Começamos a ganhar raízes no novo estúdio Livros Tintos no Fundão e já se impunha aquela conversa adiada com o nosso anfitrião-livreiro-alfarrabista-taberneiro-poeta-escritor-niilista-romántico, Zeff Ryder. Conversa a correr, que não se deve deixar os rebentos à espera na hora de sair da escola, mas animada como se impõe num estabelecimento que já é um local obrigatório de paragem para quem procura cultura e contracultura na Cova da Beira.

Conseguimos apanhar o escritor Manuel da Silva Ramos no estúdio Livros Tintos, afastando-o de uma suculenta bifana na Tasca da Estação, para conversar sobre a liberdade e os tempos em que ela esteve ausente das nossas vidas. 50 anos do 25 de Abril comemorados à moda das Conversas da Abaladiça apadrinhados pelos ilustres libertinos Marquês de Sade e Leonel Nunes.

À sombra do depósito de água, monumento imponente de Valverde que custa a perceber porque raio de motivo ainda não está pintado com um mural de inspiração soviética, estivemos em animada tertúlia com o Zé Caria, músico que - para todo o Fundão e extensos arredores - dispensa apresentação. Das primeiras aventuras com os ‘Por Acaso’ aos atuais, mas já veteranos de uma década de palcos, H2O, ficamos a saber porque esteja onde estiver é um valor seguro para animar uma festa que não se contente com um organista. O vinho do pai do Zé também é uma maravilha.

A nossa primeira conversa - mas certamente que não a última - na livraria Livros Tintos no Fundão tem como pano de fundo a sétima arte e foi na boa companhia do cineasta e também programador no Cineclube da Gardunha, José Oliveira. Um percurso que vai de Braga, Porto, Lisboa, Fundão à Povoa da Atalaia e que, longe de terminar, fará ainda paragens em muitas outras estações a apeadeiros. Luzes, Câmera, Tinto, Ação!

Preparado para a gravação de mais um episódio das Conversas da Abaladiça, o trolha de serviço Miguel Newton, encontrou-se triste e abandonado no Espanhol Bar com a comunicação de impedimentos de última hora de dois terços da equipa. Mas como Mata-Ratos caça sempre com gatos, aproveitou para gravar quem o estava a gravar e fazer um programa ao bom estilo punk. Antes da sessão da Abaladiça tinha já marcado uma entrevista para o programa ‘Mente em Foco’ uma ideia interessante surgida da mente da cachopada da associação de estudantes da Escola Secundária Campos Melo, Covilhã. O episodio poderá ser visto em breve no formato vídeo no Instagram da associação. Queriam saber sobre La Vida Loca? Foram bater à porta certa.

Confessem que já estavam com saudades de uma experiência imersiva ao estilo das Conversas da Abaladiça? Não. Mas vão tê-la na mesma porque os nossos estimados ouvintes - do Teixoso ao Botswana - merecem este momento de elevação cultural. Nada como ‘viver’ o ambiente de euforia popular sentido na comemoração da Tomada do Carvalhal, Souto da Casa, com direito a uma explicação pelo Palhares, que veio de Braga e é adepto do Futebol Club do Porto - «ninguém é perfeito» (Palhares dixit) - do que aconteceu quando o povo decidiu fazer peito aos famigerados Garrett. Ainda uma tentativa imersiva de fazer uma conversa com a Elsa Ligeiro. Como a experiência imersiva só durou nove minutos decidimos complementá-la com 46 minutos de música de vanguarda que só as conversas da abaladiça - quem é amigo, quem? - teriam a coragem de botar nas ondas hertzianas e que traduzem em formato sonoro as sevicias sofridas pelo ‘Palhonças’ (outrora conhecido pelo Aquém) às mãos do povo do Souto da Casa:

Em dia de comemoração da tomada do Carvalhal, depois de sofregamente bebida a malga comemorativa de tinto, passar num bloqueio de estrada onde em vez de soprar no balão tivemos que beber do garrafão e escutar poesia declamada, rumamos a Lavacolhos para na Quinta do Ragal, onde no seu quartel-general, tivemos o gosto de conversar com Paulo ‘Trolha’ Barbosa, presidente da junta de Lavacolhos e livre-pensador, a ‘primeira-dama’ Joana e mais alguns amigos cineastas. É um prazer escutar alguém que carinhosamente diz «se há obra feita aqui em Lavacolhos é desta comunidade. Esta gente é excecional». E com toda a certeza o são, assim como é o amigo trolha.

Segunda parte da nossa conversa com Tiago Silva, artista gráfico fundanense que nos levou com a interessante conversa a um primeiro contacto com os novos caminhos da arte: NFT’s, blockchain e criptomoeda…um universo ainda complicado de digerir para três iliteratos digitais que ainda não passaram a fase do mp3, do paint e do copo de três (não virtual).

A Adega, Café Snack-Bar Enclave, volta a ser o pano de fundo para mais uma conversa de alto gabarito. Desta feita com almoço incluído e tendo como convidado Tiago Silva um dos artistas gráficos mais talentosos do Fundão e que, só por acaso, é sobrinho do Jerónimo Mateus. Os primeiros passos na descoberta da arte, esse martelo que forja o mundo. A conversa continua na próxima semana.

Zé Barata, um histórico da restauração do Fundão, alcunhado de ‘Coxo’ pelos Roma frequentadores da esplanada do café Cine, partilha com o trio da Abaladiça, na sua casa aberta a amigos e quem vier por bem, a Adega, Café Snack-Bar Enclave, apontamentos de uma vida recheada de aventuras e desventuras.