Esta sessão glosa a canção ‘Utopia’, de Zeca Afonso (do álbum Como se fora seu filho, de 1983) à luz dos escritos do teórico inglês Mark Fisher sobre a temporalidade desconcertada da música e da sua recusa em desistir do futuro perante o seu aparente bloqueio. Tenta dar a ouvir as contradições da ressaca do processo revolucionário no início dos anos 1980 em Portugal e os ecos que ainda hoje nos chegam. Em 1983, o futuro da revolução era passado. Mais passado é agora. Que temporalidade é a da ‘Utopia’ de Zeca Afonso, quarenta anos depois? Que futuro ainda se ouvem nos amanhãs perdidos, nas promessas incumpridas, de então? Pode ainda a ‘Utopia’ soar e ressoar no presente, conter futuros nas entrelinhas da sua repetição ritual na forma da comemoração de “Abril?”
Miguel Cardoso é tradutor e poeta. Tem poemas, ensaios e outros textos publicados em diversas antologias e periódicos. Concebeu este episódio do Fito e Feito no contexto de uma sessão da Conferência Kismif (Porto, 2022) com o título “MARK FISHER & MUSIC: A COLLECTIVE LISTENING SESSION”, com Simon Reynolds, Ana Bigotte Vieira, David Wilkinson, Felipe Felizardo, Matthew Worley, Miguel Cardoso, Paula Guerra e Pedro Quintela.
Música
Utopia”, Zeca Afonso, Como se fora seu filho (1983)
Trechos breves de (por ordem de audição)
“Fireworks, Siouxsie and the Banshees – um single de 1982
“Grândola, Vila Morena”, Zeca Afonso, Cantigas do Maio (1971)
“Canção da Jorna”, Casal do Leste, Guardador de Ódios (2013)
Casal do Leste – Guardador de Ódios (2013, File) - Discogs
Banda sonora do filme Bom Povo Português, de Rui Simões (1981) (especificamente a partir de 4’30’’)
“Papuça”, Zeca Afonso, Como se fora seu filho (1983)
“Nature Boy”, John Coltrane, New Wave in Jazz (1965)
Estúdio PontoZurca Estúdio
Música original do podcast Dito e Feito Raw Forest
Edição sonora do podcast Dito e Feito Pedro Macedo / Framed Films