Sou pequeno para as minhas emoções,
imenso de reflexões,
elas não cabem em mim,
contorço-me ao tentar acomodá-las,
sufoco-me tentando acalmá-las
e me esgoto na tentativa deixar explicado
o que elas não entendem,
meu comportamento metrado
naturalmente irracionais,
não me deixam em paz;
como podem compreender,
alguém que não sabe viver?
Estou acostumado com o vazio,
o vazio não tem vez,
não tem vontade,
solidez,
não é impaciente,
não quer que eu me reinvente,
quando lhe viro as costas,
não exige respostas,
sequer me inquieta com perguntas;
o vazio nem se dá o trabalho de existir,
extenuação a qual não se pode dirigir,
é a ausência de emoção,
como o frio é a ausência de calor,
o desprezo inexistência de amor
Durante muito tempo não me senti gélido,
pesadelo fantástico,
sensação de andar pelado no Ártico,
a gelidão nunca poderia me atingir,
afinal eu já era uma ausência de calor;
dilacerado por uma insensível dor
vivi um transe,
na inércia de sentimentos,
indolente criatura,
minha figura,
um seraco;
nesse amontoado caótico,
com meus sentimentos, despótico
resfriei-me de razão
e não temi a solidão;
inaparente egro,
todo o sofrimento caía no buraco negro,
no vazio dentro de mim,
eu não tinha limite,
não tinha fim
Estava morto no interno
e vivo por fora,
era o mesmo na primavera ou no inverno
achava-me inabalável,
invencível,
mal sabia
que se tratava do longo efeito duma anestesia
hipnotizado no engano,
ano após ano,
sofria sem sentir
Dessa época não tenho saudade,
pois tristeza e felicidade,
andam sempre de mãos dadas,
no peito, ambas guardadas,
verdade que ninguém gosta,
a vida é uma aposta,
tristeza negada,
é felicidade renunciada
Sou urso polar em Copacabana
pertenço ao frio,
estirado no vazio,
é onde aprendi a viver
mas a esse lugar,
longe das ondas do mar,
nunca mais quero volver
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