Share Literatura e Pensamento Crítico no Brasil - Curso de Extensão (UnB/FAP-DF)
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By ALEXANDRE PILATI
The podcast currently has 12 episodes available.
Nesse sexto e último Páginas Avulsas vamos acompanhar a leitura de um trecho do dia 24 de março de 2019 do romance Essa gente, de Chico Buarque. Nesse trecho acompanhamos uma visita do protagonista, o decadente escritor Manuel Duarte, à casa de Agenor e Rebekka no morro do Vidigal. A cena, que tem tudo para se tornar idílica e pitoresca através da remissão à icônica canção “Manhã de carnaval” acaba derivando para o cômico e para o terrível mostrando o quanto é impossível recompor um Brasil cheio de promessas que de alguma forma estavam gravadas no projeto de país a que a Bossa Nova estava articulada. Trata-se de um momento de síntese na obra, que com a magistral perícia narrativa de Chico Buarque ganha definitivo alcance de crítica ao país do presente. Se estiver com o livro à mão, acompanhe a leitura e vamos ao texto!
Na aula de hoje, vamos apresentar uma interpretação de Essa gente, romance de Chico Buarque, publicado pela primeira vez em 2019. O romance se estrutura através de um mosaico de textos: trechos de diário, notícias, cartas, telefonemas e é centrado na figura do escritor decadente Manuel Duarte. A nota curiosa da narrativa é a maneira como Chico se vale das ferramentas já consagradas na sua ficção para dar um depoimento sobre o Brasil do presente, cindido e socialmente despedaçado pela emergência do neofascismo e da necropolítica posta em prática pelo neoliberalismo que agudiza as contradições sociais em uma situação periférica. Além disso, o romance parece ser um grande comentário sobre a literatura e a cultura brasileira dos últimos tempos. Pode a literatura dar conta da emergência desse momento? Isso é o que vamos tentar analisar nessa aula.
Nesse quinto Páginas Avulsas vamos acompanhar a leitura de um trecho do capítulo 16 de Leite derramado, de Chico Buarque. O narrador Eulálio Montenegro de Assumpção conta neste trecho, confundindo tempos e espaços, a trajetória anterior de sua família ao redor de uma relíquia familiar: um chicote. A passagem ironiza o poder da família Assumpção exibindo como a violência e o mando são fundantes de sua relação com o restante da sociedade. Se estiver com o livro à mão, acompanhe a leitura e vamos ao texto!
Na aula de hoje, vamos apresentar uma interpretação de Leite derramado, romance de Chico Buarque, publicado pela primeira vez em 2008. O romance é narrado em primeira pessoa por Eulálio Montenegro D’Assumpção, um velho centenário que se encontra numa cama de hospital infecto e rememora, entre delírios e sob efeito de morfina, a trajetória de sua decadência pessoal e familiar. Eulálio é um narrador construído para que o leitor não se identifique com ele, pois evidencia através de um discurso perverso a genealogia da elite brasileira que nas aparências procura defender-se da barbárie, ao mesmo tempo que sobrevive da exploração da desagregação social. No meio da narrativa se encontra a personagem Matilde, que figura como um mistério e um trauma que assombra a memória do narrador e insere no relato o contraponto em relação à vida exaurida do protagonista, pois ela é tudo que representa liberdade, beleza, desejo e vida. Referida claramente à tradição machadiana, a obra é uma importante figuração das contradições em jogo no Brasil contemporâneo.
Nesse quarto episódio de Páginas Avulsas vamos acompanhar a leitura de um trecho significativo do romance O Mulo, de Darcy Ribeiro. Nesse momento o narrador, o fazendeiro Philogônio de Castro Maya, nos apresenta um dos tantos momentos de autoavaliação que empreende durante a sua longa confissão endereçada ao padre que pretensamente herdará as suas terras. No trecho fica muito clara a personalidade forte, bruta e violenta do velho coronel, que avalia sua vida e o saldo de seus pecados diante do leitor. Por aqui se vê a habilidade de Darcy Ribeiro em criar um personagem capaz de condensar, em seu discurso memorialístico e auto-reflexivo, grandes tendências formadoras da sociedade brasileira, especialmente daqueles que têm poder de mando sobre os demais. Se estiver com livro à mão, acompanhe a leitura e vamos ao texto!
