Esse é o relato de Solange, filha separada por imposição do Estado, sob alegação da propagação da Hanseniase de seus que seus pais contrairam. Bom dia Eni , me chamo Solange, sou de Citrolandia.
Desde o início acompanho a saga dos filhos separados.
Vejo sempre os relatos tristes dos filhos, sobre o que passaram.
Mas eu queria complementar, pois as sequelas da separação dos nossos pais, ainda está bem latente.
E sou uma prova disso, nunca consegui tirar as marcas, principalmente no emocional e psicológico, que refletiram na criação dos.meus filhos, causando problemas de baixa estima, depressão.
Eu não fiquei muito tempo no preventório, porque a esposa do meu Tio, irmão da minha mãe, me buscou para cuidar.
A partir desse momento, começa mais uma fase de rejeição, mais tratos. Até que ela me abandonou na porta de casa dos meus avós maternos, que não tinham nenhuma condição financeira, vivíamos em extrema pobreza, dormindo no chão, indo para a mata buscar ramos que poderiam servir de alimento.
Desamparada emocionalmente, nunca conheci o que significava afeto.
Nesse tempo, fui abusada sexualmente aos 5 anos.
Quando acabou a segregação e meus pais me buscaram, começa a segunda etapa de sofrimento.
Minha mãe não conseguia ter amor, afeto, ficou distante, um sentimento de novamente rejeição.
Isso continuou por anos a fio, nunca tive um abraço bem minha mãe.
Ela tinha problema de nervo, depressão, etc.
Aos 12 anos tive novamente uma tentativa de estrupo.
Desde então, cai numa depressão, tentativas de suicídio, a relação com minha mãe ainda era distante e meu pai tentava suprir a afetividade que não tinha pela.minhq mãe.
Isso causou ciúmes na minha mãe, e as situações eram difíceis.
Sem falar na rejeição na.escola, não lugares que ia, não podia dizer onde morava. Vivia me escondendo.
Casei mas tive dificuldade em demonstrar afetividade, sempre distante. O meu passado falava mais forte. A depressão aumentava cada vez mais.
Quando tive meus filhos, pensei que seria diferente. Mas a dificuldade de demonstrar carinho, contato físico, como abraçar, etc.
Hoje eles estão adultos mas não temos muitos contato físicos.
Emfim, o meu passado ainda faz parte do meu presente, ainda fazendo com que eu sinta na pele,as consequências de não ter sido criada, educada, amada pelos meus pais.
Fiz um resumo , porque ficaria extenso demais.
Eu sou a marca viva dessa crueldade.