Pablo Henrique Hubner de Lanna Costa
Entrou a maçonaria em mim para que eu possa entrar na maçonaria?
Introdução
O presente trabalho tem por objetivo abordar as três primeiras lições do Ap M, constantes do Ritual do Grande Oriente de Minas Gerais. Antes de adentrar no mérito das instruções, imprescindível ressaltar um elemento-chave da maçonaria, um verdadeiro método de ensino que, somado a muitos outros, permitiu com que a Nobre Arte pudesse sobreviver ao longo decurso do tempo, a simbologia:
Usando a simbologia, a Maçonaria conseguiu comunicar suas ideias por meio de uma linguagem única e universal. Uma vez formulada com símbolos, uma ideia pode ser transmitida sem deturpação. Isso garante uma continuidade da tradição. […] Os símbolos maçônicos evocam emoções que não podem ser transmitidas apenas pela linguagem. Eles também têm um papel alegórico e vêm à tona em itens do cotidiano, de cédulas de dinheiro a joias, passando por fachadas de edifícios.
Feita essa breve digressão, passa-se ao estudo das instruções.
Instrução 01 – Os instrumentos de trabalho do aprendiz
Três instrumentos básicos da construção são entregues ao Ap M, a fim de que possa iniciar sua vida maçônica e a incessante busca pelo aperfeiçoamento pessoal. Apesar de simples, tais instrumentos possuem profunda relevância, e os conhecimentos adquiridos na sua utilização serão eternamente carregados pelo obreiro.
a) Régua de 24 polegadas – Corresponde à sabedoria do Ven M, que deve medir e planejar a condução dos trabalhos. Tal conhecimento é obtido pela observação da medida obtida ao utilizar a régua. Somente após conhecermos as dimensões de um objeto podemos apreciar seu valor e conhecer sua utilidade, sem isso permanece o obreiro na ignorância. Nenhum outro instrumento pode ser empregado na ausência da régua de 24 polegadas ou dos produtos de suas funções, as medidas.
b) Maço – Representa a força do 1º Vig, que deve transmitir a energia recebida do Venerável Mestre. Simboliza o método/instrumento mais basilar de utilização da força, seja ela física, moral, mental ou espiritual (o homem primitivo já utilizava um artefato similar e com objetivos similares). É o poder de mover a matéria, porém, a força muscular utilizada no manejo do instrumento, com o desenvolvimento da alma, torna o maço servo do obreiro, que sujeita as energias em seu favor, a seu domínio.
c) Cinzel – Transmite a beleza do 2º Vig, criando linhas, molduras e embelezando o edifício. É o ponto de contato com a matéria do mundo externo. Para bem funcionar, o cinzel deve possuir uma ponta cortante e resistente, a fim de bem admitir a força recebida do maço. O fio resistente do cinzel representa os bons sentimentos, a retidão, a honestidade do obreiro, que conduzirá este instrumento para um bom caminho. Além disso, deve o obreiro, quando se transcende a concepção do cinzel para uma vertente filosófica, resistir às dificuldades da vida, suportar os duros golpes da realidade, sem permitir com que seu caminho seja desviado dos preceitos maçônicos.
Em suma, os três instrumentos representam o corpo, os sentimentos e a mente. Conjuntamente, os instrumentos permitem que o ser humano planeje, execute e direcione seus esforços ao objetivo inicialmente traçado. Ao dominar estes três instrumentos o aprendiz se livra de suas paixões, permite com que a mente e a consciência sejam seus guias, abrindo as portas para a construção e realização de belas obras.
Instrução 02 – As três grandes forças da consciência humana
Ao transcender as funções da régua de 24 polegadas, maço e cinzel, para a dimensão das características humanas, temos sabedoria, força e beleza respectivamente. Essas são colunas sagradas do templo maçônico, a oficina que comporta o universo, na qual os obreiros buscam o constante aperfeiçoamento, desenvolvimento pessoal e propagação de bons princípios e energias, em sintonia com o Grande Arquiteto do Universo.
Instrução 03 – Os elementos da loja maçônica
I – Colunas a) Sabedoria – A sabedoria nos orienta no caminho da vida. Coluna representada pelo VenM. Representa também o Rei Salomão, em sua sabedoria de construir, completar e dedicar o Templo de Jerusalém a serviço de Deus. b) Força – Nos anima e sustenta nas dificuldades. Coluna representada pelo 1º Vig. Representa também Hiran, o Rei de Tiro, pela força que deu aos trabalhos do tempo, fornecendo homens e materiais. c) Beleza – Adorna nossas ações, caráter e espírito. Coluna representada pelo 2º Vig. Representa também Hiran Abiff, pelo seu primoroso trabalho, dando beleza sem igual ao Templo de Salomão.
