Segurança Legal

#393 – Impactos do analfabetismo funcional na tecnologia


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Neste episódio, comentamos os impactos do analfabetismo funcional na tecnologia, analisando como a dificuldade de interpretação e análise crítica afeta a segurança digital, a proteção de dados e a economia.​

Aprofundando a discussão a partir de um estudo do INAF, os apresentadores Guilherme Goulart e Vinícius Serafim, ambos professores com vasta experiência, exploram como os baixos níveis de alfabetismo funcional no Brasil criam um ambiente vulnerável. Eles debatem como a dificuldade em interpretar informações torna a população um alvo fácil para fraudes bancárias, golpes de engenharia social e a disseminação de fake news. O episódio também aborda os riscos sistêmicos que isso representa para a segurança da informação nas empresas, a fragilidade na gestão da privacidade e os desafios para a efetiva proteção de dados, questionando a validade do consentimento informado em um contexto de baixa compreensão. As implicações para a economia digital e a capacidade de usar o governo digital com segurança são outros pontos centrais da conversa.​

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ShowNotes

  • Artigo de Ana Frazão – Analfabetismo funcional e riscos de manipulação
  • INAF – Indicador de Alfabetismo Funcional
  • Matriz de habilidades do INAF
  • Pesquisa retratos da leitura de 2024
  • Brasil fica entre os piores em teste de criatividade do Pisa
  • 📝 Transcrição do Episódio

    (00:03) Este é o Segurança Legal, episódio 393, gravado em 23 de maio de 2025: Impactos do analfabetismo funcional na tecnologia. Neste episódio, fazemos uma análise da pesquisa do INAF com foco nos seus impactos na tecnologia. Segurança Legal com Guilherme Goulart e Vinícius Serafim. Um oferecimento Brown Pipe Consultoria.

    (00:31) [Música] Sejam todos muito bem-vindos. Estamos de volta com o Segurança Legal, seu podcast de segurança da informação e direito da tecnologia. Eu sou Guilherme Goulart e aqui comigo está o meu amigo Vinícius Serafim. E aí, Vinícius, tudo bem? E aí, Guilherme? Olá aos nossos ouvintes. Estou de volta. A gente já estava um tempão sem gravar. Na semana passada eu não consegui, tanto que você teve que gravar sozinho.

    (01:12) Depois de um longo tempo, olá novamente aos nossos ouvintes. Estamos de volta. Nós somos resilientes, não deixamos a peteca cair. Sempre lembrando que, para nós, é fundamental a participação de todos por meio de perguntas, críticas e sugestões de temas. Vocês já sabem os canais: podcast@segurançalegal.com, YouTube, Mastodon, Blue Sky e Instagram.

    (01:31) Também temos a nossa campanha de financiamento coletivo lá no apoia.se/segurançalegal. Se você puder, apoie. No último episódio, Vinícius, comentei sobre as pessoas que, quando tivemos o problema de migração para o PicPay, não voltaram para o Apoia.se. Se você é uma delas, conclamamos você a voltar a nos apoiar.

    (01:50) O seu apoio é importante para o podcast. Lá no YouTube você consegue ver os nossos rostos e também fazer seus comentários, curtir, enfim, tudo aquilo que vocês já sabem. Neste episódio, nos chamou bastante atenção um texto publicado no Jota pela Ana Frazão, uma autora bem conhecida na área de IA, proteção de dados e direito. Ela escreveu um artigo com o título “Analfabetismo funcional e riscos de manipulação”.

    (02:22) O subtítulo é: “A falta de educação da população brasileira potencializa os riscos do capitalismo de vigilância”. Ela está correlacionando o papel das big techs, das redes sociais e também da proteção de dados. Basicamente, ela se baseia em uma pesquisa, um estudo feito pelo INAF.

    (02:49) Será justamente o estudo sobre o qual falaremos aqui. Ela toma como ponto de partida esse estudo que avalia o indicador de alfabetismo funcional no Brasil. Claro, de um lado o alfabetismo funcional e, do outro, o analfabetismo funcional, que é um conceito bem conhecido.

    (03:13) Fala-se muito no Brasil sobre o analfabetismo funcional, mas vamos avançar um pouco. No primeiro momento, partindo do texto da Ana Frazão, explicaremos alguns elementos desse estudo do INAF e, depois, falaremos um pouco sobre os impactos do analfabetismo funcional na tecnologia de maneira geral, mas também sobre segurança da informação e proteção de dados pessoais. Então, fique conosco, não saia daí.

    (03:43) Guilherme, tem uma coisa muito interessante. Eu e o Guilherme temos vários pontos de contato com isso, motivo pelo qual nos interessou esse estudo, porque tanto eu quanto o Guilherme somos professores. Eu sou professor há mais de 20 anos.

