"Mais um ano se passou, e nem sequer ouvi falar seu nome..." era o que dizia a canção no rádio - recordei-me de você. Há muito sobraram apenas vestígios do amor que sentimos um dia. Numa era digital, onde parece impossível se esconder, decidimos nunca mais termos contato, foi assim, com uma sentença de morte, que nosso amor chegou ao fim. Matamos nosso amor de morte matada!
Tínhamos poucos amigos em comum, mas, mesmo eles, sempre respeitaram a lei do silêncio. Todos sabiam (sabem e jamais esquecerão) que não conseguiria lidar com a pronúncia do seu nome em voz alta. Ainda hoje, mesmo sozinho, temo dizê-lo.
Meu trajeto para o trabalho continua o mesmo, passo todos os dias em frente ao seu antigo apartamento. É sempre o mesmo ritual. Espicho o olhar para sua janela, na esperança de enxergar qualquer vulto do nosso passado. Imagino o portão se abrindo e simulo como seria o ataque cardíaco ao revê-la.
Algumas (muitas) vezes, recordo do dia que nos encontramos no cruzamento, na esquina da sua casa. Você atravessava a rua apressada, atrasada como sempre, vestia uma calça branca, um casaco de meia estação, mangas ¾, com listras em vários tons de cinza, sobre uma blusa preta, básica, de alcinha, desacelerei e disse – “Não há beleza no mundo que me encante mais do que a sua”.
Acredito que amores nascem como estrelas. Somos gases e poeira soltos por aí, dispersos, quando a gravidade nos atrai, fundimos nossos átomos e logo emanamos calor, ganhamos vida própria. As estrelas (e os amores) nascem, mais ou menos, num mesmo padrão, a diferença é como elas(es) morrem.
A morte de uma estrela é fundamental para a continuação do ciclo da vida no universo, as explosões cataclísmicas causadas, espalham pelo cosmos elementos fundamentais para o surgimento de novos planetas, estrelas e amores. Gosto de pensar que esse foi o objetivo da morte do nosso amor, espalhar pelo mundo matéria prima para o nascimento de novos amores. Já que o nosso, depois de muito expandir, contraiu-se, tornando-se uma anã branca, expulsando suas camadas externas, mantendo, no centro apenas o cadáver do que um dia foi um astro luminoso.
Nosso amor está nas folhas das árvores, na seiva dos troncos, na firmeza das raízes. Paira sobre os campos, nutre a vida, verdeja horizontes, azuleja os céus. É ar que se respira. É pão que alimenta. É vento que espalha sementes. São flores, pássaros, insetos, flora e fauna. É vida que finda e ressurge. É ciclo infinito.
Vejo, por aí, casais rindo o nosso riso. Beijando os nossos beijos. Jurando as nossas juras. Amando o nosso amor. Herdeiros de um amor nascido nos berçários estelares e morto no egoísmo humano.