Hoje em dia pra mim é difícil falar de América Latina, sem sequer lembrar de Eduardo Galeano, e tudo que ele me contou sobre a tragédia e a beleza desse continente.
Em 1971, o escritor lançou veias abertas da América Latina, um livro, que na época foi proibido em diversos países, como por exemplo, Brasil, que já se encontrava sob um regime ditatorial, Uruguai, e Chile, que não demorariam para também sofrer com golpes militares e ditaduras. Sintomático.
Em veias abertas, de forma didática, o autor conta, país por país, como a exploração de colônias europeias, foi um dos alicerces do capitalismo, desde a época do surgimento dos primeiros bancos, e continuou até os dias modernos, onde além dos europeus, nossas tragédias tem dedos do imperialismo norte-americano.
Acontece que a linguagem usada em veias abertas é séria demais. Não que isso seja ruim, mas em outros livros, a linguagem é muito mais livre.
Em o Livro dos abraços, Galeano fala essencialmente sobre as mesmas coisas que em Veias abertas, porém contando essa história a partir de quem a vive e sofre suas consequências. Usando relatos pelos quais os livros de história passam por cima, para contar a história geral, a partir de histórias individuais. Construindo sutilmente, uma identidade latino-americana, a partir dessas histórias, culturas e sentimentos que convergem em tantos pontos, no continente todo.
A partir desse ponto em comum, Galeano, mistura sem medo, poesias, contos, relatos pessoais, entre outras coisas, conduzindo o leitor de um lugar ao outro, sem que se perceba. E em meio a todas essas histórias traz reflexões sobre temas, como a expressão humana, em todas as suas formas, pessoas, arte, e a importância de tudo isso.
Livro dos abraços é a cara do Galeano, e tudo que ele viveu. No segundo episódio do trecho grifado, eu explico como a vida do autor transparece nessa obra tão bonita, que mudou a minha cabeça a respeito de poesia e América Latina.