Segurança Legal

Episódio #353 – Café Segurança Legal


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Neste episódio, Guilherme Goulart e Vinícius Serafim comentam como você pode se proteger do uso de Inteligência Artificial para criar nudes falsos e os perigos da publicidade online para crianças.

Guilherme Goulart e Vinícius Serafim aprofundam o debate sobre os impactos da Inteligência Artificial, discutindo a criação de deepfakes e nudes falsos e as implicações para a privacidade e segurança da informação. O episódio aborda os crimes cibernéticos relacionados e a dificuldade na proteção de dados de crianças e adolescentes, conectando o tema à legislação digital como o ECA. Além disso, a conversa explora os resultados da pesquisa TIC Kids sobre publicidade online e o consumismo digital infantil, o preocupante vazamento de dados no sistema judiciário e a importância da mídia independente no podcasting. Para mais debates como este, não se esqueça de assinar, seguir e avaliar nosso podcast.


ShowNotes:

  • ‘Um deles afirmou que não seria punido porque é branco e rico’, diz mãe de aluna de colégio na Barra que teve nude falso divulgado
  • TIC Kids Online Brasil – 2023
  • Estagiários e servidores do Tribunal de Justiça do RS são investigados por vazamento de operações a criminosos
  • A despedida do Foro de Teresina
  •  Transcrição do Episódio

    (00:07) [Música] Café Segurança. [Música] Legal. Bem-vindos e bem-vindas ao Café Segurança Legal, episódio 353, gravado em 3 de novembro de 2023. Eu sou o Guilherme Goulart e, junto com o Vinícius Serafim, vamos trazer para vocês um pouco do que ocorreu no último período. E aí, Vinícius, tudo bem? Olá, Guilherme, tudo bem? Olá aos nossos ouvintes, olá aos internautas que também nos acompanham no YouTube do Segurança Legal. Esse é o nosso momento de conversarmos sobre algumas notícias e acontecimentos que nos chamaram a atenção, tomando um café de verdade. Pegue o seu café e vem conosco.

    (00:57) Para entrar em contato e enviar suas críticas e sugestões é muito fácil: basta enviar uma mensagem para [email protected] ou, se preferir, também pelo @segurancalegal no Twitter (ou X) e também no Mastodon, @segurancalegal. Já pensou em apoiar o projeto Segurança Legal? Acesse o site picpay.me/segurancalegal ou apoia.se/segurancalegal.

    (01:20) Escolha uma das modalidades de apoio. Entre os benefícios recebidos, você terá acesso ao nosso grupo exclusivo de apoiadores lá no Telegram. E, ouvintes, só lembrando que a nossa última notícia de hoje está, eu acho, diretamente relacionada com esse aspecto dos ouvintes financiarem ou patrocinarem os podcasts que eles gostam. Nós vamos falar um pouco sobre esse tema. Fique conosco aqui até o fim do podcast hoje para descobrir qual é essa relação. Claro, se você já está ouvindo o podcast, já vai ter lá os show notes, mas enfim.

    (02:02) Finja, finja assim um suspense para, na última notícia, a gente falar um pouquinho sobre esse cenário dos podcasts aqui no Brasil. Certo, Vinícius? Certo, vamos para a primeira. Vamos lá. Alguns alunos… Olha só que coisa terrível. E os impactos negativos… Todas as tecnologias, na verdade, elas têm os seus impactos negativos, algumas mais do que outras. A gente sabe, já comentou diversas vezes aqui, rebatendo, talvez em alguns casos, aquele mito de que a tecnologia é neutra.

    (02:42) A gente sabe que a tecnologia é criada dentro de um meio, ou seja, ela é produto de um meio social e ela também é influenciada por este meio. Melhor dizendo, ela é influenciada, mas ela também influencia o meio em que é criada. A gente sabe que muitas tecnologias são criadas para determinadas finalidades, e essa escolha da finalidade acaba trazendo consigo os problemas, as externalidades negativas, para os economistas. E a inteligência artificial, acho que esse é um dos grandes debates hoje em dia.

    (03:18) Não somente os limites éticos de todas essas ferramentas, mas também a própria ideia da imprevisibilidade. E, nesse caso aqui, nem sei se é tão imprevisível assim, mas o que aconteceu: alguns alunos do colégio Santo Agostinho, lá do Rio de Janeiro, criaram nudes falsos de 25 alunas. A reportagem do Globo diz — a gente, obviamente, não teve acesso e nem poderia ter a essas imagens —, mas o que ocorreu foi que a reportagem do Globo diz que esses nudes foram criados com o apoio ou com o uso de Inteligência Artificial.

    (04:00) É lógico que o aspecto ético aí é evidente. Óbvio que as meninas atingidas ficaram isoladas, entraram em crise, as famílias entraram em crise, todos estão abalados, porque o uso dessas ferramentas confere para o resultado dessas imagens uma fidelidade, Vinícius, que é muito difícil de você contestar. Inclusive, até para olhos técnicos, eu diria. Para pessoas que conhecem a tecnologia, às vezes são enganadas pela fidelidade com que essas imagens são geradas.

    (04:37) Até porque, Guilherme, a tendência é ficar cada vez melhor. A gente sabe que alguns desses modelos… “Cada vez melhor” no sentido de cada vez mais difícil de detectar que foi feito a partir de IA, de identificar, para não parecer que eu estou querendo dizer outra coisa. Não, entendi, entendi. Acho que todos entendemos. Você entendeu? Estou preocupado com os nossos ouvintes. Tudo bem.

    (05:09) E até alguns desses modelos adversariais que são utilizados: você tem dois modelos, um gera e o outro tenta identificar se aquela imagem é real ou não. Então, você tem, dentro desse modelo adversarial, a disputa entre inteligências artificiais para produzir algo cada vez mais fidedigno. E essas meninas, eu dizia, as famílias também entraram em crise, com razão. As meninas teriam entre 13 e 16 anos. A escola reagiu daquele jeito. É difícil também, no âmbito escolar, no âmbito da formação de pessoas, de crianças e adolescentes, tomar essas medidas.

