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By Vasco Samouco
The podcast currently has 15 episodes available.
Aos 33 anos, João Nuno Fonseca já trabalhou na formação da Académica, esteve na Aspire Academy no Catar, foi analista para o Grupo City, que detém vários clubes, entre eles o Manchester City, foi treinador adjunto no Nantes (França) e na equipa de sub-23 do Benfica e na época passada exerceu as mesmas funções no Stade Reims, da liga francesa. Passou por contextos de formação e de alto-rendimento, exerceu cargos variados, auxiliou treinadores como Miguel Cardoso, Óscar Cano e Óscar Garcia, lidou com diferentes culturas e ajustou-se a formas de pensar e de trabalhar diferentes.
O treino e a respetiva evolução e complexidade, o impacto tecnológico, a necessidade de se construírem relações saudáveis com o erro e a importância de saber gerir frustrações, como tratar e lidar com o excesso de informação e saber o que transmitir e como, as desvantagens e os perigos das análises exaustivas, os clubes que “não sabem o que querem ser”, e o “ego inacreditável” dos jovens estão entre os temas abordados ao longo da conversa.
Francisca Moreira Rato esteve cinco anos na Dinamarca, onde se licenciou em Gestão de Marketing e tirou uma pós-graduação em Gestão do Desporto. Através de um estágio, entrou no futebol pela porta do FC Helsingor, clube no qual esteve dois anos a exercer diversas funções relacionadas com a Comunicação.
Nesta conversa, e entre outras coisas, detalha como foi trabalhar num clube dinamarquês mas detido por proprietários americanos e como a diversidade e as diferenças culturais foram importantes a vários níveis. Para além disso, explica como a comunicação é mais do que aquilo que se diz — também é o que se faz e o que se transmite não-verbalmente; expõe dificuldades e como elas foram ultrapassadas, destaca a importância da comunicação para lá das redes sociais e de os clubes mais pequenos se aproximarem da comunidade local, fala sobre a relação clube/comunicação social e sublinha os cuidados a ter nas alturas de euforia e de desânimo.
As particularidades que fazem do jogador dinamarquês apetecível, a qualidade de vida na Dinamarca e do ensino do país, e a evolução do futebol dinamarquês também são temas abordados.
Ligado ao Leicester City FC, clube da Premier League, como treinador de equipas de sub-9, Hugo Rodrigues também conta com passagens pela academia do Sporting e por academias pertencentes ao Tottenham, nos Estados Unidos, sempre em escalões etários mais baixos, juntando, assim, "duas paixões": "a pedagogia, da qual ainda se fala pouco, e o futebol". Lida com rapazes e raparigas, assumindo que "trabalhar com elas é mais desafiante". Foi ex-guarda-redes de futebol, tem licenciatura e mestrado em Ciências da Educação.
Nesta conversa, são abordados temas relacionados com estratégias, contextos e comportamentos ideais para promover o desenvolvimento da criança, a necessidade de olhar para as crianças de uma forma holística e educá-las/trabalhá-las dessa forma, a importância de inspirar e de ser um exemplo, para além de outras qualidades decisivas para ser um bom treinador de crianças. As diferenças entre rapazes e raparigas e as mudanças que obrigam nas formas de estar de quem lidera, o papel dos pais, a desigualdade estrutural que prejudica as melhores e como elas podem melhorar o futebol são outros assuntos debatidos.
Duarte Araújo é professor, escritor e investigador nas áreas da performance desportiva, coletiva e individual, e das neurociências. Nas palavras do próprio, tem um grande interesse “na nossa inteligência na ação, ou seja, no modo como resolvemos as situações com que nos deparamos com a nossa própria ação, em particular a dos desportistas”.
Nesta conversa, e entre outras coisas, abordou e aprofundou:
- a complexidade da tomada de decisão e os três passos que ela envolve;
- como pensamento e ação andam sempre de mãos dadas (ecological cognition);
- como o futebol pode tirar mais partido de todas as ciências que gravitam à volta dele (interdisciplinaridade);
- como os treinadores podem ajudar os jogadores e que erros devem evitar na elaboração e na operacionalização dos treinos (criar problemas e não dar soluções);
- a importância decisiva das relações/ligações entre jogadores e nas equipas;
- os perigos associados ao “temos que ganhar”;
- o exemplo AIK (Suécia): formar jogadores juntando a vertente desportiva com a social, integrando os pais nesse processo e fomentando códigos de conduta ("passar com respeito");
“O pensamento é o modo como se resolvem problemas. Um jogador expressa o seu pensamento no modo como atua no jogo, como dribla e como finta, como passa, como se posiciona. A visão mais tradicional defende que se pensa primeiro e age-se depois, mas acredito mais nesta visão incorporada e ecológica da cognição que diz que nós temos que pensar de corpo inteiro e que o nosso pensamento esteja sempre altamente condizente com o nosso comportamento. A separação entre pensamento e ação coloca a necessidade de ter a solução antes dela acontecer e isso, de algum modo, restringe a criatividade e a possibilidade de encontrar soluções que antes não foram pensadas”.
