O intuito dessa obra não é descrever milagres e prodígios realizados por um ser extraordinário, conhecido como filho de Deus, seu conteúdo refere-se a acontecimentos psicológicos e espirituais do próprio homem em seu processo evolutivo. Isso não exclui alguns fatos importantes como a vinda de Cristo na época assinalada pela história; nem sua luta contra os escribas e fariseus do antigo culto judaico que de forma alguma podiam aceitar suas idéias, como não aceitam até o presente. O que causa perplexidade é a forma ingênua e sentimental como ela é interpretada pelas religiões populares, que ainda hoje, depois de haver transcorrido mais de vinte séculos desde a sua apresentação, ainda não foi entendida pelos guias religiosos.
Os fatos relatados em suas linhas continuam a ser considerados sob um ponto de vista fantástico e ilusório, contrariando a lógica e o bom senso das pessoas que pensam e raciocinam. Os milagres, como curas milagrosas de cegos, mudos, surdos, paralíticos, não se referem a fatos sobrenaturais ou a fenômenos incompreendidos, mas a transformações psicológicas produzidas pela aplicação dos seus ensinos, naqueles que os praticam regularmente e conscientemente.
É sempre oportuno lembrar que a natureza é regida por leis sábias, justas e invariáveis e Cristo, apesar da sua grandeza, não poderia indispor-se com elas absolutamente, afinal, não declarou ele que “não havia vindo para revogar a lei e os profetas, mas sim para cumpri-las?”.
É um fato incontestável que sem as chaves do esoterismo, especialmente o rosacruciano, a interpretação dessa obra seria simplesmente impossível. Tomar os Evangelhos ao pé da letra, como é hábito das religiões populares, é dar uma demostração de ingenuidade ou no mínimo de ignorância. Esses livros encerram formulas iniciáticas de valor incalculável, de experiências espirituais pelas quais deverá passar o candidato à vida espiritual quando ingressa no caminho que conduz à iniciação.
Paralela à história de Cristo, encontra-se outra de primordial importância: a peregrinação do homem em direção ao Gólgota interior, no qual se realizará a crucificação e a ressurreição espiritual ou Páscoa.
O Quarto Evangelho, especialmente, é a exposição mais misteriosa e transcendental dos mistérios cristãos. Ele descreve de forma “sui generis” o surgimento do homem Jesus de uma forma diferente dos demais evangelistas. Nele Jesus surge como um ser já adulto dirigindo-se a João Batista para solicitar-lhe o batismo.
Este Evangelho foi escrito pela escola mais avançada do cristianismo, dentro do espírito cabalístico baseado na numerologia oculta. Difere amplamente dos demais, o que torna muito difícil sua interpretação para estudantes não versados nos mistérios da antiga numerologia, que atribuía valores numéricos às letras nos idiomas do passado.
Não é sem razão que este livro é preferido pelos mais avançados ocultistas, especialmente pelos Rosacruzes, a escola de mistérios do mundo ocidental, que tem aos seus cuidados a evolução espiritual das raças árias que seguem na vanguarda da evolução. Este trabalho chega ao seu final e ficaria incompleto sem alguns esclarecimentos.
Diz Eliphas Levi, o famoso mago do século XIX que a verdade está acima de todas as opiniões e de todos os partidos. A verdade é como o Sol; cego é quem não a vê. A lógica mais elementar esclarece que a verdade não pode ser captada pela grande maioria das pessoas, cuja consciência é dependente dos cinco sentidos físicos, os quais só podem captar os efeitos visíveis de causas ou verdades invisíveis.
No Evangelho de Nicodemos, considerado apócrifo pelo catolicismo romano, Cristo ao ser interrogado por Pilatos sobre a verdade responde que esta é proveniente do céu, ou seja, dos planos espirituais ou mundos das causas. A verdade é eterna e eterna há de ser a sua busca, diz o sr. Max Heindel. Portanto, é lógico admitir que a verdade não precisa ser inventada, ela é o sustentáculo de toda a criação.
Os Rosacruzes a revelaram pelo fato dos