    (05:50) Porque a gente sabe que os adolescentes, muitas vezes — e parece que é da característica, não estou justificando, evidentemente, aqui, Vinícius —, mas quero dizer que essa impetuosidade, essa dificuldade de prever as consequências, em alguns casos até alguma falta de empatia, estão presentes nessa fase da vida, que é tão difícil. E, ao mesmo tempo, a escola precisa lidar com isso também para promover a formação dessas pessoas и para corrigir eventuais desvios. Agora, é evidente que isso não justifica o ato praticado por pessoas…

    (06:23) Se os alunos que fizeram essas imagens têm mais ou menos a idade das meninas, a gente está falando de pessoas com até 16 anos, que já têm uma boa compreensão das consequências dos seus atos. Mas a escola diz que vai tomar medidas administrativas. O que me chamou muita atenção foi que um dos alunos — isso O Globo que mostra, que traz essa informação — que produziram essas imagens disse que não seria punido porque ele é branco e rico, o que deixa a coisa, no meu sentir, ainda mais grave.

    (06:55) Ou seja, parece que é uma certa ciência da gravidade do erro e da não aplicação de sanções. Vinícius, a questão é a seguinte: por mais que esse caso seja grave, é relativamente difícil impedir o uso para essas finalidades. A gente sabe que as ferramentas, pouco a pouco, estão implementando uma série de controles para evitar certas criações de conteúdo. Quem usa o DALL-E via ChatGPT sabe que eles possuem diversos controles.

    (07:37) E, às vezes, não me refiro a conteúdos pornográficos, mas até outros tipos de conteúdos. Esses dias, eu quis gerar uma imagem com alguém parecido com o Mr. Bean e ele disse: “Eu não posso gerar imagens com pessoas públicas e tal”. E eu fui… “Então, deixa eu ver se eu consigo gerar aquelas imagens do Papa que, dia desses, o pessoal estava compartilhando”. E ele disse: “Não, não posso gerar imagem”. E veja, não era nada terrível, eu só queria gerar uma imagem com o Papa e ele não deixou. Ele disse assim: “Eu posso gerar uma imagem com uma pessoa parecida”.

    (08:15) Então, alguns controles já estão sendo implementados. Eu imagino que esses controles vão, pouco a pouco, se aprimorar. A gente teve, dia desses, também alguns nudes feitos com uma atriz, Isis Valverde, e eu não sei exatamente qual ferramenta foi utilizada. Mas, hoje, o próprio Photoshop tem uma ferramenta de Inteligência Artificial que você consegue preencher imagens de forma também muito fidedigna. Então, sei lá, tem uma pessoa num campo e você quer colocar uma montanha no fundo da imagem.

    (08:51) Você recorta onde quer botar a montanha, escreve lá no Photoshop “criar uma montanha”, e ele gera uma montanha integrada com a imagem. Então, é muito difícil de lidar com isso. Há um aspecto que é da responsabilidade das plataformas de controlar alguns desses usos, mas, ao mesmo tempo, me parece que é algo muito difícil de você evitar completamente. É algo com que, infelizmente, eu posso estar errado, mas acho que a gente vai começar a conviver e vai começar a ver esses problemas com uma frequência cada vez maior.

    (09:27) Cara, o que eu vejo é o seguinte: a gente fala desses controles do DALL-E, da OpenAI, e tem aquele outro, como é o nome? Acho que tu citou, que a gente usa por meio do Discord… Esqueci o nome dele. O Midjourney. Midjourney, exatamente. Essas são as ferramentas amplamente disponíveis. E até eu fiz uma brincadeira, eu te mostrei esses dias… Eu acho que dá para fazer uma série no podcast que é “torcendo o ChatGPT aqui no Segurança Legal”. Mas lembra que eu pedi uma cena de crianças dentro de um cenário de guerra, tentando retratar a situação na Palestina, lá na Faixa de Gaza?

    (10:06) E eu fiz isso meio para provocar, para ver o que ele fazia, e lembro que ele se negou, disse que não podia gerar a imagem e tal. Só que eu consegui, por um outro meio, fazer gerar essas imagens para mim. Eu comecei por outro caminho: abri um outro chat em que eu pedi, primeiro, imagens de um soldado nos escombros de uma vila bombardeada no Oriente Médio. Ele retratou sempre os soldados ocidentais meio que como heróis na cena.

    (10:46) E, depois, eu pedi “um militante da Resistência”. Pela imagem que ele gerou, você diz que todos são terroristas. Depois, eu pedi para retratar um pouco melhor, também não deu certo. E, por fim, eu pedi uma imagem de uma criança em meio aos escombros de uma vila bombardeada no Oriente Médio, a mesma coisa que eu tinha pedido no outro chat. E aí ele gerou. Então, eu percebo que, dependendo do contexto anterior, do que você já tem no chat, você consegue chegar a um ponto e solicitar coisas que, de cara, ele не aceita.

    (11:27) Então, além dessa possibilidade de manipulação, digamos assim, do contexto com que você está tendo a conversa com a IA para poder gerar o que quer, a gente, cada vez mais, vai ter essas ferramentas disponíveis para rodar em casa, entende? Se hoje você precisa de uma máquina com uma capacidade muito grande de processamento para fazer isso sozinho, e os algoritmos você consegue acessar, mas as bases não são lá grande coisa, não são tão boas assim, é uma questão de tempo. Como a gente já viu acontecer com coisas que antes só podiam ser feitas em supercomputadores e hoje um relógio faz.

    (12:01) E isso vai acontecer, chegando a um ponto em que todo mundo vai ter isso à disposição no computador, ao alcance de um clique. É o que acontece com as ferramentas de ataque, é o que acontece com tudo que envolve tecnologia. Então, acho que a gente ainda vai ter mais desses problemas, mas eu não vejo uma solução rápida para isso. O simples filtro, acho que já ajuda nas ferramentas publicamente disponíveis, mas não vai resolver, porque, como eu disse, acho que vai ter pessoal usando os próprios recursos em casa para fazer essas coisas.

    (12:38) Mas aqui, enquanto você falava, eu coloquei no Google “how to create nudes with AI”. Ou melhor, deveria ser “AI” e não “ia”. Abri… Obviamente, não vou falar os sites aqui, mas o primeiro resultado é “10 sites gratuitos para criar nudes”. E a primeira ferramenta, você descreve o que quer e tem uma opção para carregar um rosto. É o primeiro resultado. Você percebe que uma pessoa com o Google obteria isso em, aqui enquanto você falava, 2 minutos.

