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By Alexandre Pinto
The podcast currently has 72 episodes available.
O mês de Agosto foi um mês de alguma mudança, com outros métodos. Por esta altura, iniciámos as emissões matinais ao longo de Agosto (que não registaremos, por serem alheias ao conceito do programa), pelo que, naturalmente, se manifestou alguma exaustão quanto à música em geral. Tentámos, por isso, abordar outras coisas, e tenderemos, ao longo de Agosto, a optar pelo silêncio. Nesta emissão em particular, afirma-se a singularidade dos Doopees, mais um projecto estranho oriundo do Japão, e o disco dos Lifted, que ouvimos com gosto. A descoberta mais saborosa foi o projecto BODYGUARD, que junta dois nomes que nos são muito queridos, James Ferraro e Sean Bowie, num projecto anterior ao estabelecimento do último como Yves Tumor. Vale pelo conhecimento extra de dois artistas que admiramos.
Não recomendamos a audição desta emissão, dado que, por motivos técnicos, a voz ficou extremamente alterada; na pior das hipóteses, é um teste à vossa paciência.
1. KOKOKO! – Tongos’a (Fongola, 2019)
Não sei de que forma poderei optimizar a introdução dos programas aqui no blog. Obviamente, o atraso está de tal forma incomportável que se justifica uma selecção das melhores emissões deste período; se tal for o critério, talvez não haja necessidade de avançar com esta. Depende de vós, parece-me. Com a passagem do tempo, perde-se a motivação que levou a estas escolhas; Scott Walker e Bobby ‘Boris’ Pickett and The Crypt-Kickers parecem ligados de alguma forma, e o disco Outremusique pour enfants 1974 – 1985 bebe da ludicidade do precedente – amostras curiosas de leveza musical.
Na parte final, destaca-se o Violin Music For Supermarkets, de Jon Rose, estranho disco de experimentação narrativa e musical (ao qual eventualmente não prestámos a devida atenção) e os AMM – que levaram tudo pela frente. Fechámos a hora com Kali Malone, com um disco a reter do ano passado.
1. Scott Walker – Jean the Machine (Till The Band Comes In, 1970)
Estar em Novembro e, volvidos quatro meses, haver que arquivar emissões de Julho: nunca imaginei deixar-me chegar a tão magnífico atraso! Fazia calor nesta altura, que é o máximo que podemos recordar à distância manifestada, mas mais nada nesta emissão nos remete ao presente tal como o faz a Mobilete, do Chico da Tina; é uma amostra do EP Trapalhadas, lançado digitalmente, e que marca não só o ano de 2019, como um período mais abrangente de degustação deste sublime projecto. Até agora, temos apenas cinco faixas, mas o disco chega em breve; no final do ano, prometemos estudar a conclusão de um fenómeno cujo potencial impacto só se compara, nos tempos mais recentes, à conquista do mainstream por Conan Osiris.
De resto, houve pesquisa, descoberta e experimentação. Maxo recorda-nos a pop de meesh, recordámos Mort Garson (talvez a propósito do espectáculo de Pernadas e Moullinex?), fomos aos magníficos Japan e perdemo-nos na electrónica vanguardista de 1968. Até ao final, deixámos que os Nihilist Spasm Band tomassem conta da emissão, e terminámos ao som de David Sylvian a solo.
1. Chico da Tina – Mobilete (Trapalhadas, 2019)
O imenso atraso a que votei todos os podcasts anteriores provoca uma estranha nostalgia; esta, na verdade, nem é das emissões que guardo com especial carinho. Suponho que os Khruangbin tivessem lançado disco novo, porque o ouvimos; mas ainda hoje subscrevo a obsessão com Erika de Casier, que tem um dos mais bonitos discos de 2019 – Essentials, como diz o nome -, e pelo meio recuperámos uma das suas maiores influências. E a Solange nem precisa de motivo: os seus últimos dois discos são vitória atrás de vitória, sucesso a seguir ao sucesso, e merece tudo o que de bom lhe acontece.
