#118 – Não: a leitura não pode ser mais vista como um hábito elitista. Houve um tempo em que a interpretação de texto, da mensagem, do diálogo, era uma arte tão consumada e habitual que sequer possuía nome. As convulsões da democracia hoje comprovam que saber ler – um livro, o mundo –, não é capricho, mas necessidade. Não há sociedade nem autonomia sem a leitura.
Mas além disso, a ciência comprova o que leitores já intuem há séculos: os livros são um bálsamo. O hábito de mergulhar em uma ficção gera benefícios para a nossa saúde mental e física, combate a depressão, nos ajuda a elaborar nossas angústias e desenvolve nossa empatia. Amplia nosso repertório e expande nossa compreensão do mundo.
Embalados pelo enredo, pela voz do texto ou pelas experiências de um personagem, partimos em uma viagem da qual dificilmente saímos intactos. Sentados no sofá ou num banco de praça, vivemos outros destinos. De golpe, estamos em Marte. Na Inglaterra vitoriana. Voamos, submergimos. Afeto e cognição se fazem um só e todo sentido.
Nas últimas décadas, a sistematização da leitura para o bem-estar ganhou uma prática específica, chamada de biblioterapia. Neste episódio do Prelo, investigamos como a literatura é capaz de nos proporcionar modos mais saudáveis de existência. Isso, é claro, sem perder a sua função primordial, a de ser uma prática intrinsecamente inútil em seu sentido mais profundamente subversivo.
Referências
“The Novel Cure: An A-Z of Literary Remedies”, de Ella Berthoud e Susan Elderkin
“When Literature Comes to Our Aid”, de Kelda Green
Entrevistas sobre hábitos de leitura em 1976:
https://www.instagram.com/reel/DGbQx-SxrAV/?igsh=NXFidGV6aWIwdmE2
A biblioteca de Michel de Montaigne:
https://www.bvh.univ-tours.fr//MONLOE/3D/montaigne_01/librairie.html
Produção e edição de áudio: Fábio Corrêa