    (13:21) Conseguiria fazer isso sem necessidade de nenhum conhecimento técnico, como nós tínhamos com o Photoshop, por exemplo. O Photoshop, quando veio ou quando se popularizou, você tinha a possibilidade de fazer, e houve muitos casos. O problema é que não era tão fidedigno quanto é hoje. Os resultados que essas ferramentas trazem aqui são realmente imperceptíveis.

    (13:56) Então, realmente é um grande problema. Para terminar, Vinícius, gostaria de lembrar que a simulação de participação de crianças ou adolescentes em cenas de sexo explícito também é crime, lá no ECA, no artigo 241-C. Claro que ali são adolescentes, não cometem crime, mas adultos fazendo e promovendo esse tipo de imagem… A gente sabe que, se envolver crianças, evidentemente seria crime. E, mesmo com adultos, você também teria uma série de reflexos jurídicos, inclusive muito difíceis de ver, diante, como eu disse, da dificuldade de identificar essas questões. Certo?

    (14:31) Beleza, certíssimo. Eu acho que vou com mais uma aqui no nosso planejamento. A gente chegou a ver, até íamos falar num episódio só sobre isso, mas resolvemos trazer aqui para o resumo, que foi o lançamento da pesquisa TIC Kids Online 2023. A gente sabe e já comentamos aqui, inclusive já fizemos episódios, Vinícius, se você procurar, com participação de outras pessoas para debater os resultados dessa pesquisa.

    (15:12) Ela é, hoje, no Brasil, a pesquisa de maior relevância sobre o uso de internet pela população brasileira, e tem esse flanco da pesquisa que é o TIC Kids Online Brasil. Nesse ano, nós tivemos alguns avanços, e vou falar um pouquinho mais rápido aqui, mas tivemos avanços que envolveram a medição de como as crianças estão sendo atingidas pela publicidade. E essa é uma questão, acho também, um dos grandes problemas de como a publicidade, de maneira geral, atinge as pessoas.

    (15:52) E, sobretudo, esse grupo de pessoas que são as crianças e os adolescentes. Porque, se a gente sabe que os adultos são atingidos de forma, nós somos atingidos de forma muito intensa pela publicidade na internet, e, diante de todos os usos que se faz da publicidade comportamental e de como é difícil lidar com isso para adultos, para as crianças isso é mais crítico ainda. O que deveria demandar, sobretudo pelas grandes plataformas, controles mais amplos sobre o uso de publicidade de maneira geral.

    (16:33) Vou só falar dois ou três dados aqui. Primeiro, uma das questões que eles mediram foi o percentual de crianças e adolescentes que tiveram contato com propaganda ou publicidade na internet não apropriada para a sua idade, e isso envolveu 49% das crianças. Outro número: crianças e adolescentes que pediram algum produto após contato com propaganda ou publicidade: 53%. E o outro resultado aqui, Vinícius, que eu acabei perdendo na miríade de janelas e links que eu tinha aberto, mas já achei…

    (17:13) Foi o número de crianças e adolescentes por tipos de produtos pedidos após contato com propaganda. E aqui, um número me chamou a atenção, que seriam as classes atingidas pela publicidade, ou seja, em relação aos tipos de produtos. Me chamou a atenção que, na classe social, o número mais atingido aqui seria o da classe C: 49% fizeram pedidos. Classe C. Classe A: 38%, portanto, 11% a menos. E classe DE: 22%. E eu fiquei… é sempre difícil interpretar esses números.

    (18:04) É por isso que, sempre quando a gente tem orientandos que querem avaliar essas questões, a gente sempre sugere essa pesquisa, porque é a partir dela que pesquisadores também podem começar a trazer hipóteses e a investigar esses números. E me chama muito a atenção: por que a classe C estaria mais atingida? Possíveis hipóteses: será que os pais trabalham mais, não conseguem supervisionar os filhos? São algumas hipóteses que começam a surgir, mas me chamou a atenção. Será que é uma questão de falta de conhecimento, falta de percepção, ou não?

    (18:49) Então, algumas dúvidas aqui que surgem, e fica a cargo dos pesquisadores do nosso Brasil começarem a interpretar esses números aqui. Não é, Vinícius? É, cara, é uma situação bem delicada essa questão da orientação das crianças no uso da internet. A gente já comentou várias vezes aqui. Até encontrei o episódio 251, Guilherme, que é o painel TIC Covid, mas acho que tem outros, só não consegui encontrar na listagem, minha pesquisa talvez não tenha sido boa o suficiente. Mas encontrei o 251.

    (19:23) Mas a gente insiste bastante nesse assunto, que nos preocupa bastante, porque as crianças são atingidas com esse tipo de conteúdo. E elas acabam, de “n” formas, se condicionando ao uso das redes sociais, se acostumando com a influência disso, se acostumando a serem expostas. Tem uma série de coisas que a gente já trouxe sobre a questão das crianças com o uso da tecnologia e, mais especificamente, da internet. E é complexo, cara, porque, eu achei que fosse ter um maior impacto nas crianças de classe A e B, por exemplo.

    (20:01) Por quê? Porque, normalmente, essas crianças têm mais acesso a recursos como tablets e celulares de melhor qualidade, ou coisa parecida, e o pessoal acaba ganhando celular muito cedo. Então, você acaba tendo algumas situações assim e, ao mesmo tempo, tem maior poder aquisitivo, ou seja, para entrar na roda consumista ali de “vi, quero, recebo, compro, meus pais compram ou ganho”. E uma coisa que eu tenho percebido aos poucos, meu filho está com 8 anos agora, eu começo a perceber que já tem colegas dele com celular direto, com seu próprio celular, e jogam e telefonam, fazem o que querem no celular.

    (20:46) E ele volta e pergunta quando é que ele vai ter o celular dele. Eu disse: “Olha, por enquanto, não vai ter celular”. Mas já estou estudando a possibilidade para, quando ele tiver o celular, ser essencialmente para fazer ligação, entende? E, depois, poder se comunicar de uma forma mais controlada. Mas me preocupa, sim, cara, ao ver crianças que… Às vezes, vêm colegas do meu filho em casa, e eles não têm… Aí chega um outro com um tablet e, se você vai ver o histórico, o pessoal acessa o que bem entende, sabe? Não tem filtro, não tem nada.

