Ana Margarida Lourenço é professora de inglês em Pequim. Mas para percebermos como ela lá foi parar é preciso fazer uma viagem no tempo até 2006, a uma experiência no Parlamento Europeu que terá sido um momento revelador na vida de uma apaixonada por línguas e com uma vontade imensa de conhecer o mundo. A paixão pelo mandarim falou mais alto e levou-a a abraçar por inteiro o país do sol nascente. 2020 começou com a celebração do ano chinês com uma viagem ao Japão, mas o regresso foi um mergulho num “novo normal” até então inimaginável. Ela conta tudo, neste episódio especial do Cartaz da Quarentena.

O Brasil de Jair Bolsonaro ultrapassou os 800 mil casos de infeção e é o segundo país do mundo com mais mortos por COVID19. Fabiano Bonafé e Fulvio Amaral vivem o presente com o receio pela segurança das famílias. Ao fim de cinco anos de namoro à distância, a pandemia e o teletrabalho deram-lhes a possibilidade de viver debaixo do mesmo tecto durante os dias de confinamento. Juntos fazem o diagnóstico de um país de contrastes profundos e falam-nos também de como é assumir um relacionamento homossexual num país governado por um presidente homofóbico.

Margarida Belém é a primeira mulher a dirigir a autarquia de Arouca. Se logo em 2017 teve de lidar com a crise dos incêndios, três anos depois enfrentou um dos mais duros desafios do mandato: a pandemia do COVID19. Os últimos três meses foram de grande exigência, poucas horas de sono e de muito trabalho para não deixar ninguém para trás. Nesta conversa Margarida Belém faz o balanço do papel dos arouquenses num momento crítico e encara a nova ponte pedonal suspensa como um forte argumento para que Arouca se assuma como destino privilegiado para o desconfinamento.

A viver em Barcelona há onze anos, foi nesta mesma cidade catalã que Anabela Couto e Andrei Hernández viveram confinados em casa durante o chamado “Estado de Alarme” declarado pelo governo espanhol. A Anabela é jornalista, tem formação em cinema documental e trabalha em comunicação no setor do turismo, enquanto Andrei Hernández, como realizador e operador de câmara, tem trabalhado para a Agência EFE a retratar uma Catalunha em desconfinamento. Juntos falam das suas reflexões, receios e escapes durante a quarentena e aceitaram o desafio de criar uma espécie de “Elo mais forte”, uma corrente de séries e filmes perfeitos para ver por estes dias.

Na semana em que ficamos a saber que o Norte foi a região do país com o maior contributo para o aumento da produtividade do trabalho em Portugal entre 2000 e 2017, Fernando Freire de Sousa, presidente da CCDR-N, faz um retrato de uma região seriamente afetada pelo vírus, mas com a resiliência necessária para recuperar o tempo perdido. Para lá dos desafios do turismo que ficou em “anóxia” nestes dois meses de confinamento, falámos também do papel crítico da Comissão Europeia na recuperação dos países mais afetados e na reconquista da confiança dos cidadãos na União Europeia. Falámos ainda do plano de retoma geograficamente assimétrica da TAP, que não deixou ninguém indiferente.

Com a chegada do vírus, a economia parou e milhares de empresários ficaram sem saber como seria o futuro imediato dos seus negócios. Foi o caso de Ester Mendes, uma empresária têxtil que depois de concluir uma encomenda que tinha em mãos de uma multinacional da moda, teve de encontrar uma estratégia para lidar com o vírus sem comprometer o pulsar do negócio. E com o apoio da equipa de costureiras que lidera, conseguiu evitar o layoff. Se em tempos de guerra não se limpam armas… Com o COVID19 não se brinca, e em vez da moda, passou a produzir máscaras de proteção individual.

Carina Branco e Nicolas Temple são um casal luso-francês que tem enfrentado a pandemia na segurança de casa, em Paris. Todos os dias são um desafio extraordinário: levar o filhote - o Raphaël - por viagens inesquecíveis à volta do mundo sem sair de casa. Um sem número de aventuras vividas em família que seguramente já se converteram em coloridas memórias que contrastam com os tempos cinzentos que vivemos. A par disso, a Carina ainda nos explica como passou a fazer jornalismo a partir de casa e o Nicolas fala-nos dos desafios que se colocam aos trabalhadores intermitentes do espetáculo. É o caso dele. É videógrafo e realizador habituado a contar histórias pelo enquadramento de uma câmara. Juntos deram forma a uma conversa entre amigos, repleta de grandes sugestões para explorar nos dias de desconfinamento.

A par do turismo o universo da restauração foi das primeiras atividades económicas a sofrer com a chegada da pandemia do COVID19. Sofia Ramos é responsável pelo restaurante Terra Viva. Um projecto de vida que reúne a família em torno de uma cozinha vegetariana em Espinho. Parar foi inevitável, pois apesar da vontade de continuar de portas abertas em take away, não havia álcool gel nem luvas para manter o negócio a funcionar em segurança. Depois do layoff, manteve-se aberta uma janela digital para manter a ligação com os clientes fiéis. Dois meses depois reabriram ao público num desconfinamento que implica mais trabalho e mais gastos. Mas se depender desta família de empreendedores, não há vírus que possa parar o crescimento desta árvore de raízes bem entranhadas na terra.

A pandemia veio espoletar uma luta contra o tempo em laboratórios de todo o mundo na busca de respostas contra um vírus ainda repleto de enigmas. Os laboratórios do I3S não foram excepção. Apesar das medidas de distanciamento social, a investigação em áreas tão críticas como o cancro não parou, e muitos investigadores uniram esforços para ajudar a desvendar os segredos deste coronavírus. José Carlos Machado, cientista, investigador e vice-presidente do IPATIMUP, fala-nos dos desafios que se colocam à linha da frente da ciência e descortina as possíveis razões da pandemia como a sobrepopulação humana e a ocupação de habitats naturais de animais selvagens. É uma discussão absolutamente pertinente num momento em que os negacionistas da ciência conquistam cada vez mais terreno, inflamados pelas redes sociais.

Não têm sido dias fáceis para a “malta rija das viagens”. Mas independentemente da pandemia e de todas as incertezas do presente, não há nada mais certo na condição humana do que a nossa paixão por viajar. Ricardo Santos é editor executivo da revista Volta ao Mundo. Para além de conhecer bem muitos recantos do planeta, tem acompanhado de perto o impacto desta paragem na indústria da aviação, na hotelaria e na restauração. O Conselho Mundial do Turismo já terá estimado que pelo menos 75 milhões de pessoas poderão perder o emprego no setor. A par disso, se depois do 11 de Setembro as companhias aéreas e os aeroportos mudaram para sempre, uma nova revolução estará a preparar-se à medida que o desconfinamento acontece um pouco por toda a Europa. Mas aqui Ricardo Santos tem uma certeza: o impacto desta revolução vai “sair-nos do bolso”.