Não era um pássaro,
não era um avião,
não era um super-herói,
era um homem sem motor,
plumado de sonhos,
e pelado de razão,
tão consumido pelo rancor que ficou mais leve que o ar;
aquilo que não mata dói
e o que não te destrói,
te faz flutuar
Ressecado por dentro como se só bebesse água do mar,
às portas do Paraíso negado,
recusava-se a descer
e pelas nuvens ousava velejar;
sem morrer,
sem ser arrebatado,
era menos que homem,
uma carcaça navegante,
uma sombra de céu desimportante;
mesmo sem vida, não estava necrosado,
mesmo nu, não estava despido,
tinha flechas de paixão e não era desejado,
tinha charme e não era aprumado,
tinha voz e não era ouvido,
por todos os cantos atacado,
mas não ainda destruído,
tinha fama e era desconhecido,
tinha cama e não satisfazia a libido,
era vazio de pleno,
era divertido de tão sério,
inquieto de tão sereno,
enigmático de tão pouco misterioso,
tinha boca e não beijava,
um sexo que a outro não colava;
sozinho de homens e mulheres,
ficou com a companhia das nuvens,
tornou-se amante da chuva
e se sentia orgulhoso de ouvir seus trovões,
gozava com seus raios,
dissolvia-se no mar
e deixava sua pele morta virar coral
É uma fragata que não rouba peixes, mas pedaços de azul,
a cada pontada de maior vigor,
ele fica mais leve,
indelével, vai sobrevoando como um esquilo voador,
de canto em canto,
tentando fugir da própria dor
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