O maior líder não é aquele que é capaz de governar o mundo, mas aquele que é capaz de governar a si mesmo. Alguns realizam com grande habilidade suas tarefas profissionais, mas não têm habilidade para construir relacionamentos profundos, abertos, flexíveis e desprovidos de suas angústias e ansiedades. Um dos maiores problemas que engessa a inteligência e dificulta ao homem a se relacionar socialmente é a ditadura do preconceito.
O preconceito está intimamente ligado à construção de pensamentos. Toda vez que estamos diante de algum estímulo fazemos automaticamente a leitura da memória e construímos pensamentos que contêm preconceitos sobre esse estímulo. Por exemplo, quando estamos diante do comportamento de alguém, usamos a memória e produzimos um preconceito sobre esse comportamento. Assim, freqüentemente temos um conceito prévio dos estímulos que observamos, por isso os consideramos corretos, imorais, inadequados, belos, feios etc. Aqui reside um grande problema: a utilização da memória gera um preconceito inevitável e necessário, mas se não reciclarmos esse preconceito viveremos sob a sua ditadura (controle absoluto) e, assim, engessamos a inteligência e nos fechamos para outras possibilidades de pensar.
Quando vivemos sob a ditadura do preconceito aprisionamos o pensamento, criamos verdades que não são verdades e nos tornamos radicais. Há três grandes tipos de preconceito que geram ditadura da inteligência: o histórico, o tendencioso e o radical. Não é o objetivo deste livro entrar em detalhes sobre estes tipos de preconceitos.
À medida que adquirimos cultura, começamos a enxergar o mundo de acordo com os preconceitos históricos, ou seja, com os conceitos, paradigmas e parâmetros contidos nessa cultura. Se um psicanalista vê o mundo apenas com os olhos da psicanálise, ele se fecha para outras possibilidades de pensar. Do mesmo modo, se um cientista, um professor, um executivo, um pai, um jornalista, vê o mundo apenas através dos preconceitos contidos em suas memórias, pode estar sob a ditadura do preconceito, ainda que sem ter consciência dela.
As pessoas que vivem sob a ditadura do preconceito não apenas podem violar os direitos dos outros e amarrar seus desempenhos intelectuais, mas podem também ferir as suas próprias emoções e experimentar uma fonte de angústia. Elas se tornam implacáveis e radicais contra os seus próprios erros. Estão sempre se punindo e exigindo de si mesmas um perfeccionismo inatingível.
Os preconceitos estão contidos na memória, mas, se não aprendermos a nos interiorizar e aplicar a arte da dúvida e da crítica sobre eles, poderemos ser autoritários, agressivos, violar tanto os direitos dos outros como os nossos. Por que nossa maneira de pensar é, às vezes, radical e inquestionável? Porque nos comportamos como um semideus. Pensamos como um ser absoluto, que não duvida do que pensa, que não se recicla. Quem conhece minimamente a grandeza e a sofisticação do funcionamento da mente humana vacina-se contra a ditadura do preconceito. Convém lembrar que o preconcento individual pode se disseminar e se tornar um preconceito social, um paradigma coletivo.
(Augusto Jorge Cury)