Em teoria, adoraria que Kirin J Callinan fosse uma referência deste ano também, mas o artista anti-artista lançou um tépido disco de follow-up que, se não sou injusto para com ele, pode dar-se o caso de ser simplesmente tépido para mim. Salva-se uma ou duas faixas mais memoráveis. Pouco mais.
Em rara intersecção com a música portuguesa, fomos ao novo de Puto Tito, que chega pela Príncipe, e o final da emissão foi uma imensa confusão, enquanto sabotámos a música de Anthony Moore e fomos, depois, explorar sem grande norte um disco de Ghedalia Tazartes.
1. Khruangbin – Four of Five (Hasta El Cielo, 2019)
Nesta emissão, lançámo-nos no ambiente soturno ao som de uma experiência de Mount Eerie no domínio dos field recordings; é um dos seus lançamentos deste ano, a par de algo de nos chegará ainda no final deste 2019 – guardamos o seu nome bem junto de nós desde o fantástico (mas violento) A Crow Looked at Me. Segue-se Lolina, ex-colaboradora de Dean Blunt (ou actual? quem sabe?), que lança Who Is Experimental Music, registo bem mais vanguardista que o anterior The Tower, que também escutámos. Pelo caminho, houve ainda Sculpture, que passariam em Braga a propósito da Noite Branca.
Por algum motivo que agora não recordo, houve a oportunidade de passar pela música de Jacques Brel, nome essencial da música pop francesa, e cuja influência perpassou para outros mundos; nomeadamente, o de Scott Walker, que ouviríamos de seguida. É lá que vamos passar, recordando antes os Slapp Happy, grupo descendente dos Henry Cow, que se norteia menos no jazz e mais na pop esquisita.
Vamos a Scott Walker, então, recordando Rosemary, uma das mais pungentes canções do seu repertório inicial, à qual juntámos Farmer In The City, também muito violenta, e que já por aqui passou (várias) vezes – é irresistível. Terminámos ao som de Vegetal Negatives, disco de Symbiogenesis que nos tocou num nervo que necessitava estimulação.
// (fireworks & wind) – Mount Eerie
O ano de 2019 está irremediavelmente marcado pelo disco de estreia dos black midi. Os miúdos são bons, têm pinta, e sabem-no; e isso torna-os ainda mais irresistíveis. Por isso, grande parte da emissão foi dedicada a descobrir o novo Schlagenheim, e a traçar possíveis influências dos meninos: vão desde os The Dismemberment Plan aos The Fall. A coisa dá-se bem. E é isto. Ainda assim, um alerta para a delícia que é a música de Tami T.
1. Helm – Capital Crisis (New City Loop) (Chemical Flowers, 2019)
Nesta emissão, continuámos na senda da pop contemporânea; e este ano será, imaginamos sem grande margem de dúvida, um ano de definição para Christine and the Queens. Passaram por Portugal em apresentação de Chris, bonito e completo trabalho no âmbito do revivalismo dos sintetizadores, e tudo corre bem. (quase me esquecia – tivemos um ligeiro problema no microfone. Adiante)
Uma vez mais, passámos pelos 100 gecs, mas só para uma breve recordação; e deliciámo-nos com a música nova de FKA Twigs, cujo novo trabalho estará certamente para breve.
Sensivelmente a meio, deixámos os devaneios pop de parte para entrar no disco dos This Heat. Britânicos, editaram trabalho homónimo num dos momentos mais desconcertantes do século passado – a emergência do punk e de novas estéticas na música periférica. Ocuparam-se do pós-punk, traçaram-no a tendências industriais, e o resultado é este: um portentoso disco com excelentes momentos – ouvimos dois (ao leitor interessado, recomendamos esta mesma Horizontal Hold, gravada nas Peel Sessions).
Houve ainda um outro grupo em destaque, os Henry Cow, que farão obrigatoriamente parte do conhecimento de qualquer melómano. É jazz e é experimental, e deles fomos escutar dois discos distintos. Havemos de voltar a eles noutra emissão. Para fechar, o sempre bem-vindo Alva Noto, com um excerto do seu disco, supostamente autobiográfico, Xerrox.
