快乐与麻木,习惯于战争、污染、孤独与内心的空洞。诗中一再重复的“我们习惯了”,如同一声声警钟,唤起我们对日常生活中麻木与妥协的警觉。本期不仅有这首作品的(中/葡双语)全文朗读,还讲述了科拉桑蒂跨越多重文化的生命历程与创作背景,让我们看见一个用柔软文字反抗世界粗粝的女性写作者。
【诗歌原文】
Marina Colasanti:Eu sei, masnão devia
Eu sei que agente se acostuma.
Mas não devia.
A gente seacostuma a morar em apartamento de fundos
e a não ter outravista que não as janelas ao redor.
E porque não temvista,
logo se acostumaa não olhar para fora.
E porque não olhapara fora,
logo se acostumaa não abrir de todo as cortinas.
E porque não abreas cortinas,
logo se acostumaa acender mais cedo a luz.
E à medida que seacostuma,
esquece o sol,esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente seacostuma a acordar de manhã,
sobressaltadoporque está na hora.
A tomar cafécorrendo porque está atrasado.
A ler jornal noônibus porque não pode perder o tempo da viagem.
A comersanduíches porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado
sem ter vivido o dia.
A gente seacostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando aguerra, aceita os mortos
e que hajanúmeros para os mortos.
E aceitando osnúmeros,
aceita nãoacreditar nas negociações de paz.
E aceitando asnegociações de paz,
aceita ler tododia de guerra,
dos números dalonga duração.
A gente seacostuma a esperar o dia inteiro
e ouvir notelefone: hoje não posso ir.
A sorrir para aspessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignoradoquando precisava tanto ser visto.
A gente seacostuma a pagar por tudo
o que deseja e oque necessita.
E a lutar paraganhar o dinheiro com que se paga.
E a ganhar menosdo que precisa.
E a fazer filapara pagar.
E a pagar mais doque as coisas valem.
E a saber quecada vez pagará mais.
E a procurar maistrabalho,
para ganhar maisdinheiro,
para ter com quepagar
nas filas em quese cobra.
A gente seacostuma a andar na rua e ver cartazes,
a abrir asrevistas e ver anúncios,
a ligar atelevisão e assistir a comerciais,
a ir ao cinema eengolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado,
lançado nainfindável catarata dos produtos.
A gente seacostuma à poluição.
À luz artificialde ligeiro tremor.
Ao choque que osolhos levam na luz natural.
Às besteiras dasmúsicas.
Às bactérias daágua potável.
À contaminação daágua do mar.
À luta.
À lenta morte dosrios.
E se acostuma anão ouvir passarinhos,
a não colher fruta do pé,
a não ter sequeruma planta.
A gente seacostuma a coisas demais,
para não sofrer.
Em dosespequenas,
tentando nãoperceber,
vai afastando umador aqui,
um ressentimentoali,
uma revoltaacolá.
Se o cinema estácheio,
a gente senta naprimeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia estápoluída,
a gente só molha os pés e sua no resto docorpo.
Se o trabalhoestá duro,
a gente seconsola pensando no fim de semana.
E se no fim desemana não há muito o que fazer,
a gente vaidormir cedo e ainda satisfeito
porque tem sonoatrasado.
A gente seacostuma para não se ralar na aspereza,
para preservar apele.
Se acostuma paraevitar feridas, sangramentos,
para esquivar-seda faca e da baioneta,
para poupar opeito.
A gente seacostuma para poupar a vida
que, aos poucos,se gasta,
e que, de tantoacostumar,
se perde de simesma.
