Como a maioria das palavras e terminologias em inglês, quando eu ouvi pela primeira vez que a startup XYZ tinha uma cultura “Always Beta”, não puder evitar e revirei os olhos...
Em outra oportunidade, com menos preconceito relacionado diante das palavras vazias que contornam o universo da inovação, recebi essa mesma ideia com uma mente mais aberta.
Estar estado BETA, no mundo da tecnologia, é estar oficialmente aberto para ser incalsavelmente testado, avaliado, para depois, com alguns feedbacks concretos, ir para o que provavelmente seria nomeado de versão 1.
E essa ideia de estar SEMPRE (Always) em modo BETA, sem o compromisso em sair correndo para se tornar a sua próxima – e última versão - é um dos mais lindos convites que recebi nos últimos tempos.
Não estar pronto nunca, deveria ser a nossa busca.
Porque é exatamente com este compromisso em mãos que estaremos evoluindo sempre. Questionando sempre. Aprendendo sempre.
Se a minha linha de chegada tem como regra que eu preciso ter X realizações, Y cursos e mais N histórias de sucesso para contar, ela é, acima de tudo, LIMITADA.
Mais maravilhoso do que aceitar que não ficaremos prontos a tempo é a ideia de podermos nos deixar observar pelo olhar do mundo.
Que nossas relações serão os usuários dessa nova versão beta.
Seremos beta professores.
E iterando, trocando, ouvindo atentamente, encontraremos nossos pontos de manutenção e melhoria.
Sem a urgência de precisar exigir o que julgamos merecer. Sem a ferocidade de ter que explicar para que SOMOS de determinada forma. Afinal, estamos em fase beta.
Afinal, estamos em constante movimento. Estamos em busca da próxima melhoria.
Me arrisco a dizer que foi porque Warren Buffet esteve sempre em estado beta com seu dinheiro que ele conquistou sua admirável fortuna - e assim se mantém.
Me arrisco a dizer que foi porque Oprah esteve sempre em estado beta na sua busca por materializar suas ideias que hoje ela tem uma voz que mal cabe em toda nessa existência – e assim se mantém.
Me arrisco a dizer também que todos aqueles que se mantém admiráveis por mais de uma década são aqueles que permaneceram em estado de questionamento.
Always Beta pra mim não é limitado a ser entendido como um espaço fora da zona de conforto. Eu acredito que existe conforto, e muito, em aprender. Principalmente a partir do olhar do outro, com o outro.
Aliás acredito que é mais confortável se designar aprendiz do que ter que lidar com o desconforto de ter suas verdades questionadas e precisar defende-las.
Quando um software lança sua versão beta ele já antecipa que falhas poderão ser encontradas.
Como seria mais leve trafegar por aí se trocássemos nosso compromisso com esse ser ideal, vegano, disciplinado, sensual, inteligente, politicamente engajado por outro que eventualmente vai decepcionar.
Vai decepcionar porque não tem todas as respostas.
Vai decepcionar porque vai sentir preguiça e produzir menos.
[10:54 PM, 21/03/2023] Tiago: Vai decepcionar porque vai escrever algumas palavras erradas por e-mail.
E por outros milhões de motivos.
Mesmo assim, o que pedimos quando lançamos uma versão beta de tecnologia é pelo conteúdo mais valioso de todos: o feedback.
Sem formato, sem contorno, sem formulários.
Apenas a potente pergunta: Como poderia ser melhor?
E nesse momento a jornada começa.
As sugestões de melhoria virão como uma avalanche. Serão tantas, que tentar responder a cada uma delas será insano. Mas novamente, a tecnologia vai nos ajudar oferecendo a beleza da busca pelos padrões.
O que existe – mesmo que de formas – diferentes dentro de todas essas palavras?
Onde ele passa mais tempo?
Onde ele encontra dificuldades?