    (04:06) Comecei a dar aula lá em 1999, quando estava fazendo meu mestrado, por volta de 1999, 2000, em cursos de graduação. O Guilherme também já tem uma estrada aí de uns 10 anos ou mais. Na graduação, 11 anos, mas muitos mais em pós-graduação também. Nós temos uma ligação com essa questão do analfabetismo funcional ou alfabetismo funcional, e acompanhamos essa história dos alunos que vêm chegando

    (04:45) às universidades, as turmas que, com o passar do tempo, vamos recebendo e as dificuldades que fomos percebendo cada vez mais nos alunos. Ao mesmo tempo, estamos falando de 20 anos atrás. Em 2000 não havia iPhone, não havia smartphone. O iPhone foi aparecer em 2007.

    (05:09) Em 2000 não tínhamos isso. Não sei se o Orkut já existia naquela época. A gente percebe… 2007, foi isso. 2007. Mas mesmo assim, faz um tempão. A gente acompanha esse negócio há muito tempo.

    (05:40) Pelo lado da segurança da informação e proteção de dados, e já comentamos isso várias vezes aqui no Segurança Legal, nos diversos episódios em que falamos sobre o uso de redes sociais, sobre crianças na internet, sobre esses efeitos, a necessidade de se compreender o que se está fazendo na internet, a capacidade de análise, isso já colocamos várias vezes aqui ao longo de todos esses anos de Segurança Legal.

    (06:06) Pode parecer para você que este assunto não tem nada a ver com segurança da informação ou com proteção de dados. Na verdade, vamos ver que não só pelo artigo da Ana Frazão, que faz justamente essa vinculação com proteção de dados,

    (06:30) mas com todo o contexto da segurança da informação que vamos trazer aqui, o tipo de prejuízo que o problema do analfabetismo funcional traz para as pessoas diretamente e, de forma indireta, por meio dos serviços, das empresas. Porque não pensem, vocês vão ver os números que apresentaremos, que analfabetismo funcional tem a ver com o puro e simples analfabetismo no sentido da pessoa não conseguir ler. A coisa é muito mais grave. Vocês vão ver que um percentual

    (07:07) bastante relevante da nossa população se enquadra em um nível de alfabetismo rudimentar ou mesmo analfabeto. A maioria esmagadora é de elementar para baixo. Mas, feito esse introito, acho que dá para começar explicando justamente isso.

    (07:32) Em primeiro lugar, o estudo parte de quatro habilidades que as pessoas teriam, e ele mede essas quatro habilidades. Eu vou listá-las aqui e você dá uma breve explicação delas, Vinícius. Eu já separei aqui.

    (07:50) Vamos lá. Em algum momento isso vai ser bem importante para entendermos o impacto disso na segurança. Quais foram as quatro habilidades medidas? Primeira: reconhecer e decodificar. Segunda: localizar e identificar. Você fala uma e eu dou a definição. Vai lá. Ah, beleza. Reconhecer e decodificar é reconhecer uma letra, um número, um símbolo, elementos gráficos.

    (08:13) Notem que é algo bem básico. No contexto digital, identificar ícones, hyperlinks, funções touchscroll. A aplicação vai desde o reconhecimento de pontuação até navegar em interfaces digitais, certo? Isso é o reconhecer e decodificar.

    (08:39) Acho que ele vai do básico para o mais complexo. Depois é localizar e identificar: a capacidade de encontrar informações específicas em textos e ambientes digitais. A complexidade vai da localização de uma informação saliente, ou seja, algo evidente no texto, até o uso de mecanismos de busca como o Google.

    (09:05) A aplicação dessa habilidade é encontrar dados em textos, tabelas, gráficos e sites. Certo? Conseguir encontrar a informação. Depois, avaliar e refletir… Na verdade, essa para mim é a quarta, Guilherme. Acho que você pulou “compreender e inferir”. Ah, é verdade.

    (09:35) Eu anotei a ordem errada. É compreender e inferir. Essa é a última. Tem razão. Compreender e inferir, que é o próximo nível, é a integração e interpretação de informações, o estabelecimento de conexões lógicas. Então, obter um conjunto, encontrar informações e estabelecer uma relação lógica entre elas.

    (09:59) As habilidades envolvidas aí são comparação, ordenação, operações matemáticas, deduções, etc. As aplicações dessa habilidade são resolver problemas, interpretar gráficos, fazer inferências. Certo? É isso. Eu identifico as informações, consigo correlacioná-las e resolver problemas a partir delas. E a última habilidade é avaliar e refletir.