    (21:21) Então, é bem preocupante isso, no final das contas. Eu acho que, seja qual for a classe que a pesquisa levantou, a gente precisa ter uma preocupação bem… Muito… Tem que ser bem pontuado e tem que ser tratado de frente esse problema do ensino do uso da tecnologia de forma adequada para as crianças. Lembrando lá do Desmurget, do “A fábrica de cretinos digitais”, que é o livro que a gente já citou mais de uma vez aqui.

    (22:09) Você sabe que eu fui dar uma olhadinha nos outros números aqui? Um dos números é: crianças e adolescentes por orientação recebida dos seus pais. A pergunta foi se os pais conversam sobre as propagandas que eles veem na internet. Olha a relação por classe: a classe AB, 87% conversa; e na classe C, 76%. Os mesmos 11% de diferença. Então, realmente, a hipótese talvez se confirme aqui — isso são hipóteses — de que a classe C conversa menos com os filhos sobre as propagandas que eles veem na internet.

    (22:49) O porquê disso é que é a grande incógnita que precisa ser levantada pelos… Ou são menos expostos, Guilherme? Porque, por exemplo, se você tem condições de pagar, pegando o YouTube por exemplo, você paga o Premium e tira as propagandas que o Google insere, pelo menos no meio dos vídeos. Mas você não tira as propagandas que têm no vídeo, claro.

    (23:24) E a gente sabe, a gente comentava antes, tem alguns canais — não vamos citar nenhum aqui —, mas tem alguns canais feitos para crianças, ou cujo público-alvo é criança, e que é uma coisa altamente consumista. “Os materiais que eu comprei não sei o quê”, “meu novo vestido…”, “os materiais que comprei nos Estados Unidos”. A gente já viu essa história antes. O Felipe Neto foi um que fazia isso direto, quando logo que ele começou, o grande boom dele foi nessa direção. Ele se redimiu…

    (23:56) Não quero entrar nisso, não vou julgá-lo, entende? Mas, na época em que ele fez esse material e depois até reconheceu, ele trouxe psicólogo para a equipe, trouxe não sei o quê, blá, blá, blá, tem umas histórias. Mas, lá atrás, tem gravado, a gente falando sobre isso. Eu não vou lembrar em que episódio a gente falou, mas, lá atrás, há muitos anos, nós gravamos sobre isso, sobre esses canais infantis. Inclusive, gravamos sobre um canal específico de um dos primeiros caras com mais sucesso, além do Felipe Neto, que foi uma mãe que usava uma menininha para gravar vídeos e ficar botando no YouTube.

    (24:29) Então, essas propagandas atingem as crianças. E, por mais que você pague para tirar, o que já ajuda, você bloqueia muita coisa, ainda acontece de ter propaganda nos próprios canais, dentro dos próprios vídeos. Mas, talvez, quem tem condições de pagar consegue tirar um pouco. Eu não sei se vai vazar aqui para vocês, mas eu tenho um vizinho que, às vezes, ele não dorme de noite ou dorme e fica… não sei.

    (25:08) Ele inverte todos os tempos dele, está com música alta aqui. Eu não sei se está pegando, mas espero que não. Não, não dá para ouvir. Então, está bom, ótimo. Bom, acho que seria isso dessa notícia. Eu estava até olhando outros números aqui, bem interessante. Numa das planilhas, você consegue ver o número em relação ao tipo de produto comprado. A apresentação do gráfico deles não está muito boa, está ruim de mostrar, mas livros e gibis…

    (25:41) Moedas virtuais para jogos, ingresso para eventos, comida, jogos de videogame, brinquedos e álbum de figurinhas. Maquiagem, um número bastante grande aqui, 15%. E materiais escolares, 20%, acho que é o maior número aqui, Vinícius. E que entra em contato com aquele vídeo que a gente estava vendo antes. A gente não vai falar o nome da menina, realmente, que mostrou a sua compra de materiais escolares nos Estados Unidos. O que tem uma carga toda ali de consumismo. Veja, você tem grupos da classe C sendo mais atingidos justamente por esse tipo de publicidade, que, provavelmente, eles não vão conseguir atingir.

    (26:24) Os alunos da classe C, muito provavelmente, não vão conseguir ir para os Estados Unidos para fazer esse tipo de compra. Enfim, mas fica. Então, vamos seguindo, Vinícius. Estamos aqui para falar sobre agora uma tua, que é a questão daqui do Rio Grande do Sul. Sim, nós tivemos algo que nos remete, como você bem lembrou, ao nosso primeiro episódio, gravado lá em 2012, que era sobre o Consultas Integradas.

    (27:09) Tinha gente vendendo senhas de acesso ou mesmo as informações que eram acessadas dentro do Consultas Integradas para a galera do crime. Tipo, dados de pessoas, inclusive juízes e outras coisas mais. Não estou enganado, mas você pode voltar lá no episódio número um do Segurança Legal e você vai ver esse assunto. E agora, o que aconteceu? Como você está vendo aí, quem está nos acompanhando no YouTube está vendo a notícia: “Estagiários e servidores” é o headline da notícia do G1.

    (27:46) “Estagiários e servidores do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul são investigados por vazamento de operações a criminosos”. A notícia toda está aqui à disposição para quem quiser ler, pode clicar lá e acessar o site do G1 para ler, vai estar no show notes o link. Mas o que chama a atenção aqui é o que efetivamente aconteceu: teria um estagiário em Bagé, segundo a notícia, pelo menos uma das pessoas, que estava usando a senha de uma servidora do tribunal e fazia esses acessos aos sistemas. Ou seja, não era mais estagiário…

    (28:28) mas tinha a senha, fazia acesso ao sistema do tribunal e pegava as novas operações que entravam, as mais recentes. Pegava os alvos dessas operações e avisava os alvos por R$ 3.000, R$ 4.000, R$ 300, depende do nível da pessoa dentro da organização criminosa. Até isso tinha. Inclusive, a coisa era tão descarada que a polícia pegou, no celular de uma dessas pessoas, o envio do comprovante do depósito. Tipo: “paguei, obrigado pela consulta”. Mas o que chama a atenção?

