Primeiro longa-metragem de Eduardo Morotó, A Morte Habita À Noite traz não apenas a morte como fio condutor da narrativa, como também a melancolia, a decadência e a desesperança em todo o conjunto. Com distribuição da Vitrine Filmes, a produção é assinada por Enquadramento Produções e Plano 9, em coprodução com Baraúna Filmes e já está nos cinemas do país.
O filme apresenta a história de Raul (Roney Vilella), um escritor desempregado que escuta um barulho de um corpo caindo do prédio em que mora, ao lado de sua namorada Lígia (Mariana Nunes), que fica completamente perturbada com o incidente, chegando ao ponto de isso afetar inclusive a relação dos dois.
Cansado da vida que está levando, Raul decide sair e encontra em um bar na noite de uma Recife melancólica, Cássia (Endi Vasconcelos), uma jovem errante, cheia de traumas, mas que tem ao mesmo tempo, muita vontade de viver. Assim, ela forma um contraponto perante a personalidade melancólica e triste do escritor, já que o enche de alegria, companhia e possibilidades de um novo afeto, em meio a um ambiente de miséria e penumbra.
Depois de Cassia, vem Inês (Rita Carelli), para uma última companhia à Raul já na parte final do filme, onde ela eleva um pouco mais a vida do escritor, tanto que a fotografia deste trecho já é um tanto mais saturada, diferenciada de outros trechos. Por falar em fotografia, Morotó aposta muito nesse recurso, tendo o longa de um modo geral uma fotografia escura, um tanto onírica e nos levando ao sentimento de decadência e melancolia que permeia a vida de Roney, que trabalhando entre tantos bicos, sonha em um dia ser publicado.
A morte está sempre rondando a vida do escritor, desde o começo do longa, com a morte de um corpo já nas primeiras cenas, como também na morte de seu relacionamento, na morte de si mesmo a cada dia desesperançoso e na morte das mulheres que passam na sua vida e se vão. Para quem assiste há a impressão de que vemos Raul a partir da mirada das mulheres que aparecem no longa. Assim, teríamos como três atos sobre sua vida, com miradas e aventuras distintas, com uma interpretação e caracterização convincentes da miséria, através da interpretação de Vilella.
Morotó também faz surgir em cena a atmosfera de um Bukowski, já que o filme traz o retrato de um escritor completamente sem dinheiro, com mulheres que passam errantes em sua vida, ao passo que está sempre encharcado de álcool, muita fumaça de cigarro e desilusões.
Desta forma, o diretor trabalha os personagens na solidão, vivendo na marginalidade social, além de terem uma vida boêmia. Tudo isso bem demonstrado pela decadência dos bares que frequentam, além das ruas desertas e mal iluminadas, como é também a casa de Raul.
Somada a essa atmosfera, vemos personagens melancólicas que veem uma espécie de energia na noite, vagando por ela, bebendo e fumando, sem qualquer perspectiva de vida, nômades em uma vida sem propósito e qualquer esperança, vivendo apenas o momento.
Chama a atenção a composição de uma cena em que Raul está com suas malas em um beco escuro, e no muro vemos um grafitti bem desgastado da palavra Brasil, ao lado de um contêiner cheio de lixo. Representando em um frame o que muitos de nós podemos sentir em atualmente em relação ao nosso país, já que muitas dessas personagens fazem parte da realidade brasileira que tenta se reerguer em seu cotidiano, sem perspectiva e com vários tipos de morte à sua espreita.
Direção: Eduardo Morotó
Roteiro: Eduardo Morotó
Produção: Leonardo Mecchi, Mannu Costa E Henrique Spencer
Produção Executiva: Rayssa Costa, Leonardo Mecchi E Henrique Spencer
Diretor Assistente: Renan Brandão
Direção de Produção: Lucas Rossi
Direção de Fotografia: Marcelo Martins Santiago
Direção de arte: Júnior Paixão
Figurino: Carol Azevedo
Maquiagem: Eline Soares
Montagem: Frederico Benevides
Som Direto: Lucas Caminha E Nicolau Domingues
Música Original: Pedro Gracindo
Designer Gráfico: Zeca Bral
Créditos e Letterings: André Pinto
Distribuidora: Vitrine Filmes