Na aula de hoje, vamos apresentar uma interpretação de O Mulo, romance de Darcy Ribeiro, publicado pela primeira vez em 1981. O romance estrutura-se em forma de confissão, feita pelo seu protagonista, o proprietário de terras Philogônio de Castro Maya, dirigida a um padre, ainda não conhecido, que herdará as propriedades conquistadas ao longo da vida pelo fazendeiro. A narrativa é feita em primeira pessoa e mistura os gêneros textuais da confissão, do relato de memórias, da especulação metafísica e vai recuperando as figuras dos vários “eus” de Philogônio que vão se sucedendo como se fossem peles novas vestidas pelo sujeito que velho e doente as recupera ao escrever. O romance, ambientado no sertão de Goiás, é o testemunho da vida de um sujeito bruto que vive a vida pela perspectiva esvaziada da posse e do mando, mas funciona também como uma espécie de prisma para se pensar o autoritarismo do capitalismo periférico brasileiro.
Nesse terceiro Páginas Avulsas vamos acompanhar a leitura de um trecho de Avá, capítulo do romance Maíra, de Darcy Ribeiro. Nesse momento da narrativa, o índio Mairum Isaías inicia o seu regresso rumo à sua aldeia, para reencontrar os seus parentes e suas origens, além de assumir o posto de tuxaua da tribo. Aqui veremos Isaías, ou o Avá, refletir sobre o desejo de voltar e a incerteza em relação ao que ele vai encontrar na tribo. O capítulo intensifica o drama interior vivido pelo personagem, que se sente um equívoco, no meio do conflito entre o mundo branco e o mundo indígena. Se estiver com livro à mão, acompanhe a leitura e vamos ao texto!
Na aula de hoje, vamos apresentar uma interpretação de Maíra, romance de Darcy Ribeiro, publicado pela primeira vez em 1976. O romance conta a história do índio Mairum Isaías, ou Avá, que desiste de ser padre e decide voltar para a tribo onde nasceu. Junto com ele nessa viagem de busca por si mesmo e de interrogação sobre os sentidos da existência vai a outra personagem central da obra, a jovem Alma, que termina protagonizando um evento trágico na tribo dos Mairuns. Darcy Ribeiro cria um mundo complexo, múltiplo em termos de formas narrativas e de estilos, que nos faz refletir com densidade sobre o processo de formação da nação brasileira, do qual uma das características mais indeléveis é o genocídio indígena. Vamos interrogar um pouco sobre como Maíra é uma obra capaz de dar a ver essas tensões.
Nesse Páginas Avulsas #2 vamos acompanhar a leitura de dois trechos significativos do Diário do Conselheiro Aires os dias 14 de maio e 5 de julho do ano de 1888. Nesses dois registros de seu Diário, o narrador nos apresenta impressões acerca de duas reuniões privadas muito frequentes no cotidiano do Conselheiro. Ao que parece essas duas passagens são dotadas de uma marcante substância crítica acerca das relações sociais que estão no pano de fundo da narrativa apresentada no Memorial de Aires. No primeiro caso, a sentença irônica “Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular” indica a relação que a elite fluminense mantém com a Abolição da Escravidão ocorrida exatamente um dia antes da nota feita por Aires. No segundo caso, ao apresentar a lógica do bluff em torno da qual se estrutura o jogo do pôquer, o narrador indica que algo secreto liga o jogo importado dos Estados Unidos e o comportamento social dos personagens; e tudo parece estar submetido ao paradigma bem brasileiro do “conto do vigário”. Se estiver com livro à mão, acompanhe a leitura e vamos ao texto!
Na aula de hoje, vamos apresentar uma interpretação de Memorial de Aires, último romance de Machado de Assis, publicado em 1904. O romance trata de acontecimentos ocorridos entre os anos de 1888 e 1889 no Rio de Janeiro. Os acontecimentos são apresentados a nós pelo Conselheiro Aires em formato de diário. Normalmente, o Memorial de Aires é tomado como um livro que dá as costas à história, para se recolher em uma intriga íntima e em uma reflexão metafísica sobre o tempo. É isso que vamos tentar abordar, discutindo alguns elementos constitutivos do romance: Memorial de Aires é um livro que não aborda criticamente a história brasileira?
Esse projeto de extensão tem o apoio do Decanato de Extensão da Universidade de Brasília e da Fundação de Apoio à Pesquisa do DF – FAP (DF). Continue nos acompanhando, lendo literatura e refletindo sobre a realidade brasileira. Até a próxima!
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