    (10:37) Avaliar e refletir, como o próprio nome diz, é avaliar e refletir sobre aquilo que você levantou. É a capacidade de fazer análise crítica, confrontar informações, emitir pareceres. A complexidade envolvida é verificar veracidade, identificar viés, fazer julgamentos éticos.

    (11:00) Eu gosto muito desses exemplos de aplicação, como avaliar fake news. Você vê uma notícia e consegue identificar que ela é falsa. Vou dar um exemplo rapidinho. Mais de uma vez eu vi pessoas na imprensa citando a “greve de robôs na Índia”.

    (11:27) As pessoas às vezes extrapolam um pouco o que os robôs podem fazer. E se você vai atrás, vê que não foi isso, foi um experimento. Não tem nada a ver com greve de robôs. Então, conseguir avaliar uma fake news, desde uma coisa simples assim até algo político, analisar argumentos, perceber quando um argumento é falso, tomar decisões fundamentadas. Esse é o último nível.

    (11:56) Só lembrando que aqui estamos fazendo um resumo, porque existe uma tabela, a matriz de habilidades do INAF, que é bem mais complexa, com uma série de sub-habilidades. É um resumo para posicionar o ouvinte na mesma página que a gente.

    (12:15) É bem importante que vocês tenham essas quatro habilidades em mente na sequência do episódio. Se quiser, volte e ouva de novo para gravar bem. Entendendo quais são essas habilidades, a gente consegue reconhecer a gravidade da nossa situação, que é o que veremos na sequência.

    (12:40) Depois que eles avaliam essas quatro habilidades, eles encaixam as pessoas avaliadas em cinco níveis. O primeiro é o analfabeto. Ele tem dificuldades básicas em reconhecer e decodificar, como ver os símbolos que falamos agora.

    (13:11) Não reconhece direito letras, números, símbolos, gráficos, etc. Não consegue identificar sinais de pontuação ou matemáticos. Por exemplo, ver um “E” de somatório, o sigma.

    (13:35) É incapaz de ler palavras e frases curtas. Não reconhece funções digitais básicas como hyperlink ou ícone. É um nível bem delicado de falta de capacidade. Esse é o nível analfabeto. O próximo é o rudimentar.

    (14:02) O rudimentar tem capacidades limitadas. Consegue fazer o reconhecimento e decodificação básica (letra, número, símbolo, placa). Consegue localizar informações explícitas ou salientes, que são óbvias no texto. Tem dificuldade em compreender e inferir, no sentido de integrar e interpretar informações.

    (14:35) Ele consegue pegar o óbvio, mas tem dificuldade de estabelecer relações entre as informações que está levantando, de resolver problemas. Consequentemente, tem dificuldade em avaliar e refletir. Se não consegue compreender e inferir, o avaliar e refletir vai junto, porque não consegue racionalizar sobre argumentos ou tomar decisões fundamentadas.

    (15:04) O estudo cita como exemplo: localizam número de telefone e datas, mas não fazem conexões. Isso é o rudimentar. E o elementar? O elementar tem competências intermediárias, com bom desempenho em reconhecer e localizar. Consegue reconhecer os símbolos e localizar as informações.

    (15:24) Em contextos simples, consegue compreender e inferir, ou seja, levantar informações e estabelecer relações lógicas entre elas. Consegue preencher formulários e comparar informações básicas, mas tem dificuldade em avaliar e refletir, ou seja, não identifica fake news ou algum tipo de viés no que está sendo lido. Esse é o elementar. Depois, temos o intermediário e o proficiente.

    (16:03) O intermediário domina os três primeiros grupos de habilidade: reconhecimento, localização, e a inferência e correlação. A capacidade de avaliar e refletir está em desenvolvimento no intermediário, não está plena. Ele consegue resolver problemas complexos e identificar evidências em argumentos, se são válidas ou não. Tem limitação em

    (16:36) análises críticas sofisticadas, inclusive políticas. E o nível proficiente são as competências plenas.

    (17:01) Domina todos os quatro grupos de habilidades. Avalia a veracidade de informações, elabora sínteses e argumentações, toma decisões baseadas em análises críticas. Por exemplo, eu não vou fazer uma coisa só porque o Guilherme disse que eu deveria fazer. Consigo avaliar o que ele está me dizendo, ir atrás dos argumentos dele, ver se há evidência que os ampare e aí tomar a decisão. Navega competentemente no ambiente digital. Esse é o proficiente.

    (17:27) Então, os nossos cinco níveis são analfabeto, rudimentar e elementar. Esses três são bem críticos. O intermediário melhora bastante e o proficiente é o pleno. Eles agrupam o intermediário e o proficiente como “alfabetismo funcional pleno”.

