Pode parecer estranho, mas Karl Marx nem sempre foi um senhor de barba grisalha e olhar sério, acredita? Pior, ele não nasceu comunista e já esteve distante do pensamento político que o consagrou. Normalmente, quando pensamos em figuras históricas, suas imagens nos vêm à mente quase como um instantâneo fotográfico. Fixados e imortalizados, eles sempre tiveram aquela feição; e da mesma forma, sempre articularam as ideias que os tornaram historicamente relevantes. São figuras desautorizadas a envelhecer (ou a terem sido jovens), ou a mudar ao longo da vida.
Narrativas que retratam personagens históricos em momentos anônimos de suas vidas nos ajudam a lembrar que são homens e mulheres de carne e osso. Pouco antes das revoluções sociais que dominaram a Europa em 1848, um (ainda) desconhecido jornalista e intelectual prussiano divide seu tempo entre leituras, debates acalorados e problemas mundanos de qualquer mortal: ser demitido, pagar as contas ou crises conjugais.
Nesse prólogo-filme, somos apresentados às figuras centrais da trajetória pessoal desse jovem, como Friedrich Engels e Pierre-Joseph Proudhon. Mas, além disso, conhecemos melhor a participação essencial das companheiras dos autores do manifesto comunista, Mary Burns e Jenny von Westphalen, no desenvolvimento dessas ideias. “O jovem Marx”, dirigido pelo cineasta haitiano Raoul Peck, é esse combinado de vida privada e vida pública — e como elas se misturam — que nos convida a pensar nos personagens históricos como pessoas em transição.