Nesta segunda parte (final) apresentamos aspectos biográficos e as bases da filosofia desenvolvida por Arthur Shoppenhauer em meados do século XIX. A mãe foi a mulher mais importante na vida de Arthur Shoppenhauer, uma relação atormentada e dúbia que acabou mal.
A carta de Johanna aprovando que o filho largasse o aprendizado no comércio tinha grandes sentimentos maternais: a preocupação com o bem dele, o amor, as esperanças. Mas tudo isso com uma condição: que ficasse longe dela. Arthur implorou à mãe para morar com ela e continuar os estudos em Weimar. Johanna não gostou da idéia; na verdade ficava nervosa só de pensar em compartilhar a casa com Arthur. O filho visitou-a algumas vezes nos seis meses que passou em Gotha, causando sempre muito desprazer. As cartas que escreveu para ele após a expulsão da escola são das mais agressivas que uma mãe já mandou para um filho.
“(...) Conheço você, (...) é uma pessoa irritante e agressiva, acho muito difícil conviver com você. Todas as suas qualidades ficam comprometidas por ser tão inteligente e deixam de ter utilidade no mundo. (...) você acha defeitos em tudo e em todos, menos em si mesmo. (...) e assim exaspera os que estão perto — ninguém quer ser melhorado ou ilustrado à força, muito menos pela pessoa insignificante que você continua sendo. Ninguém agüenta também ser criticado por quem mostra uma tal fraqueza, principalmente em sua insistência em garantir, em tom de oráculo, que as coisas são de determinada forma, sem sequer desconfiar que pode estar errado. Se você não fosse assim, seria apenas ridículo, mas sendo como é, se torna muito desagradável. (...) Escrever um diário literário, como você queria, é algo odioso e inútil, porque não se pode pular as páginas escritas ou jogar todo o lixo atrás do fogão, como se faz com as páginas impressas.”
Johanna acabou se conformando com o fato de ter de hospedar o filho enquanto ele se preparava para entrar na universidade, mas escreveu outra carta, caso ele não tivesse entendido a primeira, e mostrou bem sua preocupação.
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Ele escreveu: “Visto da juventude, a vida é um longo futuro; a partir da velhice, parece um curto passado. Quando partimos num navio, as coisas na praia vão diminuindo e ficando mais difíceis de distinguir; o mesmo ocorre com todos os fatos e atividades de nosso passado.“