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Nas encruzilhadas, encontramos Lari. Quatro letras, uma imensidão. Multiartista, esbanja generosidade em todas as linguagens. Nada nela – e com ela – passa despercebido ou é pequeno. Ao final de toda aula, ela diz “eu escrevi um textinho” e, assim, sem pretensão, te convoca para outros mundos – o dela, o seu, onde todes cabem sem precisar se espremer.
Foi através deles que, cada vez mais, Lari foi chegando para nós. O nosso primeiro encontro: em 2021, durante uma reunião do grupo de pesquisa DECO (Decolonialidades na Comunicação) e como banzeiro que é, Lari nos chacoalhou da cabeça aos pés, mas também se fez colo.
No último dia 4 de dezembro, Lari defendeu sua dissertação “Poéticas de Terreiro: uma cartografia ancestral com o Ylê Àxé Òpó Omim”, vinculada ao PPGCOM (Programa de Pós-Graduação em Comunicação) da UEL (Universidade Estadual de Londrina (UEL) sob a orientação de Mônica Panis Kaseker e Mãe Omin.
A pesquisa é marcada por uma série de pioneirismos: a primeira dissertação do Programa defendida em um terreiro de candomblé, o desenvolvimento de uma “cartografia ancestral”, o emprego de saberes dos terreiros entre outros grupos subalternizados.
Aqui, você escuta Lari partilhar sobre sua chegada ao Ylê – que completou 35 anos neste mês – a busca por sua ancestralidade – o que lhe conduz a realização de uma ciência encarnada e “xirê decolonial”. Ela também aborda a importância da branquitude ser aliada na luta antirracista, o papel de uma educação menos tecnicista, atenta às diversidades no combate à intolerância religiosa, incluindo a desfolclorização das religiões de matriz africana. E como não poderia deixar de ser, também ouve Lari falar sobre resistência.
Londrina, 8 de dezembro de 2023. Foi nesta sexta-feira ensolarada, mas com vento gelado que encontramos Malu Jimenez e Bruna Mendroni na UEL para a roda de conversa “Basta de Gordofobia: lute como uma gorda”.
Malu é filósofa, pós-doutoranda na UFRJ, coordenadora do Grupo Estudos Transdisciplinares das Corporalidades Gordas no Brasil, professora do PPGCOM/UEL. Malu sorri com os olhos sem parar e tem uma das escutas mais atentas que já tivemos o privilégio de topar.
Bruna é mestranda em Psicologia na UEL, idealizadora do @descategorizando (descat para os íntimos) que tem o propósito de “desconstruir o imaginário que temos de ‘categorizar’ vivências e subjetividades”. Amante de comédias românticas e massas, com suas frases certas, sem muitas vírgulas, ela te vira de cabeça para baixo.
Artesãs de uma ciência encarnada, que não economiza nos afetos e, portanto, esbanja sentidos, Malu e Bru têm se dedicado a compreender a construção e consequências da gordofobia. A estigmatização, sobretudo de mulheres, entre outras violências que de múltiplas formas, tentam excluir corpas gordas do cotidiano.
Para nossa sorte, o encontro se estendeu para a tarde, no lançamento do livro de Malu “Lute como uma gorda”, na Olga, a livraria da cidade, seguida da gravação deste episódio. Ainda, estivemos juntas na banca-performance de Bruno Azzani no sábado pela manhã, dia 9, no Ibirá das Artes. Foram dois dias de imersão e a certeza para vida toda de que como diz Malu “escolhemos ao lado de quem queremos caminhar”.
Atravessadas pelo gênero, também pelas corporalidades dissidentes, Malu e Bru são corações-pesquisadoras que incessantemente precisam “colocar o pé na porta” para acessar espaços, direitos, para serem ouvidas. Aqui, você acompanha elas falarem sobre resistência, feminismo gordo, indústria do emagrecimento, entre outros assuntos.
Malu e Bru, muito obrigada pelas imensuráveis partilhas.
6 de setembro ou (6/9) - chocando um total de zero pessoas - é considerado Dia do Sexo. Mas o que a data tem a ver com política? É o que discutimos neste episódio, em que recebemos a mestranda em Sociologia, Mirian Borges e Felipe Machado, mestrando em Psicologia, também na UEL.
Partindo de discussões sobre prostituição e pornografia, debatemos a criminalização de sexualidades dissidentes, o prazer da mulher enquanto ato político e de resistência sob uma sociedade que intenta controlar seus desejos, a influência da moralidade cristã para que o assunto ainda seja tabu, a importância de ampliar a educação sexual e da regulamentação do trabalho sexual, entre outras questões.
Em um país em que os crimes sexuais têm crescido e são cometidos, majoritariamente, contra vulneráveis, urge refletirmos sobre como a política atravessa nossos corpos.
