RELEMBRANDO O NAUFRAGIO DO "IMPERIAL MARINHEIRO", De OSCAR GONÇALVES.
Jornal "A Voz do Mar - 1939.
A
Marinha de Guerra Brasileira acaba de perder um de seus mais ilustres
Almirantes e a patria um de seus dignos filhos, com o falecimento, ha
pouco ocorrido nesta Capital, do Almirante Francisco de Matos.
O
desaparecimento desse grande marinheiro, trouxe-nos á lembrança o
naufragio do cruzador "Imperial Marinheiro", no ano de 1887, de cuja
guarnição S. Ex. fizera parte como 2o. Tenente, tendo sido salvo, como
quasi toda a guarnição do navio sinistrado, por um pescador, que se
chamou em vida Bernardo José dos Santos.
Foi
na madrugada de 7 de Setembro daquele ano, no logar conhecido por
Comboios, perto. da Povoação da Regencia, na Barra do Rio Doce, no
Estado do Espirito Santo, pelas duas horas da madrugada, que encalhára
em um baixio perto da praia, o "Imperial Marinheiro", saído dias antes
do Rio de Janeiro, em viagem de instrução.
Ao amanhecer daquele
dia, depois de uma luta titanica de seis horas, foi debalde toda
tentativa empregada para safá-lo, não só pela perigosa posição em que
ficára, fazendo muita agua, como pela impetuosidade do mar, encapelado
pelo vento forte que soprava de S. 0., pelo que, considerada a gravidade
da situação sem possibilidade de nenhum socorro, foi para, a guarnição,
já exausta e sucumbida pela desgraça acontecida, uma grande emoção,
quando perdidas eram as esperanças, de
salvamento, vêr um homem
abnegadamente atirar-se ao mar, da praia não mui distante, e nadar em
direção ao navio que submergia lentamente.
Era o pescador Bernardo.
A
3 de Junho de 1914 morreu miseravelmente assassinado por um bandido,
cuja amante buscou a sua residencia para fugir das mãos sedentas de
sangue do seu algoz.
E nunca mais falou-se no herói, que tragicamente
desapareceu por um capricho do destino, sem ter, como merecia, um fim
digno de um justo.
E' bem verdade que alguns escritores regionais,
têm feito na imprensa capichaba veementes apelos ao governo estadual
para se venerar annemoria do seu grande filho, pois que no Estado que o
glorifique; nem mesmo uma simples placa de uma rua qualquer, existe com o
seu nome; e no entanto, Bernardo salvou a vida de mais de uma centena
de homens,
que foram mais tarde uteis á patria.
Um projeto
chegou mesmo a ser pensado para ser apresentado ao Congresso Legislativo
do Estado em 1937, afim de ser erigido um monumento em memoria do
heroico pescador. E assim vai o tempo passando, sem um protesto á
ingratidão dos homens, esquecendo aquele que em vida soube honrar a
digna classe dos homens do mar.
A Liga Naval Brasileira,
empenhada em glorificar os brasileiros que se destacaram pelas suas
façanhas, deve tirar do olvido o pescador Bernardo, promovendo uma
homenagem á sua memoria, em honra áquele que côm o risco da propria
vida, salvou de uma morte certa, um punhado de valorosos marinheiros.