De vez em quando somos surpreendidos com projetos fora da caixa que nos deixam empolgados. Foi o caso de “O tempo de António Balau”, que nasceu no dia do pai pela mão da Lili, a filha mais nova do Tozé, figura maior da nossa terra durante décadas, como jornalista, dirigente associativo, dedicado funcionário camarário, entre tantas outras camadas de um homem a quem muito devo o que sou. O Tozé deu-me a oportunidade de escrever na Gazeta da Nazaré e ajudou a formar-me enquanto homem e profissional. Recordo tantos fechos de edição na garagem da casa dele, juntando textos e fotografias que, depois, o irmão, Vítor, com calma e ponderação, arrumava nas páginas. E que emoção quando a edição estava fechada. Era, então, hora de seguirmos para Rio Maior, onde era preciso apanhar os fotolitos para as fotografias a cores da primeira página, antes de rumarmos a Lisboa para irmos à gráfica. O cheiro a tinta e do papel recém-impresso era qualquer coisa de mágico para um jovem adolescente como eu, que apenas sonhava pertencer àquele mundo do jornalismo... Porém, o trabalho ainda não estava terminado. Na viagem de volta, a Bela e o resto da família estavam à nossa espera para tratar de colocar as cintas nos jornais, para, horas depois, os assinantes receberem a Gazeta em casa. Foram anos assim e muitos anos de partilha e crescimento mútuo. Depois, a vida afastou-nos, nem sempre estivemos de acordo, mas o sentido de respeito mútuo e de gratidão da minha parte perdurou. Foi também com o Tozé que saí pela primeira vez do país, numa viagem de jovens a Espanha, com "A Pedalada", mas o Diário de hoje não é sobre mim. É sobre o António José Esgaio Balau, detentor do maior espólio fotográfico e documental que conheço sobre a Nazaré no último século, e que, em boa hora, a Liliana quer evocar. Ainda bem que isso acontece, porque o legado do Tozé merece.