Na última segunda-feira (28), dia em que a Lei da Anistia completou 44 anos, estivemos na UEL (Universidade Estadual de Londrina) para uma entrevista com Marina Adams, doutoranda na Brown University, onde estuda as relações entre gênero e autoritarismo durante a ditadura empresarial-militar no Brasil. Desde 2019, ela coordena o projeto “Opening the Archives”, responsável por digitalizar, desde sua constituição em 2013, mais de 60.000 documentos, incluindo, o Arquivo Nacional dos Estados Unidos e, mais recentemente, acervos de exilados na França.
Na conversa, falamos sobre a atuação de mulheres (mais quais mulheres?) no enfrentamento aos anos chumbo e as tentativas de apagamento na história oficial das múltiplas formas de resistência organizadas por elas. Considerando que os períodos históricos são cíclicos e permeados por disputas, também discutimos o sustento aos governos militares por parte de mulheres conservadoras. Ainda, debatemos como a memória (ou a falta dela) reproduz opressões de gênero.
Mais informações sobre o “Opening the Archives” podem ser consultadas em: https://bit.ly/3YWwrCs
Existem muitas Londrinas dentro de Londrina. Há muita vida pulsando para além do concreto que cada vez mais engole a Gleba Palhano. Londrina é muito mais que isso, tem infinita potencialidade de histórias outras e espaços de luta como o Feirão da Resistência.
Completando seis anos na cidade, a iniciativa surgiu como uma ocupação e aos poucos se tornou um local de encontro, onde experienciamos outros modos de ser e estar no mundo - o que perpassa desde o cultivo de alimentos sem veneno, com respeito à terra, conforme nos conta Jovana Cestille, agricultora do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), assentada na comunidade Eli Vive, localizada no distrito de Lerroville, em Londrina.
E continua no preparo de cada ingrediente em uma alquimia que carrega a ancestralidade na construção dos sabores, como compartilha Mara Tapajós - “mulher que luta”. Criadora e cozinheira da marca “Amor em Pedaços”, ela participa do Feirão desde o surgimento e nos relata as transformações que o local passou desde lá, também comenta as redes de cuidado que se estabelecem entre organizadores, expositores e visitantes.
O hackeamento da realidade também está presente na arte que acarinha, mas tensiona os poderes constituídos como nos traz a historiadora e artesã Vanessa Coutinho, idealizadora da “Via Criativa”. Entre a produção de chaveiros, imãs de geladeira, bottons e quadros, Vanessa afirma que o Feirão é um lugar de “oportunidades”.
Te convidamos a conhecer ou (re)conhecer este local pelos olhares e vozes destas três mulheres que não só fazem dele um ambiente de trabalho e sustento, mas de dar sentido à vida.
Neste episódio, destinado a todes que nos levam a fabular mundos outros, recebemos Danyela Barros - e todas as mulheres que a atravessam – para uma troca de cartas. Dany é mãe da Lulu, formada em Relações Públicas pela UNESP (Universidade Estadual Paulista) e a mais nova mestra em Comunicação pela UEL (Universidade Estadual de Londrina) com “pesquisa-despacho” intitulada “Feminismos subalternizados e imprensa alternativa: encontros e disrupturas hegemônicas”.
Nossa conversa abordou as potencialidades de uma comunicação não hegemônica, feminismos subalternizados, escrita como ato político, formas diversas de ocupar a universidade, a importância de existir redes de saberes múltiplos e de afetos, como os grupos Entretons e DECO (Decolonialidades na Comunicação) a fim da produção de brechas, cirandas que possibilitam uma ciência encarnada.
Aqui, Dany nos convida a caminhar pelas páginas do Chanacomchana e Nzinga, jornais que durante a ditadura empresarial-militar pautaram as lutas de mulheres lésbicas e negras, respectivamente, para questionar os limites de um conhecimento tido pretensiosamente como universal – porque branco, masculinista, heterossexual e cisgênero – ao mesmo tempo em que nos enseja a criar “furos no muro”, romper com os “perigos de uma história única”, re-existir e ecoar todas que vieram antes de nós. Afinal: “sem discurso alternativo não há meio alternativo”, ela diz.
Nas encruzilhadas da vida, encontramos a cantora e atriz londrinense Simone Mazzer. A conversa ocorreu na última segunda-feira (29) no hotel Crystal, centro da cidade. Desde o primeiro passo em nossa direção até desligarmos o gravador, Simone não tirou o sorriso largo do rosto. Assim, com resistência, ela nos convoca a imaginar e construir mundos outros, nos quais todas as vidas não são apenas possíveis, mas também felizes e admiradas.
No bate-papo, abordamos as motivações que a levaram a criar seu quarto e último disco. Lançado em setembro de 2022, o álbum “Deixa ela falar” denuncia o machismo de uma sociedade extremamente falocêntrica. Mas vai além: demonstra que corpos invisibilizados, silenciados (e, portanto, desacreditados) são máquinas de potencialidades múltiplas. Para além das normatizações que aniquilam existências, falamos também sobre sua trajetória, direito à cultura, artes enquanto lentes que amplificam realidades e tensionam hegemonias.