    (17:59) E agrupam o rudimentar e o analfabeto como “analfabetismo funcional”. O elementar fica no meio do caminho. Esses são os parâmetros que eles utilizaram na classificação.

    (18:23) Vamos a alguns dados. Como sempre dizemos, quando falamos sobre um estudo ou um livro, você ouve o podcast, mas depois vai lá ler o material original, caso lhe interesse, para chegar às suas próprias conclusões. O estudo tem uma série histórica e começa fazendo essa avaliação. Ao longo dos anos, houve de fato uma diminuição no analfabetismo no Brasil, mas o nível de proficiência não se alterou em toda a série histórica.

    (19:11) Estamos resolvendo um problema que tem que ser resolvido, que é eliminar o analfabetismo. Isso é muito bom. Mas não é suficiente se você não consegue aumentar o nível de proficiência, que na série histórica fica em torno de 12%. Somente 12% da população é considerada proficiente, o que me parece pouco. Tenho certeza que é pouco.

    (19:52) Diminui-se o analfabetismo, mas não se avança no aumento da proficiência. Inclusive, na última avaliação, de 2024, comparada com a anterior, de 2018, o nível de proficiência baixou de 12% para 10%.

    (20:16) Os 12% que falei é uma média histórica. Da última avaliação para esta, baixou. Outra coisa interessante é que não dá para fazer uma correlação direta entre alfabetismo e escolaridade. Poderíamos imaginar que a pessoa que concluiu o ensino fundamental não seria analfabeta funcional.

    (20:39) Os números dizem o contrário: 43% dos analfabetos funcionais concluíram o fundamental. Você poderia imaginar que o ensino fundamental prepararia a pessoa para análises mais avançadas. Olhando o nível de proficiência, 38% estudaram até o ensino médio e 54% têm ensino superior. Mas dentro do ensino superior,

    (21:18) tem uma coisa interessante, e acho que esse foi o número que mais nos chamou a atenção. No ensino superior, 1% é considerado analfabeto, 11% rudimentar e 27% elementar. Se juntarmos analfabeto e rudimentar, são 12% de analfabetos funcionais no ensino superior. Ficamos com 38% de intermediários e somente 23% de proficientes com ensino superior.

    (21:59) Confesso que eu imaginava que era mais. Esperava mais de quem conclui o ensino superior. Se você junta rudimentar, elementar e analfabeto, dá 39% das pessoas que estão no ensino superior. Me chama a atenção, Guilherme, que entre quem cursa até a quinta série do ensino fundamental,

    (22:27) 39% ainda são analfabetos. Da sexta série em diante, esse número cai muito, para 5,6%. Fazer até a quinta série não quer dizer que a pessoa seja alfabetizada de fato. Há um nível muito alto de analfabetismo.

    (23:00) O nível rudimentar não altera tanto. Até a quinta série, é 42%. Da sexta à nona, é 37%. O nível elementar tem um aumento expressivo, de 15% para quem fez até a quinta série para 40% para quem fez entre a sexta e a nona.

    (23:35) Há uma mudança muito forte ali. Do nono ano para o ensino médio, vemos uma redução. O analfabetismo reduz de 5,6% para 0,9%. O rudimentar vai de 37% para 15%.

    (24:01) O elementar vai de 40% para 45%. O intermediário vai de 14% para 29% e o proficiente de 2,9% para 8,9%. Melhora bastante até o ensino médio, mas ainda assim, apenas 8% são proficientes.

    (24:27) Juntando proficientes e intermediários (alfabetizados funcionais plenos), estamos falando de aproximadamente 31%. Os outros 69% (elementar, rudimentar e analfabeto) no ensino médio é um número ainda muito ruim.

    (25:00) Quando vai para o ensino superior, o analfabetismo continua parecido: 0,9% no médio, 0,7% no superior. Não sei como é possível ter alguém analfabeto funcional no ensino superior, mas enfim. Não tem cabimento.

    (25:24) O rudimentar vai de 15,9% para 11,2%. O elementar cai de 45% para 26%. Claro, aumenta o intermediário de 29% para 37% e o proficiente de 8,9% para 23,5%. Mas ainda assim, temos uns 38% de elementar para baixo. É bastante preocupante esse resultado. Percebe-se uma melhora, mas não no ritmo que deveria ser. Não se pode ter analfabetismo após a quinta série.

    (26:12) Tem que acabar ali. Mas sabemos que tem, o estudo aponta isso. Eles também avaliaram o alfabetismo no contexto digital em três níveis: baixo, médio e alto desempenho.

    (26:35) De maneira geral, 25% têm baixo desempenho, 53% médio e 23% alto. É interessante que, entre os proficientes da outra classificação, 60% têm alto desempenho no contexto digital.