---
《我知道,但我本不该知道》
我知道,人是会习惯的。
但我们本不该习惯。
我们习惯住在面向后院的公寓里,窗外的“风景”只是四周的窗户。
因为看不到风景,我们很快也就习惯了不往外看。
因为不往外看,我们也就习惯了不把窗帘拉开。
因为不拉开窗帘,我们也就早早开灯。
而随着习惯的加深,我们开始忘记阳光,忘记空气,忘记旷野。
我们习惯了早晨惊醒,因为到了时间;
习惯了匆忙喝咖啡,因为已经迟到;
习惯了在公交车上读报,因为不能浪费通勤的时间;
习惯了吃三明治,因为天已经黑了;
习惯了在公交车上打盹,因为我们太累;
习惯了早睡,睡得挺香,却没有真正活过这一天。
我们习惯了打开窗户,读到关于战争的新闻。
习惯了接受战争,接受死亡,接受用数字来统计死者。
接受了这些数字,我们也就不再相信和平谈判。
接受了谈判,我们也就接受了每天都要读到的战争,以及这些数字的漫长延续。
我们习惯了整天等待,然后在电话里听见:“我今天来不了了。”
习惯了对人微笑,却得不到回应;
习惯了被忽视,尽管我们如此渴望被看到。
我们习惯了为自己想要和需要的一切付出代价。
习惯了为了挣这笔钱去拼命工作。
习惯了赚得比所需更少;
习惯了排队付款;
习惯了超值付款;
习惯了一切东西都会越来越贵;
习惯了再找一份工作,只为了赚更多的钱,去付那些越来越高的费用。
我们习惯了走在街上看到广告牌,翻开杂志看到广告;
打开电视看到广告;
进电影院,也得吞下广告。
我们被诱导、被牵引、被迷惑,被扔进一场无止境的商品瀑布中。
我们习惯了污染,
习惯了轻微闪烁的人工光;
习惯了眼睛被自然光刺痛;
习惯了流行音乐的空洞,
习惯了饮用水中的细菌,
习惯了海水被污染,
习惯了拼命,
习惯了江河慢慢死去。
我们习惯了听不见鸟鸣,
习惯了不能从树上摘果子,
甚至习惯了家里一棵植物也没有。
我们习惯了太多太多,只为了不受伤。
以微小的剂量,悄悄地麻痹自己,
移开一丝痛苦,
压下一阵怨恨,
熄灭一场愤怒。
电影院满了,我们坐在第一排,稍微仰仰脖子;
海滩污染了,我们只沾沾脚,剩下的地方用汗水洗干净;
工作太苦了,我们安慰自己说:“周末快来了。”
可到了周末,也没什么好做,
我们就早点上床睡觉,心满意足地想:“反正我的觉没睡够呢。”
我们习惯了,以免被生活的粗糙擦破皮肤。
我们习惯了,为了避免受伤、流血,
为了躲开小刀和刺刀,
为了保护我们的心口。
我们习惯了,是为了保全生命。
可这生命,在一天天的习惯中,悄然被消磨。
到最后,因太过习惯,我们竟然把它给弄丢了。
(翻译:佾楠+Chat-GPT 4)
---
【诗作者简介】
玛丽娜·科拉桑蒂(Marina Colasanti,1937–2025),意大利裔巴西作家、诗人、记者与插画师,生于非洲厄立特里亚,成长于意大利,后定居巴西。她一生跨越多种文化,以细腻而犀利的语言,书写女性、孤独与日常中的隐痛。她曾任记者、专栏作家,出版逾七十部作品,涵盖诗歌、童话、小说与散文。她也是少数为自己作品配图的作家之一。作为公开的女性主义者,她的写作是温柔的表达,也是坚定的抵抗。
【主持人、译者简介】
佾楠,译者、戏剧学者与剧场导演,现居慕尼黑,曾任中央戏剧学院教授。她致力于“戏剧构作”在中国的引介与实践,并以《有冇》、《黑寺》、《水浒》等文献剧创作广受关注。2024年起,与袁野共同创办“Palimpsest | 行间播客”,探索诗歌、音乐与剧场的跨界可能。
【配乐】佾楠
【音乐/演唱/葡萄牙语朗读生成】Suno v.4
#女性主义 #巴西文学 #散文诗 #拉美诗歌 #葡萄牙语 #MarinaColasanti #文学播客 #诗歌朗读