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O sol levanta, o despertador toca e lá vamos nós novamente para o nosso cotidiano. Aquela espreguiçada é ótima para acordar o corpo. A partir daí, o relógio do dia começa a seguir, maquinalmente. Assim como o ponteiro faz a mesma volta fatídica, nós também acabamos por seguir com nossos automatismos, retornando aos mesmos afetos, raciocínios, entre outros.
As preocupações do trabalho chegam, delírios de uma futura demissão bate à porta. O namorado ou a namorada não mandou mensagem de bom dia. "Será que ele me ama?"; "onde ele está? o que está fazendo?". O gato espirra e já pensamos em uma possível pneumonia. A foto postada na rede me afeta porque meus dois amigos saíram sem mim: "será que eu tenho amigos de verdade?"
Mal o relógio da parede deu uma volta e nós já demos cinquenta voltas em torno do sol com nossas mentes. Não porque tudo o que foi pensado aconteceu, mas porque nós, seres humanos, tendemos, naturalmente, a pensar sempre em cenários negativos de futuro, a fim de garantir e antecipar o sofrimento, antecipando uma possível resolução. O fato é que muito do que fantasiamos, não acontece.
Esse caminho automático de buscar a m*rda é comum. É uma atitude de vida que, sem consciência, acabamos por seguir facilmente. Sobre isso, as moscas já fazem esse caminho há milhões de anos. Elas são grandes recicladoras da natureza. Porém, nós humanos, superamos esses seres alados e buscamos as m*rdas futuras!
Muitos de nós, presos nesse automatismo, buscamos a m*rda, comemos m*rda e defecamos a m*rda e comemos de novo – é um ciclo infinito. Pois, assim que já defecamos já temos o alimento fresquinho. Diferente das moscas, nós buscamos tanta m*rda que não existe tempo hábil para as reciclagens, aliás, não existe nem matéria prima para isso, já que toda essa montanha de m*rda é uma antecipação.
Seria mais fácil não procurar a m*rda, afinal, as m*rdas da vida, querendo ou não, caem sobre nossas cabeças numa quarta-feira à tarde, subitamente, no momento em que nos damos o direito de relaxar um pouco. Essas, ao contrário das supracitadas, são menos ilusórias. E, sim, fazendo o papel de mosca, deveríamos reciclá-las, isto é, refletir, levar para terapia, em prol de uma solução.
Outro inseto tão importante quanto a mosca nos habita: a abelha – a grande produtora de mel! Isso, simbolicamente, o elixir dos deuses. O processo de produção do mel envolve várias etapas e ocorre nas colmeias, onde as abelhas vivem e trabalham. A primeira coisa que uma abelha melífera faz é a coleta de néctar! Elas voam de flor em flor coletando néctar, que é uma substância açucarada produzida pelas plantas. Elas usam sua língua, chamada de probóscide, para sugar o néctar das flores.
Aqui já percebemos que deixar de buscar a m*rda para produzir o mel é mais dificultoso, pois esse processo demanda de uma prontidão e de uma determinação do indivíduo, seja da abelha, seja do ser humano. Já, na atitude "mosca" está tudo pronto. Isto é, no começo não é automático igual a m*rda, precisamos daquilo que se chama consciência!
O mel psíquico aqui é o que está em foco. Quando nos policiamos diante da atitude de buscar as m*rdas e começamos a tentar encontrar néctar e produzir mel, estamos agindo não somente em prol de nós mesmos como em prol da comunidade, da sociedade, da diversidade e da alteridade.
O símbolo do mel é diverso. Como vemos: Fertilidade e reprodução; Saúde e cura; Imortalidade e vida após a morte; Sabedoria e conhecimento; Abundância e prosperidade; União e harmonia.
Aqui não quero defender uma ou outra atitude de vida. Afinal, precisamos ser moscas para reciclar as verdadeiras m*rdas que nos chegam. Reciclando elas, teremos um belo de um adubo para assim fazer as plantas cresceram, florescerem e, então, buscarmos o néctar para produzir o mel. Ou seja, minha proposta é ser mosca e abelha na medida certa! Uma não vive sem a outra.
Leonardo Torres, analista junguiano.