Luís Campos quase dispensa apresentações. É considerado um dos melhores diretores desportivos do Mundo, foi o mentor dos projetos que levaram o Mónaco e o Lille a serem campeões de França frente ao poderoso Paris Saint-Germain. Mas é, acima de tudo, um pensador, um inconformado e um visionário, que está a aproveitar um período sabático para “descobrir coisas fantásticas” e “estar um passo à frente”.
Nesta conversa, Luís Campos explica a complexidade do “modelo de jogo e da forma de jogar”, dá pistas decisivas sobre como iniciar projetos e construir boas equipas, prevê o futuro do scouting e como essa evolução vai exigir mais dos scouts, realça a importância dos avanços tecnológicos, fala de mercados inexplorados e sobreexplorados, destaca o potencial africano, elogia os bons exemplos nórdicos, alerta para a importância do perfil psicológico dos jogadores e não só, defende a aposta em especialistas e a importância de outras ciências para o futebol, e aponta passos para escolher o treinador certo.
“Um diretor desportivo tem que coordenar uma série de equipas que estão à volta da equipa de futebol e tem que fazer com que aquilo tudo funcione. É algo dinâmico e vivo (...) O trabalho em equipa, o sentido coletivo, existe cada vez menos, mas é muito importante fazer sentir que todos são importantes. Eu lembro-me sempre da importância que, quer no Mónaco quer no Lille, tinham os motoristas da equipa. O roupeiro, por exemplo, percebia o modelo de jogo… É preciso uma enorme força coletiva para colocar um modelo de jogo e uma forma de jogar a funcionar”.
João Carlos Pereira é treinador de futebol, com décadas de experiência, e durante seis anos foi parte ativa, como Coordenador, na formação de jogadores na Aspire Academy, no Qatar, um dos centros de formação e alto-rendimento mais evoluídos, mais complexos e mais completos do Mundo.
Nesta entrevista, e entre outras coisas, João Carlos Pereira recorda experiências únicas e conversas inesquecíveis com Vítor Frade, Pep Guardiola, Paco Seirul-lo ou Xavi Hernández (“consegue encontrar pormenores e perceber coisas que a maioria dos treinadores não é capaz”), detalha o processo e os avanços que o projeto foi conhecendo ao longo dos anos, confidencia como se criaram condições para tornar os jovens mais resilientes e mentalmente capazes, explica a “aprendizagem consciente para os jogadores” e como praticar outras modalidades é importante, para além de salientar a “preocupação tremenda na formação contínua dos treinadores”.
“O jogador era parte ativa no processo, era consciente dos erros que cometia, era altamente consciente dos conteúdos de treino e criámos condições para que os jogadores fossem refletindo sobre o seu desempenho e sobre o desempenho da equipa. O treinador fomentava a discussão e conseguimos meter os jogadores a discutir exercícios, conteúdos, as dificuldades que sentiam. Fazíamos isto antes dos treinos, durante os treinos e depois dos treinos”.
Francisco Fardilha é especialista em desenvolvimento de talento no futebol, investigador na área da criatividade e autor de vários trabalhos científicos relacionados com formação de futebolistas. Até março, foi coordenador-adjunto da Academia do Lille, atual líder do campeonato de França.
Nesta conversa, e entre outras coisas, são abordados assuntos relacionados com talento e como a dificuldade em defini-lo prejudica avaliações e decisões, fala-se do impacto das academias na formação dos futebolistas e os principais erros que são cometidos nesses ambientes, refere-se as consequências negativas de os clubes contratarem cada vez mais jovens jogadores em idades cada vez mais precoces, salienta-se a importância de "ter uma mente aberta e de pensar pela própria cabeça" e o perigo do "analfabetismo emocional", e sugere-se que os craques Mbappé e Bernardo Silva deviam fazer repensar o processo formativo.
“Quando se contratam jogadores jovens de países, de continentes e até de cidades diferentes, o que se está a fazer é tirar uma planta do seu habitat natural e tentar replantá-la noutro tipo de solo, com outras condições climatéricas, logo há um grande perigo de ela não crescer. Por isso é tão importante prestar muita atenção a cada caso e ter pessoas competentes e ferramentas para isso. Às vezes, até a comida pode ser um fator de desestabilização”.
