Nina Saroldi fala sobre seu livro, com reflexão contextualizada sobre ‘O mal-estar na civilização’ (obra de Sigmund Freud lançada originalmente em 1929) com base num inquietante subtítulo: As obrigações do desejo na era da globalização. A autora com base em pilares freudianos, corrobora que, a civilização resulta da renúncia à satisfação direta das pulsões e que esta mesma renúncia à satisfação pulsional, pressuposta por Freud como estrutural à constituição do processo civilizatório, é o que nos retira do estado de NATUREZA e nos faz ingressar no estado de CULTURA.
Mas a sua obra propõe refletir sobre este tema numa fértil contextualização com o tempo contemporâneo, o que inclui a relação sujeito, cultura e seus sintomas. A
partir disso, como podemos pensar a relação entre desejo e processo civilizatório, numa atmosfera em que o princípio da realidade “está em baixa” e tendo que se justificar para o imperioso princípio de prazer. Nina Saroldi nos lembra que, No contexto cultural do começo do século XX, a liberdade era sacrificada em nome da segurança e em dias atuais, acontece exatamente o contrário.
Podemos pensar (de forma contextualizada) a permanente inquietação desta citada relação com base na atual infantilização da sociedade e no empobrecimento dos recursos simbólicos dos sujeitos diante da incapacidade de metabolizar derrotas e com cada vez menores condições de negociação de seus ímpetos pulsionais diante das implicações civilizatórias. São questões cada vez mais evidentes em dias atuais, em que facilmente podemos perceber uma violenta falência do sentimento de coletividade nas práticas e discursos das sociabilidades contemporâneas.
A autora resume que: “Nos tempos de Freud, havia uma configuração psíquica calcada na renúncia e na submissão aos ditames de um pai ainda severo. Hoje o
pai severo se tornou, muitas vezes, um adolescente crescido, e a função paterna, como diria Jacques Lacan, parece ter ficado vaga na sociedade” (p.162).