    (29:11) Primeiro, a questão de segurança de forma geral. Você está vendo uma situação, não porque é um estagiário, mas são pessoas que compartilhavam senhas, pelo visto, ou senhas que, dentro de um ambiente, ficavam relativamente expostas, anotadas em algum lugar, etc. Esses dias, eu te mandei uma foto, Guilherme, de um estabelecimento que estava com a senha de acesso a um cadastro literalmente grudada num dos caixas. E não estava virado, eu não tive que me esforçar para ler, porque estava virado meio de lado para quem era atendido, para os clientes.

    (29:51) Eu peguei, tirei uma foto e mandei para o Guilherme: “Olha isso aqui”. Então, ou esse estagiário, mas poderia ser qualquer outra pessoa que não tivesse o acesso, viu essa senha sendo digitada ou viu essa senha anotada em algum lugar. Ou ele mesmo tinha a senha, ou seja, ele tinha o acesso à senha do outro funcionário para realizar o estágio dele, etc. O que eu já vi, o que a gente já viu, mas eu já vi muitas vezes, é senha anotada embaixo de teclado.

    (30:27) Isso eu já vi em banco. Senha anotada, como falei, no caixa de uma empresa. Eu já vi pessoas que saem de férias e deixam suas credenciais para os colegas, para poder fazer alguma coisa. Por exemplo, muito comum, isso eu já vi de várias pessoas com quem eu conversei que trabalham em escritório de advocacia, é o pessoal deixar a carteirinha para acompanhar processos dos outros. E fica lá. Mas não foi esse o caso. Mas pode ter sido um compartilhamento de senha. Pode ser, porque ele tinha essa senha dessa outra pessoa.

    (31:04) Ele estava usando a senha dessa outra pessoa. Indo atrás do problema dentro do TJ, eles encontraram, vou destacar para vocês aqui na notícia, a vantagem de ser quem fala e, ao mesmo tempo, comanda a gravação. Muito bem. Olha só o que eles levantaram aqui: foram suspensas as senhas de 500 estagiários já demitidos, mas que seguiam ativas, segundo o tribunal. Então, aquele toque lá na ISO 27001/27002, tem toda aquela questão de você fazer o desligamento das pessoas. Quando alguém vai sair, etc., no mínimo, suspender a conta, não é nem trocar senha, é suspender a conta mesmo.

    (31:47) Tinha cerca de 500 contas de ex-estagiários ainda ativas no sistema, que você acessa via internet. Então, nós temos um problema aqui de processo, com relação ao desligamento das pessoas. E sem contar que todas as senhas foram trocadas, beleza, que é o que se faz quando se suspeita de um vazamento. Não temos informação nenhuma na matéria sobre a qualidade dessas senhas, que é outro problema que você deve procurar evitar nos seus locais de trabalho.

    (32:31) Aquela coisa: “Ah, vou criar uma conta com uma senha padrão”. Você cria com uma senha padrão, com um formato… Eu, há um tempo atrás, contratei um serviço e eles faziam justamente isso: te entregavam a senha padrão, e a senha padrão era o sobrenome @ os primeiros quatro dígitos do CPF. Isso é ridículo, entende? Você consegue o CPF de qualquer pessoa hoje em dia. Então, sobrenome@CPF, e ninguém troca a senha. Então, fica essa porta de entrada para acesso depois que a pessoa é desligada. E evitar, de toda forma, o compartilhamento de senhas entre funcionários, entre colegas de trabalho.

    (33:39) E é isso que acontece. É um baita prejuízo para a sociedade. Na matéria, vocês vão ver que o pessoal fala bastante que eles foram fazer batidas e, ao chegar lá, estava tudo vazio. Os caras sabiam uma semana antes que ia ter a batida policial, de buscas e apreensão, mandado de prisão, essas coisas. Então, é delicado. Segurança, as coisas mais básicas… Não adianta contratar um monte de ferramenta maluca, maravilhosa, fantástica, se você não cuida das coisas mais básicas.

    (34:18) E alguns desses tribunais têm algumas práticas, porque já foram alvos de DDoS e tal, então eles bloqueiam o acesso de fora do país, por exemplo. Como os advogados conseguem peticionar online nesses sistemas, o cara, a depender da atividade que ele faz, pode estar viajando, pode estar no exterior, ou pode precisar fazer uma viagem para o exterior e continuar trabalhando, em tese. Em alguns casos, você precisa comunicar a viagem. São medidas, aquela história um pouco do teatro da segurança.

    (34:54) E como a gente, ou melhor, como a gente não pensa nas práticas de segurança. Então, claro, não é algo que ocorre só no setor pblico; no setor privado também ocorre, mas a gente tem visto com muita frequência os órgãos públicos com falhas e problemas realmente muito básicos de segurança. Então, esse caso deve acender uma luz para os envolvidos. Certo? Certíssimo. Por último, a gente traz aqui, já que você anunciou lá no início, o que nós chamaríamos de “a morte de um podcast”.

    (35:36) A gente já citou e comentou algumas vezes que ouvia o Foro de Teresina, que é um podcast da Piauí, da revista Piauí. Uma revista que a gente costuma curtir, costumava curtir, agora não sei. Mas, para quem acompanha, na semana passada, a Thaís Bilen gravou o último episódio no qual ela participou. O Foro de Teresina tem três pessoas que participam, na última formação: o Fernando de Barros, o José Roberto de Toledo, ou simplesmente Toledo, e a Thaís Bilenk.

    (36:21) O Fernando de Barros está ali na tela que estou compartilhando. E a Thaís Bilenk foi demitida. As coisas mais internas lá da Piauí, a gente não sabe exatamente o que aconteceu, nem foi divulgado claramente, mas, aparentemente, foi uma coisa sem mais nem menos. A Bilenk foi desligada e gravou, na última participação dela na semana passada, que foi ao ar na sexta-feira, a despedida dela.

    (36:52) E o José Toledo, que é o outro participante, meio que de surpresa, grava na mesma gravação, na sequência, e se demite. E isso foi cortado, uma decisão editorial lá da Piauí. Isso foi cortado e, depois, ele postou o áudio dele sem cortes, o que ele tinha falado, inclusive no canal dele no YouTube. Quem quiser procurar, vai achar. Tem o Twitter dele também. E deu aquele bafafá todo, aquela coisa: “quem foi o editor que era da Veja, que foi para lá e a desligou por isso e tal?”.