    (27:08) Poderíamos imaginar que todos os proficientes teriam alto nível no contexto digital, mas não é verdade. E quando se olha a escolaridade, só 39% do nível superior têm alto desempenho no contexto digital.

    (27:38) Isso indica que o nível superior não está necessariamente ligado a um alto desempenho digital. Isso se conecta com o que temos falado: o uso de ferramentas digitais não foi plenamente incorporado na educação, nem na básica nem na superior.

    (28:17) Não conseguimos incluir nem ferramentas menos complexas de IA no ensino superior. Notamos a dificuldade dos alunos em usar programas básicos como Word e Excel. Eles têm dificuldade nesse tipo de competência. Eles fizeram avaliações de faixa etária, e é interessante: 36% das pessoas de 15 a 29 anos têm alto nível de desempenho digital, enquanto apenas 6% na faixa de 50 a 64 anos, o que marca a exclusão

    (28:55) digital e a dificuldade que os mais velhos têm nos contextos digitais. Gostaria de trazer outros elementos. Acho que os números ficaram claros. Quem tiver mais curiosidade pode consultar o estudo.

    (29:22) Podemos adicionar que o Brasil hoje é o segundo lugar no mundo em tempo de tela. Tenho números de 2023 ou 2024. Só perdemos para a África do Sul.

    (29:40) Não dá para fazer uma relação de causa e efeito, mas se os dados demonstram uma tendência de analfabetismo funcional em um país que é o segundo em tempo de tela (9 horas e meia), uma das reportagens que li dizia que o brasileiro fica mais tempo usando telas do que dormindo, o que é impressionante. O Brasil acaba sendo um

    (30:20) campo muito frutífero para tentativas de manipulações variadas, não somente políticas. Estamos tendo agora a CPI das bets. Não sei se você acompanhou, Vinícius, mas há uma CPI envolvendo influenciadores que eu desconhecia e que influenciavam pessoas a jogar. A própria percepção e as habilidades necessárias para entender o que é um cassino virtual

    (30:58) e seus algoritmos são complexas. A própria lógica desses jogos é que eles são feitos para você perder. Eles são feitos para te entreter em troca do seu dinheiro. Você se entretém e paga bem por isso.

    (31:25) O impressionante é ver que influenciadores digitais conseguem de fato influenciar grandes grupos de pessoas a entrar nisso, e os números que eles ganham são milionários. Há um aspecto moral e ético, mas também dá para fazer uma relação.

    (31:51) Quem essas pessoas estão influenciando? Esse é um ponto. Outro dado, de 2024, de uma pesquisa sobre hábitos de leitura, mostra que 53% dos brasileiros não leem livros. Para essa pesquisa, “ler” é ter lido inteiro ou em partes pelo menos um livro nos últimos três meses.

    (32:27) O que mais me chamou a atenção nesse estudo é que, entre os leitores, somente 63% têm ensino superior, e eu digo “somente” porque acho que deveria ser 100%. Em 2019, eram 68%.

    (33:04) Dito tudo isso, acho que podemos passar para os impactos, Vinícius. Quais são as consequências do analfabetismo funcional mais para a parte tecnológica? Acabei de falar sobre as bets. É a dificuldade que a pessoa tem de lidar com a economia, de saber o que é poupar,

    (33:34) o que é investir. Compreender contextos financeiros e econômicos é algo que o analfabeto funcional não consegue.

    (33:53) Se quisermos puxar um pouco para a segurança na parte financeira, temos toda a questão de fraudes bancárias. O Brasil é campo fértil para isso. As pesquisas de jurisprudência que faço semanalmente mostram que a grande maioria dos casos de violação de dados são fraudes bancárias. Você começa a entender o contexto no qual essas fraudes se dão, sem falar em questões de empregabilidade, superendividamento, hábitos de consumo e a compreensão da desinformação.

    (34:47) O objetivo não é falar sobre fake news, mas quando olhamos para a habilidade de avaliar e refletir, ela está diretamente relacionada à identificação de desinformação. E isso não é só na política, mas também na saúde. Vimos durante a pandemia as más compreensões sobre questões científicas bem estabelecidas e o abandono ou diminuição de campanhas de vacinação.

    (35:23) Isso me parece bem conectado. A própria ideia de qualidade de conteúdo: qual conteúdo floresce para analfabetos funcionais? Será que não podemos fazer uma relação com o engajamento e o florescimento de conteúdos frívolos? Temos agora os vídeos de “brain rot” criados por IA.

