Por Joseph Schrijvers.
É notável que Jesus, possuindo a liberdade mais perfeita, foi o mais obediente dos homens. Foi obediente desde o primeiro instante em que foi decretada sua Encarnação no conselho divino. Como dito na carta aos Hebreus, quando veio ao mundo ele disse: "Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade". Ele foi obediente até o último instante de sua vida terrestre.
Ele foi e será obediente até o último dia de sua vida eucarística.
Esta obediência de Jesus nada tem de acidental. É uma coisa desejada, premeditada, resolvida nos conselhos divinos. Não é uma coisa exterior, acessória. Antes, essa obediência penetra nele e é assimilada em sua substância, como o alimento é assimilado pelo corpo. "Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou".
Ele obedeceu ao seu divino Pai, para lhe ser agradável. Obedeceu à sua mãe e ao seu pai adotivo, aos seus inimigos, aos seus juízes, e algozes. E é bom notar que ele via neles o próprio Pai. Em todos, ele respeitava a autoridade do Pai.
Jesus obedece tanto nas coisas agradáveis quanto nas desagradáveis. Tanto na aceitação das homenagens e no amor que lhe testemunham, quanto nas injúrias, nos tormentos a que se sujeita, na morte que lhe infligem.
Esse mesmo Jesus quer continuar essa vida de perfeita obediência, agora dentro de tua alma. Tu és como que um prolongamento dele mesmo. Permite que ele liberte a tua alma, com uma obediência perfeita, da escravidão do inferno.
Que a tua obediência seja perfeita em seu objeto. Sujeita-te a todas as ordens, a todos os conselhos, a todas as preferências dos teus superiores legítimos, quaisquer que sejam a sua idade, caráter, conhecimento, prudência ou procedência. Aceita com amor a vontade divina expressa nos acontecimentos independentes de tua vontade. Aceita também, com o mesmo amor, a vontade divina que se insinua no caráter, no temperamento, nos defeitos ou qualidades de todos aqueles que estão em contato contigo.
Que a tua obediência seja perfeita também em sua causa. Não examines nem a qualidade, nem a intenção da pessoa autorizada, nem a conformidade da ordem recebida com o teu gosto, com tuas inclinações pessoais, nem as vantagens ou desvantagens que a obediência poderia acarretar para o teu amor-próprio. Em todas as coisas, vejas apenas a Deus. Pois ele é sempre a causa primeira que transmite seus desejos, os quais são sempre bons em si mesmos, sempre conformes à sua glória e favoráveis à tua perfeição, através das causas segundas, amigas ou inimigas, conscientes ou inconscientes.
Que a tua obediência seja, enfim, perfeita também na sua execução. Entra imediatamente na intenção da pessoa autorizada, na vontade dela. Coloca o teu coração na tua obediência, para aceitar de boa vontade a ordem recebida.
Associa-te em união com Jesus obediente, a fim de que ele possa ainda, através de ti, praticar a obediência no seu corpo místico, como ele a pratica na sua vida eucarística, como a praticou na sua vida mortal.
É evidente, qualquer um pode ver, que obedecer assim por amor a Jesus é ser inteiramente dele, é ser possuído por ele. E nisto consiste a perfeição.
Ó Jesus, eu quero vos permitir continuar em mim a vossa vida de obediência. Vosso jugo é suave e vosso fardo é leve. Dai-me um caráter constantemente doce e humilde, sempre brando, sempre dócil. Sempre pronto a auxiliar, a inclinar-se às exigências e aos desejos dos outros.