
Sign up to save your podcasts
Or
E para fazer parte do programa de educação continuada e ter acesso a todas as transcrições, visite o site: https://portuguesewitheli.com
Não faz muito tempo, aconteceram várias coisas que me fizeram pensar na facilidade que eu tenho (ou tinha, e você já vai entender o porquê) para transitar aqui, enquanto para outras pessoas se locomover é uma verdadeira proeza.
Estava eu a pé e parei para atravessar a rua, na faixa de pedestres. Enquanto esperava o sinal fechar para os carros, avistei na outra margem uma garota, também aguardando para atravessar. Notei que ela levava uma bengala, e também usava óculos escuros. O sinal abriu para nós que esperávamos, e iniciei a travessia. A moça ficou parada no mesmo lugar. Quando já estava bem perto, constatei que ela era cega, não enxergava. Ao me aproximar, perguntei se ela queria cruzar a rua.
Ela aceitou a ajuda, e agradeceu imensamente. Enquanto eu a guiava, ela comentou que faltam por aqui aqueles avisos sonoros nos semáforos, indicando que o caminho está livre. Com esse sinal, a pessoa que tem a visão comprometida consegue uma maior autonomia, sem depender da boa vontade de outros para ajudar na simples tarefa de atravessar a rua (simples para quem vê, não é mesmo?).
Mais à frente no percurso que eu fazia até o supermercado, presenciei uma triste cena: uma família com uma criança sendo obrigada a entrar pela porta dos fundos em um museu. A mãe bradava aos quatro ventos que nunca viu aquele tipo de humilhação. O caso era que seu filho tinha uma doença e usava uma cadeira de rodas para se locomover. A recepcionista tentou pôr panos quentes, explicando que a arquitetura era reaproveitada e, para preservar a fachada daquele prédio colonial, a forma que encontraram de instalar o elevador tinha sido aquela, pelos fundos. Era pegar ou largar.
Eu fiquei pensando nas palavras daquela mãe, do estigma que já carrega, e ainda não poder entrar pela porta da frente na maior parte dos lugares.
Distraída com meus botões, acabei tropeçando num ressalto da calçada malconservada, e acabei quebrando o pé. Agora estou eu aqui vivendo na pele a dificuldade que eu nunca tinha imaginado. Hoje vejo que é uma proeza andar por aí quando se tem uma condição minimamente diferente da “normalidade” (e olha que estou só com um gesso provisório no pé e com um par de muletas). Viver com alguma dificuldade de locomoção nessa cidade é como participar de uma corrida de obstáculos.
5
2929 ratings
E para fazer parte do programa de educação continuada e ter acesso a todas as transcrições, visite o site: https://portuguesewitheli.com
Não faz muito tempo, aconteceram várias coisas que me fizeram pensar na facilidade que eu tenho (ou tinha, e você já vai entender o porquê) para transitar aqui, enquanto para outras pessoas se locomover é uma verdadeira proeza.
Estava eu a pé e parei para atravessar a rua, na faixa de pedestres. Enquanto esperava o sinal fechar para os carros, avistei na outra margem uma garota, também aguardando para atravessar. Notei que ela levava uma bengala, e também usava óculos escuros. O sinal abriu para nós que esperávamos, e iniciei a travessia. A moça ficou parada no mesmo lugar. Quando já estava bem perto, constatei que ela era cega, não enxergava. Ao me aproximar, perguntei se ela queria cruzar a rua.
Ela aceitou a ajuda, e agradeceu imensamente. Enquanto eu a guiava, ela comentou que faltam por aqui aqueles avisos sonoros nos semáforos, indicando que o caminho está livre. Com esse sinal, a pessoa que tem a visão comprometida consegue uma maior autonomia, sem depender da boa vontade de outros para ajudar na simples tarefa de atravessar a rua (simples para quem vê, não é mesmo?).
Mais à frente no percurso que eu fazia até o supermercado, presenciei uma triste cena: uma família com uma criança sendo obrigada a entrar pela porta dos fundos em um museu. A mãe bradava aos quatro ventos que nunca viu aquele tipo de humilhação. O caso era que seu filho tinha uma doença e usava uma cadeira de rodas para se locomover. A recepcionista tentou pôr panos quentes, explicando que a arquitetura era reaproveitada e, para preservar a fachada daquele prédio colonial, a forma que encontraram de instalar o elevador tinha sido aquela, pelos fundos. Era pegar ou largar.
Eu fiquei pensando nas palavras daquela mãe, do estigma que já carrega, e ainda não poder entrar pela porta da frente na maior parte dos lugares.
Distraída com meus botões, acabei tropeçando num ressalto da calçada malconservada, e acabei quebrando o pé. Agora estou eu aqui vivendo na pele a dificuldade que eu nunca tinha imaginado. Hoje vejo que é uma proeza andar por aí quando se tem uma condição minimamente diferente da “normalidade” (e olha que estou só com um gesso provisório no pé e com um par de muletas). Viver com alguma dificuldade de locomoção nessa cidade é como participar de uma corrida de obstáculos.
38,689 Listeners
172 Listeners
56,231 Listeners
168 Listeners
108 Listeners
429 Listeners
191 Listeners
165 Listeners
45 Listeners
23 Listeners
99 Listeners
30 Listeners
18 Listeners
15 Listeners
29 Listeners