    (35:55) Deparei-me com alguns e você percebe que é IA. Será que não dá para fazer uma relação entre o analfabetismo funcional e o consumo desse tipo de conteúdo? Temos também os impactos no âmbito da segurança.

    (36:29) Como uma pessoa com esse nível de analfabetismo funcional lida com a segurança? Um dos primeiros aspectos é o phishing. Embora seja complexo, é inegável que a grande parte dos phishings são identificáveis. Quando vemos a classificação dos níveis, percebemos que até o nível elementar

    (37:06) há uma dificuldade grande de identificar informações e fazer correlações. Naturalmente, são vítimas perfeitas para phishing. Vemos golpes nem tão sofisticados, em que o criminoso pede para a pessoa fazer coisas absurdas, como: “Eu sou do seu banco, instale um aplicativo aqui e vire o celular com a tela para baixo”.

    (37:43) Muita gente caiu nesse golpe. Qual é a lógica de virar a tela para baixo? O criminoso pede isso para a pessoa não ver que ele está fazendo uma nova operação, um Pix.

    (38:12) Em que momento a pessoa não se liga no sentido de fazer isso? É um golpe ainda mais rudimentar do que um e-mail bem elaborado. Há outro golpe: você anuncia algo, e a pessoa diz: “Anuncia aqui no Mercado Livre que é mais garantido, eu compro de ti”.

    (38:43) Você anuncia, e o próprio criminoso te manda um e-mail, dizendo ser do Mercado Livre, pedindo um depósito caução para validar o anúncio. A pessoa paga um Pix para uma conta qualquer, não verifica, e no e-mail diz que ela vai receber o dinheiro de volta, o que não acontece.

    (39:13) Aí, outra pessoa se oferece para “ajudar” a recuperar o dinheiro, pede os dados e aplica mais um golpe, fazendo empréstimos em nome da vítima. São golpes relativamente rudimentares.

    (39:38) Fazer um Pix para uma conta que não é do Mercado Livre, achar que precisa pagar um valor alto para anunciar algo que uma simples pesquisa na internet esclareceria. São situações ainda mais fáceis do que um phishing por e-mail bem elaborado.

    (40:06) Sem contar os phishings bem elaborados, usando dados vazados, que é ainda pior. Não acho que possamos concluir que toda pessoa proficiente é imune à engenharia social. Não é isso.

    (40:26) O Troy Hunt, um dos maiores pesquisadores de segurança do mundo, caiu em um phishing recentemente. O ponto é que há uma relação: é mais fácil enganar um analfabeto funcional do que uma pessoa proficiente. Outra coisa: a dificuldade de treinar essas pessoas. Manter um comportamento seguro está diretamente relacionado à verificação e avaliação de riscos.

    (40:57) Riscos do cotidiano. Se o mundo está cada vez mais digitalizado, com sistemas como o GOV.BR, é preciso entender os riscos. Quando falamos de segurança em nível empresarial, o treinamento é um dos grandes elementos para lidar com o risco pessoal.

    (42:01) Pessoas analfabetas funcionais dificilmente conseguirão ser treinadas de maneira eficiente. Vemos isso na prática. Vemos pessoas bem formadas, na mesma universidade, na mesma turma,

    (42:26) que se formam mas infelizmente não deveriam. Cumprem os requisitos da prova, mas não desenvolveram uma capacidade analítica aprofundada na sua área de conhecimento.

    (42:51) Vemos muito disso acontecer no dia a dia. Aquele diploma não garante o domínio sobre o assunto. No final das contas, temos um risco sistêmico na segurança corporativa, porque as empresas são compostas por pessoas.

    (43:32) Você terá pessoas atuando nos mais variados níveis. Os funcionários que não são de TI, mas que usam e-mail, computador, operam sistemas. E você tem o pessoal da TI. Estamos fazendo um exercício aqui sobre os possíveis impactos. A que estamos expostos? Estamos expostos a perigos de riscos sistêmicos, porque as pessoas que trabalham na TI também podem ter baixos níveis de competência. Veja o risco de uma pessoa atuar numa dessas áreas sem conseguir exercitar a habilidade de

    (44:47) avaliar e refletir. Como uma pessoa sem essa habilidade consegue, por exemplo, analisar adequadamente logs em um incidente ou lidar com incidentes?

    (45:14) Estou falando do pessoal de TI e segurança. Isso é complexo. Na verdade, vale para qualquer profissão. Outra coisa: como lidar com mecanismos de segurança mais avançados? Será que um analfabeto funcional consegue compreender a autenticação de dois fatores? Ou como lidar adequadamente com suas senhas?

