O tempo é o viajante a me tomar o corpo e dele fazer sua máquina e nele cavalgar horas e dias, para frente e para trás, um cair de flocos de neve – silenciosos – ou avalanche cobrindo e descobrindo fossos e fossas. O tempo me surpreende com olhares cúmplices – de quem tudo já sabia – não porque sejamos unidos, mas porque guardamos as mágoas tão, mas tão profundamente sob a pele e os músculos, que hoje não saberíamos mais distinguir as emoções. Paixões geram ódios, medos provocam risos, dores são bálsamo para lágrimas outrora secas. Não o perdoo por me transformar em objeto – ele me pensa amante – porém dedico-lhe todos os perdões do universo por jamais – jamais – ter me deixado só.
Photo by Jr Korpa on Unsplash
*Texto publicado no Instagram com o título “Viajar com o Tempo” no dia 6 de janeiro. Hoje, publicando aqui me deu vontade de trocar o título.