"Sentir é existir duas vezes." – Fernando Pessoa
Cinco sentimentos.
Cinco abismos.
Cinco pontes.
Amor, ódio, felicidade, tristeza e raiva.
Cada um deles entrou por uma porta diferente no nosso corpo, mas todos passaram pela mesma sala: a alma.
O amor nos mostrou o quanto somos feitos de entrega. Ele é o início de tudo — mas também pode ser o fim. É a coragem de sermos vulneráveis mesmo sabendo que um dia poderemos perder. Amar é confiar no invisível. É construir uma casa no outro... sem saber se vão deixar a porta aberta.
O ódio, por sua vez, nos mostrou o espelho escuro do amor. Ele não nasce do nada. É herdeiro da dor não tratada. Do amor traído. Do medo disfarçado de força. O ódio nos alerta. Mas quando domina, nos torna o que juramos destruir. E às vezes... o ódio é só o jeito mais barulhento de chorar.
A felicidade... ah, ela é travessa. Nos faz rir, dançar, esquecer da dor por alguns instantes. Mas também nos engana, nos cobra, nos ilude com promessas de eternidade. A verdadeira felicidade, descobrimos, não é um lugar. É um instante. Um cheiro. Uma lembrança. Um abraço. Às vezes, é só poder respirar e saber que ainda estamos aqui.
A tristeza nos atravessou como um rio escuro. Mas foi ela quem limpou a casa. Foi ela quem nos fez sentar em silêncio e escutar a nossa própria história. Tristeza não é fracasso. É pausa. É oração sem palavras. Quem aprende a conviver com ela, aprende a enxergar o mundo com mais verdade.
E a raiva... foi o grito que não saiu, mas que queimava dentro. Foi o soco contido, a lágrima orgulhosa, o “basta” engolido. Mas também foi a centelha da mudança. A raiva nos mostrou que existe um limite. Que merecemos respeito. Que a alma, às vezes, precisa gritar para ser ouvida.
E no meio de tudo isso... estávamos nós. Humanos. Contraditórios. Cheios de defeitos e belezas. Chorando num canto, sorrindo no outro. Abraçando e empurrando. Fugindo e voltando. Gritando “eu te amo” com medo de parecer fraco. Dizendo “não sinto nada” com os olhos cheios de tudo.
Neste episódio, eu só quis dizer uma coisa:
sentir é estar vivo.
E viver é um risco que vale a pena.
O Laercismo acredita que não somos feitos de certezas, mas de emoções em desalinho. E é nesse desalinho que a poesia acontece. Que a arte nasce. Que a verdade aparece — imperfeita, mas nossa.
Talvez a coisa mais corajosa que podemos fazer hoje... seja sentir.
E dizer isso em voz alta.