    (45:46) Acho que não. Mas para isso nem precisa ser analfabeto funcional. Muita gente que não é usa a mesma senha em tudo. Todo mundo com quem converso fora da área de TI usa a mesma senha em todos os lugares. Meu ponto não é fazer uma

    (46:18) relação direta, mas dizer que, se você precisar explicar a autenticação de dois fatores e a gestão de senhas, será muito mais difícil explicar para um analfabeto funcional do que para um proficiente. Às vezes a pessoa não tem a informação, não é a área dela, e isso é compreensível.

    (46:43) O ponto está ligado ao treinamento. A pessoa tem que entender o porquê da gestão de senhas. Se ela não entende o porquê, pode não conseguir cumprir a regra. Vou trazer alguns cenários e exemplos de riscos.

    (47:11) Um deles é o ataque de engenharia social. Cerca de 62% da população não consegue avaliar criticamente solicitações suspeitas, considerando os níveis que eles avaliaram.

    (47:35) Para phishing e sites maliciosos, 29% da população não seriam capazes de reconhecer uma URL suspeita, e 35% identificam que é um link, mas não avaliam a segurança. O phishing funciona muito bem. Propagação de malware: compartilhar arquivos maliciosos por falta de compreensão.

    (48:09) Muita gente confia no antivírus e fica instalando coisas, como um “crackerzinho” para o celular. Os joguinhos inocentes que o pessoal instala no celular, não tem cabimento o tipo de coisa que instalam.

    (48:32) Vazamento de dados pessoais e configurações de privacidade inadequadas. Tenho conversado muito sobre IA com várias pessoas.

    (48:58) 99% das pessoas que usam ferramentas de IA não acessaram as opções de configuração de privacidade. Não desativaram, por exemplo, a possibilidade de usar suas informações para treinar a IA para outros. E isso está lá nas ferramentas. E são pessoas que não são analfabetas funcionais, senão nem estariam usando a IA adequadamente.

    (49:31) Temos alguns impactos setoriais. No setor bancário, alto risco de fraudes. Seriam necessárias interfaces mais intuitivas para 65% da população, e educação do cliente. No e-commerce, fraudes em pagamento e necessidade de processos simplificados.

    (49:58) Já vimos o que a simplificação leva. Nossa experiência mostrou que, quando você tenta simplificar demais o processo porque o usuário não tem capacidade, acaba sendo obrigado a fragilizar a segurança.

    (50:30) No governo digital, mais de 4.000 serviços estão vinculados ao GOV.BR. Para usar, dependendo do serviço, é preciso ter conta ouro, com segundo fator ativo. Exige um gerador de código de uso único.

    (50:55) Muita gente nem sabe o que é isso. Pessoas idosas que precisam fazer uma operação no GOV.BR, como para o INSS, não conseguem.

    (51:20) Elas precisam de ajuda de alguém da família. Não estou dizendo que não deva haver medidas de segurança, mas talvez tenhamos que repensar algumas delas, porque são pessoas que não são autônomas.

    (51:43) Eu queria compartilhar o que pode ser feito de mitigação por nível. Muitas vezes, isso vai na contramão da simplificação. Para analfabetos funcionais (29%), seriam necessárias interfaces ultra intuitivas, alertas em linguagem simples, bloqueios automáticos e canais de atendimento humano. O que vemos cada vez mais?

    (52:36) Canais automatizados. Bloqueios automáticos existem, mas em muitos serviços não. E se bloqueia, preciso de um canal de atendimento que falha.

    (52:55) E a interface ultra intuitiva muitas vezes não é o forte das aplicações. Para o nível elementar (35%):

    (53:19) Indicadores visuais, confirmações duplas para ações sensíveis. Tudo o que um aplicativo que quer vender não quer é ficar pedindo confirmações. E educação contextual, explicar o que você está fazendo. Dou o exemplo do ChatGPT.

    (53:48) Nas configurações de dados, vai estar escrito: “Usar seus dados para treinar o modelo para todos”, e ao lado “Ativar”. Na verdade, deveria ser “Ativo”, porque se você clica, muda para “Desativar”, induzindo ao erro.

    (54:35) É o contrário do que está sendo indicado aqui. Para o nível intermediário e proficiente, aí sim: ferramentas avançadas, relatórios detalhados, como o Google oferece. O que acontece normalmente? As crianças fazem o que querem no telefone e os pais não sabem nem como verificar.

    (54:52) Configurações granulares de privacidade e capacitação para que esses níveis atuem como multiplicadores. Essas são algumas recomendações.

    (55:22) Seria o mundo perfeito, porque teria que considerar que os interesses, muitas vezes, são para que você não desabilite as práticas de coleta de dados. Vivemos na economia de dados pessoais. Falamos de design, mas vemos o contrário: os deceptive designs, feitos para te levar a uma escolha de privacidade que te seja prejudicial.

