Raspar com as unhas numa superfície áspera, como uma borracha ou uma pedra não polida. Só a ideia me dá arrepios. E, se arrepios a pedido fosse tão admirável como o choro, tinha uma carreira na representação.
Mas não é isso que me traz aqui hoje. Venho falar na série de livros Arrepios, ou Goosebumps no original. Aquilo é terror para crianças. Parece um contra-senso. Não se deve assustar as criancinhas. Tanto trabalho que pais em todo o mundo têm para apaziguar os filhos, convencende-os que os barulhos que ouvem de noite não passam de sexo escaldante dos vizinhos de cima.
É a introdução dos mais pequenos a temas que só deviam conhecer ao chegarem à idade de fumarem o seu primeiro cigarro. Estes livros são os charutos de chocolate da literatura.
O precedente aberto pelos Arrepios pode ser levado mais longe. Um IRS dos pequeninos. Uma aplicação para Android e IOS que simula o preenchimento dos formulários, mas de uma perspectiva infantil e divertida. Tem a vantagem de pôr os miúdos calados nas horas da refeição e ao mesmo tempo até pode ensinar o alfabeto, nomeando os anexos de palavras que a canalha conhece. Anexo A, de avião - rendimentos de trabalho dependente e de pensões. Anexo B, de balão - rendimentos do trabalho independente. Anexo J de Jazigo, para rendimentos no estrangeiro. E por aí fora. Já estou a imaginar a lengalenga na minha cabeça.
Há imensos temas que podem ser introduzidos mais cedo na vida dos pequenitos que irão facilitar o seu crescimento e impactar positivamente a sua vida adulta.
Um que me passa assim de repente pela cabeça: a morte de familiares. É um conceito simples de introduzir cedo. Naqueles packs de brinquedos de praia, que vem com um ancinho, balde e formas, adiciona-se um mini caixão. Os putos põem lá a foto do avô, enterram-no na areia e já ficam com uma ideia do que vai eventualmente acontecer.