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Já não reconheço essa empresa. Quando cheguei aqui, isso era um lugar de vergonha. As pessoas chegavam na hora e arregaçavam as mangas. E elas não se recusavam a usar a farda da empresa! Às cinco, todo mundo parava o que estava fazendo e seguia para o ônibus da empresa, para voltar para casa à noite e viver sua vidinha honesta.
Aí me chega um sujeito todo tatuado, com mil e uma ideias de como melhorar o processo de produção. Como melhorar o processo... Kkk, como se eu não conhecesse o processo. Trabalho aqui faz trinta anos, não arredo o pé daqui porque gosto do que faço e sei o que estou fazendo, e aí vem um menino, porque é isso que ele é, um menino, e vem tentar me ensinar um truque novo.
Fui reclamar com o meu gerente. Como temos um bom relacionamento, podemos falar um com o outro de igual para igual, ainda que eu esteja num nível mais baixo da hierarquia. E eu disse para ele:
— Veja bem, Celso. Eu sou veterano aqui, com não sei quantos anos de empresa, e um moleque vem me dizer o que fazer. Essa não aceito.
E o Celso ri e me diz que “é só um conflito intergeracional.” Diz que sou um “velhote histérico” e que daqui a pouco me aposento. Então é melhor nem esquentar a cabeça com isso.
É mesmo? Agora sou um velhote histérico que está dando ataque de pelanca?
Não sei o que esses jovens estão pensando da vida. A maioria é como meu neto – só sabe olhar para o próprio umbigo e acha que tem direito a todo tipo de regalia. Mas eles não devem nunca dar duro num emprego, comprar uma casinha, constituir família e viver uma vidinha honesta... a maioria se acha predestinada a grandes coisas, mas no final ficam de mimimi ao primeiro sinal de dificuldade. Não são maduros. Se dizem despojados e querem ter o próprio estilo, mas são mesmo descuidados, não se vestem direito, não cuidam da aparência...
Mas no fim o Celso acaba dando a razão ao moleque e diz que é melhor eu aceitar e acompanhar, porque senão fico para trás.
Ah, tá. E agora que a empresa me explorou de todo jeito, querem que eu venha a obedecer a cada capricho de um pirralho desses. Só se for mesmo.
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Já não reconheço essa empresa. Quando cheguei aqui, isso era um lugar de vergonha. As pessoas chegavam na hora e arregaçavam as mangas. E elas não se recusavam a usar a farda da empresa! Às cinco, todo mundo parava o que estava fazendo e seguia para o ônibus da empresa, para voltar para casa à noite e viver sua vidinha honesta.
Aí me chega um sujeito todo tatuado, com mil e uma ideias de como melhorar o processo de produção. Como melhorar o processo... Kkk, como se eu não conhecesse o processo. Trabalho aqui faz trinta anos, não arredo o pé daqui porque gosto do que faço e sei o que estou fazendo, e aí vem um menino, porque é isso que ele é, um menino, e vem tentar me ensinar um truque novo.
Fui reclamar com o meu gerente. Como temos um bom relacionamento, podemos falar um com o outro de igual para igual, ainda que eu esteja num nível mais baixo da hierarquia. E eu disse para ele:
— Veja bem, Celso. Eu sou veterano aqui, com não sei quantos anos de empresa, e um moleque vem me dizer o que fazer. Essa não aceito.
E o Celso ri e me diz que “é só um conflito intergeracional.” Diz que sou um “velhote histérico” e que daqui a pouco me aposento. Então é melhor nem esquentar a cabeça com isso.
É mesmo? Agora sou um velhote histérico que está dando ataque de pelanca?
Não sei o que esses jovens estão pensando da vida. A maioria é como meu neto – só sabe olhar para o próprio umbigo e acha que tem direito a todo tipo de regalia. Mas eles não devem nunca dar duro num emprego, comprar uma casinha, constituir família e viver uma vidinha honesta... a maioria se acha predestinada a grandes coisas, mas no final ficam de mimimi ao primeiro sinal de dificuldade. Não são maduros. Se dizem despojados e querem ter o próprio estilo, mas são mesmo descuidados, não se vestem direito, não cuidam da aparência...
Mas no fim o Celso acaba dando a razão ao moleque e diz que é melhor eu aceitar e acompanhar, porque senão fico para trás.
Ah, tá. E agora que a empresa me explorou de todo jeito, querem que eu venha a obedecer a cada capricho de um pirralho desses. Só se for mesmo.
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