    (37:27) E hoje, a gente já sabia que isso ia acontecer, foi anunciado esta semana. Saiu o último episódio. Nem episódio, saiu uma despedida do Fernando de Barros, que foi o que ficou para, entre aspas, “apagar a luz”, embora ele tenha dito que não ia usar esse termo. Mas ele grava 7 minutos explicando que acabou o Foro de Teresina, está encerrando. Por que a gente traz essa notícia aqui? Por que a gente traz isso no Café?

    (38:00) Claro que não é uma notícia de segurança da informação, mas é da “podosfera”. Isso nos toca, nos chama a atenção, porque a gente está gravando podcast desde 2012, Guilherme. É uma mídia que, você já comentou várias vezes, nos dá uma grande liberdade. O podcast nos trouxe uma grande liberdade de poder nos expressarmos e darmos as nossas opiniões.

    (38:33) E, no momento em que a gente vê um podcast encerrado, ainda mais um que a gente curtia — claro, com as nossas críticas aqui e ali, mas que a gente curtia —, e da maneira como ele foi encerrado, nos mostra a importância da, entre aspas, e vou deixar para você explicar isso, “independência” dos podcasts, dessa mídia, digamos assim. Eu acho que foi uma das grandes comoções, pelo que eu me lembro, talvez uma das maiores comoções pelo fim de um podcast. Eu não sei se está vazando aqui, mas o vizinho… nós temos duas obras ocorrendo agora, o meu com som alto e o teu com obra.

    (39:12) Estamos bem, tem duas obras só aqui. Então, eventualmente, pode vazar algum barulho estranho. Mas acho que foi a maior comoção pelo fim de um podcast de que eu me lembro. E, como você falou, eu tinha várias reservas. Até parei de ouvir uma época. A gente teve a saída da, como era o nome daquela jornalista? Malu Gaspar. Eu tinha uma série de reservas contra alguns posicionamentos dela, mas é inegável que, talvez, o Foro de Teresina fosse, arrumando minha cadeira aqui…

    (39:43) fosse o maior podcast, o mais ouvido de política, de maneira geral, de análise política. Ele carregava consigo uma certa tendência que a revista Piauí tem, ou pretensamente tinha. Inclusive, foi criada uma fundação, foi depositado dinheiro na Piauí para que ela não dependesse de publicidade, justamente para trazer para ela uma independência, o que é raro hoje em dia para um veículo de imprensa. Então, isso talvez tenha sido o elemento que deixou os ouvintes decepcionados.

    (40:27) E uma questão interessante é, primeiro, as expectativas que as pessoas nutrem pelos podcasts que elas ouvem e a relação que elas têm com esses podcasts. Porque, se você vê, você tem a revista e tem o podcast da revista. Chega na Piauí um novo editor que veio da Veja. E algumas das hipóteses seriam que… Sei lá, ainda não se sabe ao certo por que ela foi demitida, a Thaís Bilenk, que, inclusive, foi a jornalista responsável por um outro podcast documental sobre Alexandre de Moraes, que foi elogiado por muitas pessoas, uma série investigativa.

    (41:02) Então, talvez essa questão das expectativas que a gente precise começar a olhar mais friamente, me parece. Porque, às vezes, a gente nutre certas expectativas que não estão alinhadas com a realidade. A Piauí é uma revista, ela tem uma série de pessoas, ela, mesmo diante dessa independência, vai ter os seus interesses editoriais e os seus vieses. E eu acho que todo podcast vai ter. Eu não sei se funcionou na Piauí… talvez, eu digo, o término do podcast deles talvez tenha a ver com, eventualmente, alguma posição editorial dela, não sei.

    (41:40) Mas a gente tem que, talvez, deixar de ser ingênuo, às vezes. Porque, veja, nós tivemos um arco de evolução dos podcasts no Brasil e no mundo, que começam de maneira independente. E nós começamos ainda quando o cenário de podcast era, acho que quase todo ele, mantido por grupos pequenos e independentes. Com um ou outro tipo… o pessoal do Jovem Nerd, por exemplo, tinha uma estrutura por trás na época, mas eles eram independentes, não eram vinculados a um órgão de imprensa.

    (42:17) E, depois, os órgãos de imprensa, os grandes órgãos, os canais de TV, os jornais, começaram a se dar conta, talvez nos últimos 5 ou 6 anos, não sei, Vinícius, começaram a se dar conta e a pipocar podcasts desses órgãos. Então, a gente nutre, muitas vezes, uma certa expectativa e uma relação diferente com o podcast do que nós temos com os órgãos escritos. Ou seja, você tem um elemento emocional, talvez, que faça a gente criar certas ligações e conexões mais emocionais com os podcasters. E, talvez, o grande erro da revista…

    (42:58) tenha sido não ver e não notar a importância, porque virou… me parece, eu posso estar errado, mas, se antes era “o podcast da Piauí”, parece que o podcast criou uma vida tão importante que a Piauí passou a ser “a revista do podcast”. E as pessoas se sentiram traídas pelo término abrupto do podcast. E a resposta da revista, que foi dada quase uma semana depois, eu também achei meio… não explicou nada direito, sabe? E as pessoas ficaram mais chateadas ainda.

    (43:41) Então, eu acho que, talvez, a gente tenha que botar os pés no chão e, muitas vezes, eliminar essas expectativas ingênuas que, às vezes, a gente tem com os grandes órgãos. Apesar da Piauí ser um veículo que prima pela independência, como todos os veículos dizem que primam, mas a gente sabe que muitos não primam, bem pelo contrário, você tem linhas editoriais bem marcadas. Acho que uma questão de transparência é dizer: “Olha, nós somos um veículo de direita, nós somos um veículo de esquerda, e tal, essa é a nossa linha”.

    (44:13) Mas acho que não é esse o caso. Acho que não é tão… Não é questão de definir se é de direita ou de esquerda, acho que não é isso, sabe? É deixar claro o porquê das decisões, o porquê das coisas, sabe? Porque não é tão simples. E, mesmo nós aqui, temos a nossa maneira de ver a tecnologia. Por exemplo, quem nos ouve já há algum tempo sabe o que a gente pensa sobre o solucionismo tecnológico. Já sabe qual é o nosso posicionamento.

    (44:51) Já sabe qual é a nossa tendência com relação à exposição de crianças na internet, para pegar um assunto que a gente está falando hoje. Já sabe qual é a nossa tendência com relação ao uso de dados de forma massiva, emprego de IA. Então, já tem uma noção. Quem já nos conhece, sabe mais ou menos a direção que a gente tende a ir. Não que a gente não possa mudar e dar outro posicionamento, mas já sabe mais ou menos para onde vai.

