Guardo das memórias da minha infância um verdadeiro roteiro dos campos e espaços onde, em criança, se podia jogar à bola. Tirando a areia, claro está, e muitas ruas da nossa terra, nomeadamente na Urbisol, onde vivi tanto tempo e em que, com os meus amigos, fazíamos balizas com pedras. Sempre que um carro ali passava, era preciso retirar as pedras, para as voltar a colocar logo depois e seguir com a jogatana. Por norma, mudava aos cinco e acabava aos dez. Quem é da minha geração sabe do que estou a falar. Mas quem é da minha geração também sabe que havia muitos campos onde brincar com a redondinha. O Areal era um espaço mítico, com um terreno quase plano e em que uma das áreas tinha uma dimensão maior que a outra e em que era preciso parar o jogo sempre que a bola descia a encosta para as traseiras do Colégio. Cá em baixo, havia o campo da Territa e o Stella Maris, ainda no tempo em que era ringue, e em que se passavam horas. O pessoal da Pederneira jogava num campo onde a Cercina construiu instalações, no Sítio ainda havia o campo do François e a malta do Faroeste ia jogar para o ringue que ficava por cima do pavilhão... Na Urbisol também tínhamos um pequeno campo, mas que era sempre a descer e, por isso, o melhor que conseguíamos era jogar aos centros… Era no Sítio, contudo, que encontrávamos o melhor campo não oficial para jogar à bola. Junto à Fábrica das Bonecas havia um quase relvado, com quase balizas e boas condições para jogar, pese embora o campo fosse inclinado para baixo… Ali se jogaram grandes dérbis, sendo a casa dos aguerridos siteiros. Foi ali também que se jogou um torneio organizado pelo Silvino Trindade, que se chamava em tempo de férias da Páscoa. A final opôs o FC Urbisol à Sportmusic. Frente a frente, uma equipa de jogadores amadores de um bairro e uma equipa com as estrelas dos Nazarenos. Contra as previsões, estivemos a ganhar, sofremos o empate e acabámos por perder de forma inglória, o que até gerou alguma revolta. Apesar da derrota, aquele foi um momento inolvidável, em que nos sentimos jogadores, e também a prova de como os torneios populares eram importantes, até para gerar talentos para o futebol mais a sério. Um dia destes recordo os grandes torneios de futebol de salão da nossa terra.