1. Christine and the Queens – Doesn’t Matter (Chris, 2019)
Nesta emissão, havia ainda em nós o encanto de mais um NOS Primavera Sound, do qual destacámos três ou quatro concertos nesta emissão; acima de tudo e especialmente marcante, lembrámos o de Yves Tumor – que portento e que força!
A seguir, passámos por um dos discos que guardaremos, com toda a certeza, deste 2019 – a estreia dos 100 gecs, que num só disco nos trazem a pop desmiolada e agressiva, o auto-tune elevado à décima potência, e um sentido estético questionável. Todo o álbum é maravilhoso e havemos de voltar lá em breve.
Pelo caminho, fomos descobrir a carreira de Shuggie Otis, cujo disco Inspiration Information nos fez boa companhia recentemente, para, logo depois, conhecer a aguerrida experimentação com guitarra de Fred Frith, em território árido e experimental. No final, ouvimos, pela primeira vez, os Henry Cow – vamos cá voltar adiante – e fechámos com a bonita electrónica dos Hoshina Anniversary.
1. SOPHIE – Faceshopping (Oil of Every Pearl’s Un-insides, 2019)
Nesta emissão, a linearidade do programa foi respeitada, mas não a sua coesão; resultou uma espécie de amálgama de várias coisas que por aqui foram passando. Primeiro, os Seaside Lovers, que contam com o nome conhecido de Hiroshi Sato, e outro, Akira Inoue, que conheceremos no final da emissão. Bonito disco e bonita experiência.
É tudo lindo, na verdade – a toada repete-se com Doug Hream Blunt – supostamente, daqui virá o nome de Dean Blunt (!!!) – com a sua música caseira e despreocupada; e, logo de seguida, a pop comercial, de sabor a fast-food (e, como tal, estranhamente irresistível) de Tyler, the Creator.
A descoberta da semana está com os …And The Native Hipsters. A história é curiosa e confusa, porque há referências tanto à década de 80, como a um lançamento em 2001 – são antigos, e a sua carreira não levantou como se esperaria. Seja como for, as duas músicas que ouvimos são absolutamente deliciosas – por que não resultou?
Há ainda o novo single de FKA Twigs – impecável! – e uma outra referência ao LeGuessWho? com os Leya. Não a editora literária portuguesa, mas um grupo de instrumentação esparsa que se dedica a uma espécie de pop erudita.
Até ao final, passamos, uma vez mais, pela carreira de Chico Buarque, e depois lançamo-nos a dois trabalhos de electrónica mais experimental: Akira Inoue, mais antigo, e Oorutaichi, que passará também pela Holanda em Novembro.
1. Seaside Lovers – Melting Blue (Memories In Beach House, 1983)
Na última emissão de Maio (credo, como estamos atrasados!) ainda estavam os black midi em preparação do lançamento do novo disco; deles a propósito ainda fomos aos Crack Cloud e a Minutemen, os primeiros, contemporâneos, e os segundos, influência. Segue-se uma breve passagem pelo disco novo de Flying Lotus, que passado este tempo todo ainda não escutámos em condições.
Em preparação do LeGuessWho? deste ano, fomos à escuta de Asha Puthli, diva da pop indiana, emigrada nos Estados Unidos, e que lançou uma série de belíssimos discos no âmbito da música ligeira; colaborou, a dada altura, com Ornette Coleman – e foi pretexto para escutarmos esse encontro, claro, mas também uma outra faixa mais exploratória deste senhor. Devíamos ouvi-lo mais vezes; aqui está. Ainda a propósito do festival holandês, a música de Ayalew Mesfin.
Já a chegar ao fim, damos destaque a um dos mais doces trabalhos da pop de 2019 – esta faixa de Kehlani será ilustração da memória deste ano; depois ainda os Audiobooks, que no âmbito da pop mais experimental têm um trabalho bem respeitável; e, por final, a homenagem a Chico Buarque, homenageado por esta altura, com o seu Bárbara.
1. black midi – Talking Heads (2019)
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