Carta-poema de Ricardo Domeneck, em que o escritor elabora sua paixão pela família Tarkóvski, à luz da memória de sua própria família.
e filmes nossa memorabília,
a nossa e de nossa família,
nas lojas de lembranças
da História,
essa madame retroativa,
inimiga das notas-de-rodapé?
Eu – aqui, vivo –
obceco-me por familiares mortos
nem sequer meus,
mas sem ter os seus dons e suas dádivas,
hesito, não sei, duvido
que terei a força para descrever
e lançar no colo da madame
dos efeitos retroativos
a adoração expectante
que eu anônimo sentia
quando minha própria mãe anônima
emergia do quarto em sua camisola
– azul-marinho, pontilhada de branco –"