Formado e especializado em Direito Desportivo, André Zanotta entrou no futebol depois de perceber "como os clubes estavam carentes de pessoas especializadas e de profissionalismo" nas diversas áreas. Começou no México (Atlante), foi diretor desportivo de Santos, Sport Recife e Grémio, e hoje é Diretor Executivo do futebol do FC Dallas, nos Estados Unidos.
Nesta conversa, o gestor explica as razões por detrás da grande evolução da MLS nos últimos anos e por que o FC Dallas tem a melhor academia de formação do país.
A importância da diversidade e de apostar em pessoas de diversos contextos e com experiências diferentes; o médio e o longo-prazo em vez do "imediatismo e do resultadismo"; pensar o futebol como um todo através da partilha de ideias; a necessidade de criar um produto apetecível; e o rigor e as limitações que ajudam os clubes a serem responsáveis; são alguns dos aspetos salientados por André Zanotta. Já na academia do FC Dallas, a prioridade é formar jogadores mentalmente fortes e preparados para a exigência da alta-competição.
“Ao contrário do que acontece em muitos países, até nos principais centros de futebol na Europa, a MLS está muito aberta a trazer pessoas do estrangeiro para trabalhar em diferentes áreas, seja na preparação física, na medicina, na gestão. A fazer o mesmo trabalho que eu, mas noutros clubes, há holandeses, suíços, alemães, mexicanos, italianos... E essa variedade de experiências vem acrescentar valor e conhecimento. Há muita diversidade e isso tem ajudado muito".
Julián Genoud é natural da Argentina, mas tem a vida dividida entre os Estados Unidos, Espanha e Alemanha, sempre levado pela vontade e pela necessidade de refletir, repensar e aprender sobre futebol. É treinador e analista, tem um 'master' em Deteção e Desenvolvimento de Talento, escreveu dois documentos sobre gestão e formação no futebol (AFA 360 e Mínimo Modelo Cantera), alimenta um site há vários anos, trabalhou na Google e em Silicon Valley, estudou de perto vários clubes e vários treinadores, e acredita que "os humanos dividiram a realidade em disciplinas para poder compreendê-la um pouco melhor, mas que, talvez, estejamos a falar sempre do mesmo".
Nesta conversa, o Julián disseca tudo o que já viveu. Fala sobre como a cultura da Google pode ajudar clubes e equipas de futebol, realça a necessidade de promover o erro e lidar com os mesmos, defende que as muitas vantagens de trazer outras áreas e outras pessoas para o futebol ("a magia acontece nas diferenças"), expõe ideias sobre como melhorar a formação dos jovens (jogadores), explica por que se surpreendeu com as metodologias do AZ Alkmaar e do Athletic Bilbao e alerta para os perigos que uma sociedade com um défice de atenção grande pode representar nos futebolistas do futuro.
“Gosto de muitas coisas, sou muito curioso, e tudo o que vou aprendendo acaba por, de alguma maneira, mudar a minha forma de pensar. Portanto, todas as experiências que já tive mudaram muito as minhas ideias em relação ao futebol”.
Hernâni Ribeiro é 'Data Scientist' e co-fundador da 'Goal Point', uma empresa pioneira em Portugal na recolha e na análise de dados relacionados com o futebol. Trabalha diretamente com clubes, treinadores e jogadores. Pode conhecer mais do trabalho dele através do Twitter: https://twitter.com/Mathletics1984
Nesta conversa, o falamos sobre o impacto dos dados estatísticos no futebol e como eles podem ser decisivos, sempre e quando bem enquadrados e auxiliados pela capacidade humana.
O que já se faz? O que se pode fazer melhor? Em qual vertente é que as estatísticas são mais decisivas? O quê e como fazem os clubes e as equipas que mais beneficiam com elas? Onde terão mais impacto no futuro? Que mudanças implicarão nas organizações? Estas são algumas das questões abordadas durante a conversa e que o Hernâni respondeu.
“Os dados nunca são irrelevantes, o que os torna irrelevantes ou relevantes é o que tentamos concluir através deles. Se tentarmos concluir que uma equipa criou mais perigo porque rematou mais, aí os dados são irrelevantes; se tentarmos concluir que uma equipa dominou o jogo só porque teve mais posse de bola, os dados são irrelevantes. Mas se cruzarmos os dados de remates em bruto com o real perigo que cada um deles criou... O que torna os dados relevantes é o que extraímos deles”.
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