II – Ornamentos a) Pavimento Mosaico – Demonstram que apesar das diversidades, dos antagonismos existentes em todas coisas da natureza, tudo reside em perfeita harmonia. A partir dessa percepção, devemos desviar o olhar das diversidades de cores e raças, religiões e princípios que regem os mais diversos povos e culturas, pois a humanidade foi criada para viver em harmonia.
b) Estrela Flamejante – É a principal luz da loja, simboliza o sol, a Glória do Criador, exemplificando um dos grandes deveres do maçom, a caridade, pois o Sol espalha luz e calor em tudo e todos que atinge. O Sol ensina a praticar o bem, até onde nossa caridade possa alcançar.
c) Orla Denteada – Representa o princípio da atração universal, o amor, os planetas que gravitam ao redor do Sol, os maçons reunidos em loja, aprendendo para espalhar e multiplicar os bons preceitos na sociedade.
III – Paramentos a) Livro da Lei – Representa o código moral que cada um de nós respeita e segue, a filosofia que cada um de nós adota. b) Compasso – É o emblema da justiça, que deve medir todos os atos do homem, indica exatidão. Representa a necessária moderação de nossos desejos, compreensão e conhecimento da Verdade, estabelecendo sinceras e perfeitas relações seja na vida maçônica ou profana. c) Esquadro – É símbolo de retidão, equidade, justiça, qualidades que todo homem deve se esforçar para realizar em todos aspectos da vida . Para o maçom tais significados se ampliam, formando o compasso verdadeiro emblema da perfeição, afastando o nosso lado passional e permitindo com que a retidão seja o guia de nosso juízo.
IV – Jóias IV.i – Móveis – São chamadas de móveis, pois transferidas com a passagem da administração. a) Esquadro – Elemento já abordado no tópico dos Paramentos. b) Nível – Serve para traçar linhas paralelas ao horizonte. Representa a concepção de que todos homens são iguais pelas leis naturais e sociais. A essa igualdade estão sujeitos todos os maçons, desde o aprendiz até os degraus mais elevados da escada de Jacó.
c) Prumo – Instrumento utilizado para comprovar que um objeto está colocado ou não perpendicularmente ao horizonte. Para a Maçonaria significa a atração e a retidão que deve resplandecer em todos os juízos do Maçom7 . IV.ii – Fixas – São chamadas de fixas, pois permanecem imóveis na Loja, como um código moral, aberto à compreensão de todos os maçons. a) Prancheta – Com ela o Maçom desenha e traça, com ela o Mestre guia os aprendizes ao trabalho que nela indicado, a fim de que possam se aperfeiçoar e progredir os degraus da vida maçônica . b) Pedra Bruta – Nela os Aprendizes trabalham, cortando-a, desbastando-a, até que seja considerada polida para o Mestre da loja. É o material bruto, recolhido da natureza e, a partir de um árduo e constante trabalho possa tomar a devida forma e entrar na construção do edifício. c) Pedra Cúbica –É o material perfeitamente trabalhado, com ângulos retos, servindo o esquadro e o compasso mostrar se a pedra foi talhada de acordo com as exigências maçônicas. Representa o saber do homem ao fim da vida.
Considerações finais
Feitos esses breves apontamentos, resta evidente o fato de que o Ap M, a fim de que possa progredir na vida maçônica, deve ter sua base filosófica, simbólica, bíblica e principiológica muito bem fundamentada, a fim de que seus próximos passos tenham congruência e permitam com que os conhecimentos de cada grau possam ser adequadamente absorvidos. Na ausência de uma base sólida, especialmente quanto à simbologia maçônica, corre o Ap M o risco de se perder e cometer o terrível erro de observar a ritualística como algo desconexo, ausente de sentido. Tal fato não pode ser admitido e a sustentação da maçonaria passa, necessariamente, pela compreensão da origem e razão de ser dos símbolos, rituais, gestos, palavras, etc. Firmes nestes propósitos residem os verdadeiros Maçons.
Bibliografia
ADOUM, Jorge. Grau do Aprendiz e seus mistérios. São Paulo: Biblioteca Maçônica Pensamento, 2019.
CAMINO, Rizzardo da. Ritualística Maçônica. São Paulo: Editora Madras, 2022.
GRANDE ORIENTE DE MINAS GERAIS. Ritual de Instruções para o Aprendiz Maçom – Rito Escocês Antigo e Aceito. Belo Horizonte: VBR Artes Gráficas, 2022.
LOMAS, Robert. O poder secreto dos símbolos maçônicos. São Paulo: Editora Madras, 2018.
PEREIRA, Edil Eduardo. Grau 1 da Maçonaria – Aprendiz Maçom. São Paulo: Editora Madras, 2018.