    (45:25) E acho que essa transparência, no sentido de “olha, você entende, você sabe que existe essa tendência, esse encaminhamento”. E uma coisa que me chamou a atenção também, Guilherme, foi o pessoal comentando no Twitter, alguns dizendo: “Ah, peguem vocês três e façam um podcast”. Sair gravando e botando um áudio em qualquer lugar, assim, de supetão, no YouTube, talvez até seja possível. Mas com a qualidade que eles tinham, com edição, com não sei o quê…

    (46:04) com produtores… A quantidade de gente… Eu até fico impressionado que a gente faz o nosso podcast, porque nós temos envolvidos mesmo, diretamente, talvez três pessoas: nós dois e o Mateus. Há um tempo atrás, a Camila, que alguns de vocês até ouviram a voz dela em alguns episódios. Não, e a Camila, na verdade, quatro, porque a Camila ainda faz uma pós-produção de publicação em redes sociais. Então, consegue dar conta. Sim, ela ainda está envolvida no podcast. Então, nós temos quatro pessoas fazendo o podcast.

    (46:40) Eles, cara, têm umas 10. Tem editor, produtor, tem não sei o quê, tem isso, tem aquilo. Então, parar e fazer o que eles fazem, que é um trabalho de apuração e tudo mais, bastante sério, que os três faziam, é um trabalho muito mais pesado do que o que nós fazemos aqui. É um tipo de trabalho que não é de graça. Você не consegue fazer ele com custo zero, não existe custo zero para fazer uma coisa dessa. Então, isso me chamou a atenção, que o pessoal diz: “Ah, não, peguem e gravem”, como se fosse só isso.

    (47:16) Não é assim, galera, não é assim. E é por isso aquela ligação que a gente fez, do apoio ao podcast. E isso é importante para nós, é importante para todos os podcasts que querem ser independentes, nos limites do que uma independência pode ser, e nos limites dos nossos vieses, das nossas limitações pessoais e do que a gente acredita que é melhor para o mundo de maneira geral. Porque é disso que a gente fala aqui. É um podcast em que nós defendemos as nossas opiniões, claro, embasadas em alguns casos.

    (47:54) A gente tem uma visão de como a tecnologia pode ser utilizada para melhorar a vida das pessoas. Esse é o nosso objetivo, de maneira geral. Então, é importante o financiamento. Nós utilizamos um tempo bastante importante nosso aqui para produzir isso que você está assistindo. Antes de apertar o play e gravar, tem um longo período de pesquisa, de discussão, de criação de pauta. Depois que a gente dá o stop aqui na gravação, tem duas frentes, uma para o áudio, outra para o vídeo, tem cortes…

    (48:38) tem a edição, que às vezes é mais demorada, às vezes é mais simples, às vezes não precisa, mas outras vezes a gente precisa discutir se aquilo vai ou não vai, por quê… Então, eu acho que, no fim disso tudo, e apesar de eu ouvir — já ouvi mais, mas nos últimos tempos até não ouvia tanto —, sinto que as pessoas tenham ficado órfãs de um podcast que elas gostavam. Eu sei como isso é importante, eu sei como isso é legal. Eu ouvia direto, toda sexta-feira eu já… Nós gravávamos o nosso, e daí já tinha saído o Foro de Teresina.

    (49:14) E, depois, eu ouvia ao longo da tarde, variando. Pode falar. Não, eu queria comentar que é delicado isso. E, lembrando, você nos ajuda não só diretamente, com a contribuição lá por meio do PicPay, por meio do Apoia.se, etc., mas nos ajuda muito também por meio da divulgação do podcast. Então, de repente, você não quer ou não pode, ou tem outro projeto que acha que vale mais o seu recurso… Pelo menos divulga o Segurança Legal, porque isso já é de grande valia para nós.

    (49:54) Divulgar o nosso trabalho, divulgar o podcast, já é uma contribuição para continuar rolando o Segurança Legal. Porque, o que não falta… eu estava fazendo uma limpa dos meus e-mails de novo esses dias… o que não falta é sugestão de pauta. Pauta paga. Sim, sugestão de pauta paga. Não é sugestão de pauta tipo “quem sabe vocês falem sobre esse assunto aqui?”. Não é isso, sabe? É pauta pronta. Vem a pauta pronta, é só pegar e gravar.

    (50:29) Segurança patrimonial… tem toda semana aqui pra gente falar com o diretor da empresa de segurança patrimonial. Esses dias, aqueles drones de cachorro queriam que a gente falasse dos drones de cachorro para segurança em empresas e tal. Então, surgem várias coisas. E eu tenho visto, tem um podcast que eu acompanho também, que eu gosto de ouvir, não vou citar aqui para não ficar uma crítica ao podcast, cada um toma as decisões que quiser, mas que começou a integrar essas pautas nos seus episódios. E não é tipo “agora, a propaganda da Compre Aqui o Café do Segurança Legal”.

    (51:02) Não, entra a pauta patrocinada. E eles não só falam da empresa — “Ah, que tem a empresa, eles fabricam café, não sei o quê” —, como eles tentam fazer como se fosse um comentário, uma coisa… como se não fosse uma publicidade. É uma publicidade, mas eles deixam bem claro o que é. Mas como se fosse um assunto relevante, entende? “Ah, não, que se você quiser, o café faz muito bem, não sei o quê, inclusive eu vi não sei aonde a notícia, não sei o quê”. Fica um troço chato.

    (51:40) Eu não quero ouvir aquilo ali, entende? É aquele famoso publieditorial, que parece um editorial, mas é uma publicidade. Ah, cara, um troço chato para caramba. Aí tem que ficar lá avançando, sabe? Tac, tac, tac, tac, avançando porque está no meio do episódio. Então, esse tipo de coisa eu acho bem chata também. Eu não estou ameaçando ninguém que nós vamos fazer isso, mas, ao mesmo tempo, não podemos mentir que a contribuição é importante para nós. Claro que sim, mas é claro que sim.

