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By Lediane Santos Souza
The podcast currently has 22 episodes available.
A crônica Eu sei, mas não devia, publicada pela autora Marina Colasanti (1937) no Jornal do Brasil, em 1972, continua nos cativando até os dias de hoje. Ela nos lembra de como, muitas vezes, deixamos as nossas vidas se esvaziarem acomodados numa rotina repetitiva e estéril que não nos permite admirar a beleza que está a nossa volta. Convida o leitor a refletir sobre a sociedade de consumo, sobre como lidamos com as injustiças presentes no mundo e sobre a velocidade do tempo em que vivemos, que nos obriga a avançar sem apreciar o que está ao nosso redor. Ao longo dos parágrafos vamos nos dando conta de como nos acostumamos com situações adversas e, em determinado momento, passamos a operar no automático. O narrador dá exemplos de pequenas concessões progressivas que vamos fazendo até, afinal, ficarmos numa situação de tristeza e esterilidade sem sequer nos darmos conta. Vamos também perdendo paulatinamente a nossa identidade a cada vez que o turbilhão da vida nos atropela. A escrita de Marina nos coloca igualmente diante de uma importante questão: somos o que genuinamente somos ou somos aquilo que esperavam que nós fossemos?
O narrador de Eu sei, mas não devia retrata circunstâncias bastante mundanas e com as quais todos nós conseguimos facilmente nos relacionar. Descobrimo-nos afinal apáticos: sem reação, sem identidade, sem empatia com o outro, sem surpresa, sem euforia. Nos tornamos meros espectadores da nossa própria vida ao invés de extrairmos dela o máximo de potencialidade. O texto de Marina nos fala especialmente porque se trata de um contexto estressado e apressado vivido num centro urbano. Vamos no dia a dia esbarrando com uma série de situações marcadas pelo conformismo e pela acomodação. Em prol de vivermos uma vida que achamos que devemos viver, acabamos privados de uma série de experiências que nos dariam prazer e nos fariam sentir especiais. O texto de Marina Colasanti pode ser lido como uma bem sucedida chamada de atenção para não nos deixarmos nunca afundar numa rotina vazia.
Nesse poema, o eu lírico fala sobre o destino como diz o próprio título. "Descreve"
"MARIA" Texto de conceição Evaristo do livro "Olhos d' Água". Uma das principais vozes negras na literatura contemporânea, Conceição nasceu em novembro de 1946 em uma família humilde, a segunda de 9 irmãos. Foi a primeira de sua casa a conseguir um diploma universitário. Filha de lavadeira, cresceu na periferia de Belo Horizonte. Aos sete anos foi morar com uma tia que não tinha filhos, teve oportunidade de estudar, mas mesmo assim, “os períodos de estudo foram entremeados com o trabalho de babá, muitas vezes, trocava a limpeza da casa por livros”, conta. “Em dado momento, estudava à noite, limpava casa de manhã e fazia estágio à tarde”. Também ajudava a mãe e a tia a lavar e a entregar as trouxas de roupas. Olhava crianças da vizinhança, tudo que pudesse render um troco, mas sem deixar os estudos de lado. Ao terminar o antigo primário, ganhou o primeiro prêmio de literatura com a redação: “Por que me orgulho de ser brasileira”. Nos anos 70, se mudou para o Rio de Janeiro, onde passou em um concurso. “Trabalhei com o ensino fundamental, fiz mestrado e doutorado, mas só comecei a escrever nos anos 90”. Uma referência foi a leitura do diário Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus. Também uma mulher negra, nascida na favela e que enfrentou adversidades e a fome. “Esse livro teve um impacto sobre a minha família, líamos juntas todos os dias à tarde, a semelhança com a nossa vida era grande, passamos pelas mesmas dificuldades, minha mãe escreveu um diário, mas não me deixou publicá-lo”. “O que me aproxima de Carolina de Jesus é que somos mulheres oriundas de classes popular com um histórico de não pertencer a camada letrada, mas assumi a escrita, ela também me pertence”, diz. “Carolina foi uma mulher muito corajosa que reivindicou para si o que o entorno negava”. Em seus livros, Conceição explora o universo, toda a complexidade e a humanidade da mulher negra. Escritora versátil, autora de romances, contos e poemas, com textos publicados no exterior. Entre seus livros, destaque para Ponciá Vicêncio (2003), Becos da Memória (2006) e Olhos d' água (2015) entre outras obras.
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