    (56:41) E aí entramos no meu último comentário: proteção de dados. Nos baseamos muito, no Brasil, na pretensa capacidade que o titular de dados teria de efetuar a gestão de seus dados.

    (57:04) Na Europa, autores como Daniel Solove já verificaram que não basta se fiar apenas no consentimento. Há a “fadiga do consentimento”. Não devo apoiar toda a minha ideia de proteção de dados no consentimento, porque as pessoas não conseguem entender.

    (57:39) Se em países desenvolvidos já é difícil, imagine em um país com analfabetos funcionais. O consentimento tem que ser válido e informado. Como falar em consentimento informado se as pessoas não conseguem entender a que estão consentindo? Algo que acontece no setor bancário:

    (58:15) dizem que a prova do contrato de empréstimo é a biometria facial. Será que um analfabeto funcional entende que deixar seu rosto ser fotografado representa o consentimento para um contrato? Eu diria que existem formas de montar o sistema para que a pessoa não perceba que está contratando. O exercício do consentimento e a compreensão das políticas de privacidade, que ninguém lê.

    (58:55) Elas são compreensíveis? E aí entra o papel do profissional de segurança e proteção de dados de talvez usar a própria interface para explicar melhor, com resumos.

    (59:28) No final das contas, a autogestão da proteção de dados implica ter a habilidade de avaliar e refletir. Compreender o valor da proteção de dados é uma atividade complexa.

    (1:00:01) As pessoas dão seus dados e não estão nem aí, não porque se importam, mas em muitos casos, me parece, por uma relação com o analfabetismo funcional de não conseguir entender que aquilo é uma medida de proteção para si mesmo. Esses dados, no final das contas, colocam 65% da população brasileira em um cenário de limitação bem delicado.

    (1:00:42) Você está incluindo o intermediário aí? Sim. E já percebemos uma dificuldade no uso da tecnologia. A tecnologia tem seus riscos intrínsecos, mas mais uma vez, o elo mais fraco

    (1:01:10) é o ser humano, com o nível de formação que estamos fornecendo como sociedade. Teremos problemas cada vez maiores, principalmente com mudanças rápidas como a IA.

    (1:01:43) A IA vai desbancar o trabalho de muita gente, considerando esses níveis. Falamos que a inteligência artificial geral vai superar o ser humano, mas a IA, como está hoje, já é muito melhor do que muita gente em certas tarefas. Se não dermos uma educação decente, isso vai piorar.

    (1:02:24) O distanciamento será cada vez maior. Isso é desigualdade, e as consequências são imprevisíveis. Não é só o indivíduo; é nós, como sociedade, tentando funcionar, desde ter um bom atendimento em um hospital até a educação no trânsito.

    (1:03:01) Tudo isso é afetado por essa falha na formação. E é uma falha histórica. Depois que se perde um certo momento na vida do indivíduo, fica mais difícil. Não é algo que “depois a gente vê”.

    (1:03:27) Estamos produzindo gerações com esses problemas. Vemos crianças usando a internet sem controle, a ponto de as escolas terem que proibir. Por quê? Porque os pais não estão fazendo sua parte em casa. A escola tem que proibir o celular porque senão a criança não faz outra coisa. Sabe o que as crianças têm feito agora?

    (1:04:02) Eu vi uma reportagem: a bibliotecária de uma escola estava impressionada com as crianças invadindo a biblioteca. Sim, estão lendo. Essa proibição decorre de uma falha dos pais.

    (1:04:31) E aí colocaríamos a sociedade também, as redes sociais. Não acho que o pai consiga evitar sozinho. Tem um componente forte das redes. Entregar ou não o celular para uma criança de seis anos é uma decisão dos pais. A rede social não vai chegar nela se o pai não permitir. Mas no momento que você entrega e “deixa que se vire”, aí se foi. Mas, ao mesmo tempo, Guilherme, já temos uma geração

    (1:05:07) que não tem o hábito da leitura e que tem essas dificuldades. E essa geração é responsável por uma nova geração, seus filhos. Esses pais não têm condições de acompanhar plenamente seus filhos, nem de compreender a tecnologia e seus malefícios.

    (1:05:38) O cenário não é bom. Apesar de o estudo aparentar uma certa melhora nas faixas etárias mais novas, eu ainda estou muito preocupado com isso. Eu preciso ir, Vinícius.

    (1:06:04) Perfeito. Vamos lá. Esperamos que tenham gostado do episódio de hoje. Nos encontraremos no próximo episódio do podcast Segurança Legal. Até a próxima. Até a próxima.

     

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    Segurança LegalBy Guilherme Goulart e Vinícius Serafim

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