    (52:09) E essas pautas, por que a gente não faz desse jeito? O que, às vezes, a gente tentou negociar com eventuais anunciantes ou quem está propondo pauta, pedindo para a gente entrevistar essa ou aquela pessoa, é que a gente tem dois critérios. Um: a gente не traz concorrente da nossa empresa, óbvio, por razões óbvias. É a BrownPipe que faz esse podcast funcionar, que mantém o podcast. E, segundo, que a gente deixa claro: “Olha, a gente pode fazer, mas a gente faz o episódio com a pauta e já de cara diz: ‘Este é um episódio patrocinado por…'”.

    (52:44) E, beleza, a pessoa sabe que vai ouvir a propaganda. Mas o pessoal não quer, o pessoal pula fora, não quer. Querem que a gente meta a coisa no meio do conteúdo. Enfim, já chega o YouTube e o Spotify fazendo isso, meio contra a nossa vontade. E outra coisa, Vinícius: é engraçado, ao longo do tempo, nós fomos perdendo views.

    (53:22) Eu atribuo isso ao fato também de um aumento no mercado de podcasts. Quando a gente começou, praticamente não existiam podcasts. Hoje, você tem podcasts sendo criados toda semana, e podcasts muito grandes. Ou seja, a atenção das pessoas é limitada. Você não consegue ficar ouvindo podcasts 24 horas por dia. Então, você acaba acompanhando algumas coisas, outras não consegue. Vai havendo uma diluição e, consequentemente, a atenção vai se perdendo. Eu atribuo a isso.

    (54:04) Posso estar errado, pode ser que o nosso conteúdo tenha piorado e as pessoas tenham ido embora. Pode acontecer, não afasto essa ideia. O que eu percebi não foi redução, o que eu percebi foi que a curva de crescimento ficou mais suave. O podcast vai crescendo, mas vai crescendo mais devagar do que já cresceu, sabe? Então, eu acho que a curva… Mas sabe que tem alguns heróis, para a gente já ir encerrando? Tem um podcast que eu considero meu herói.

    (54:47) É o Xadrez Verbal, porque esses caras gravam 4, 5, 6 horas de podcast, e eu ouço eles. Então, realmente, eles com certeza tomam um tempo considerável de outros possíveis podcasts que eu ouviria. O último episódio, depois que eles ficaram sem gravar uma semana quando estourou a guerra, deu umas 6 ou 7 horas. 7 horas e pouco, eu acho. Mas eu recomendo, viu? Se você gosta de política externa e do que está acontecendo no mundo, olha, acho que é um dos melhores.

    (55:29) Tenho medo de dizer isso porque não tenho escutado outros, mas se alguém achar que tem melhor, me indique, por gentileza. É um dos melhores. Então, o Xadrez Verbal… os caras conseguem fazer uma coisa que, para fazer ouvir 7 horas de podcast, tem que… Para finalizar, eu diria assim: cuide com carinho dos podcasts que você gosta. Se você gosta do Segurança Legal, provavelmente está nos ouvindo aqui, cuide com carinho do Segurança Legal, mas não somente dele.

    (56:00) Apoie a mídia independente. Eu acho que nós estamos num momento tão crítico da história da esfera pública, de como a ideia de esfera pública se modificou, da dificuldade de transitar num mar de desinformação, na dificuldade de se virar diante de tantos vieses, de tantos interesses escusos, escondidos… que eu acho que é o momento, é meio que uma luta.

    (56:38) Uma luta que nós insistimos em continuar falando o que a gente acha que é bom para melhorar, com a maior independência possível, com as nossas discordâncias e com uma tentativa sempre muito sincera de ser independente na medida do possível, repito. Mas, então, cuide dos podcasts que você gosta. Eu acho que essa é a mensagem final aqui. Sei lá. Como é um café, a gente tem o café quente e o café frio, ligeirinho. Mas eu gostaria… antes da gente fazer isso… Café? Não, acho que eu vou… já sei o que vou fazer. Vamos para o café frio e o café expresso.

    (57:14) Vamos lá. Para quem vai o café frio? Vou dar o meu café expresso para os Beatles, que lançaram nesta semana a última música produzida e gravada pelos quatro Beatles, que é, de longe, a minha banda preferida. Eles tinham lá uma gravação de 95, “Now and Then” é o nome da música. E, na época, eles não conseguiam separar o áudio porque era uma fitinha do John Lennon tocando piano. Não conseguiam separar o áudio que já estava mixado, da música com o piano. Agora, com as tecnologias atuais de Inteligência Artificial…

    (57:52) eles conseguiram extrair a voz em qualidade top. Enfim, eu sei que não estava aqui no podcast, é meio fora, Vinícius, mas eu me dou o direito de falar, quase como uma dica cultural. Enfim, escute lá a música, está em todas as plataformas. E não deixa de ser uma questão ligada à tecnologia. Foi possível juntar isso por meio da tecnologia. Claro, os últimos vivos, o Ringo e o Paul, gravaram a bateria, o baixo, piano e vocais também. E o frio? Então, o frio vai para a Piauí, para o editor, o novo editor que decidiu ou que, por meio da sua, não sei se, trapalhada, implodiu um podcast amado por muitas pessoas, dá para se dizer, aqui no Brasil.

    (58:33) O meu frio, vou repetir o seu. Então, vão dois cafés frios. O expresso, eu vou ter que gastar mais de um. Vou mandar o expresso para o pessoal, para o Fernando de Barros, para a Thaís Bilenk e para o Toledo, que não nos ouvem, com certeza, mas só para ficar o registro aqui, pelo trabalho deles. Eu sou um que gostava, eu ouvia. Eu fiquei sentido, fiquei órfão do podcast deles.

    (59:14) Eu gostava bastante. Assim como a gente faz companhia para vários ouvintes nossos, eles faziam companhia para mim. E era isso, cara. Eu espero ver esses três, os dois que saíram mais o Fernando de Barros, em um novo projeto que se viabilize no futuro. Gostaria de continuar ouvindo eles. Também acho. Então, ficaremos por aqui, pessoal, até pelo tempo. Mas a gente vai colocar logo depois os “10 Anos”. Não se esqueçam, continuem com a gente aqui para ouvir um episódio passado.

    (59:50) dos 10 anos, no nosso pequeno quadro aqui “10 Anos de Segurança Legal”. E nos encontraremos no próximo episódio do podcast Segurança Legal. Até a próxima. Até a próxima.

     

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    Segurança LegalBy Guilherme Goulart e Vinícius Serafim

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