Ainda, pontuamos a política local para além da exaltação ao conservadorismo, afinal, Londrina também é terra de Simone Mazzer, Yá Mukumby, entre outras lideranças que reafirmam: existem muitas Londrinas dentro de Londrina.
Agradecemos imensuravelmente a Janete El Haouli e ao projeto circulasons por possibilitarem este encontro.
28 de maio é considerado o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e Dia Nacional da Redução da Mortalidade Materna. Face à data, recebemos a médica de Família e Comunidade, Débora Anhaia de Campos para uma conversa sobre as disputas envolvendo o acesso aos direitos sexuais e reprodutivos no Brasil, serviços que, como sabemos ao longo do episódio, são ainda mais negligenciados para mulheres negras, vítimas mais recorrentes de internações e mortes por aborto no país, por exemplo.
Ainda, falamos sobre a resistência à educação sexual nas escolas, afinal, a quais grupos interessa que crianças e adolescentes não reconheçam que seus corpos estão sendo violados? Também discutimos a importância de os meios de comunicação pautarem as violências de gênero de maneira a não reproduzir estereótipos, de saúde mental e a potencialidade de criarmos redes para nos mantermos seguras e vivas.
Na luta contra misoginia, racismo, colonialismo que todos os dias arranca muitas de nós – visto que o Brasil é o 5º país que mais mata mulheres no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde – precisamos estar de pé, mas quem cuida de quem passa grande parte do tempo cuidando? Como alertou Conceição Evaristo: “Combinaram de nos matar. Mas nós combinamos de não morrer” e neste processo de não tombar, a escuta é preponderante. Por isso, lhe convidamos para conhecer, além de nossas memórias, também as compartilhadas por nossa entrevistada Débora e de tantas outras mulheres que lhe atravessam ao prestar atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS).
Canais de denúncia
Para emergências, a vítima ou qualquer pessoa que presencie a agressão, deve acionar a Polícia imediatamente, ligando para 190.
Caso esteja vivenciando um relacionamento abusivo ou saiba de uma situação violenta, ligue 180 para registrar uma denúncia que pode ser anônima. O serviço também possui canal via WhatsApp através do número (61) 9610-0180. O atendimento está disponível para todo o Brasil, 24 horas por dia, durante os sete dias da semana, inclusive feriados.
Você também pode registrar boletim de ocorrência em uma Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM), especializada para esse tipo de situação. Clicando aqui, você encontra o Mapa das Delegacias da Mulher, realizado pela AzMina.
Neste episódio, convidamos todes para caminhar conosco pela história – esta que como alerta a pensadora feminista, chicana, escritora de cartas para nós, “mulheres do terceiro mundo” – pode ser curandeira quando possibilita olhares para realidades outras, que nem sempre são vistas.
O roteiro da viagem é o seguinte: primeiramente, visitamos a Livraria Olga, a mais bonita da cidade, no último fim de semana, para acompanhar o lançamento do e-book “Vigilâncias e Silenciamentos Durante a Ditadura Militar Brasileira” (aliás, você pode baixar a coletânea gratuitamente, disponível aqui).
Depois seguimos para a Casa do Pioneiro para entrevista com o professor Grimaldo Carneiro Zachariadhes, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele, cujos estudos são voltados a compreender a repressão e resistências durante a ditadura civil-militar no Brasil e suas relações com segmentos religiosos, veio a Londrina para acompanhar o evento e falou com a gente nesta segunda-feira (22).
Regredindo um pouco mais, chegamos logo ali: 1964. Junto aos textos da obra e em conversa com o pesquisador, abordamos assuntos como reflexos dos anos de chumbo na atual organização da sociedade brasileira, ascensão de movimentos negacionistas e revisionistas, interfaces entre religiões e conservadorismo, direito à memória, sobretudo, de grupos subalternizados como indígenas e camponeses.
Ainda, partindo da greve de docentes das universidades estaduais no Paraná, pontuamos a criminalização do movimento sindical no país e as tentativas de apagar as lutas e conquistas da classe trabalhadora.
A história é cíclica e, portanto, “presente e passado” se misturam. “O novo pode [sim] nascer”, mas está em constante disputa. Coloque o tênis e venha com a gente tecer estratégias e afetos para hackear o futuro.
Neste episódio, recebemos Gilza Kaingang, primeira mestra indígena formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), atualmente, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da mesma Instituição e integrante da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA). Na conversa, abordamos reprodução de estereótipos, importância de uma educação decolonial desde o ensino básico, papeis das mulheres nas comunidades, perspectivas no acesso a direitos pelos povos originários que, pela primeira vez na história contam com um Ministério. Mas como alerta Gilza "a resistência começou desde 1.500".
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